O Carimbo Parte Um

Tadeu Tapioca só precisava de um carimbo.

Não um carimbo desses que a gente manda fazer e sai carimbando nos papéis.

Tadeu Tapioca precisava de um carimbo em um documento e, este carimbo, era fornecido por uma instituição pública.

E lá foi Tadeu até a repartição que, deixarei a cargo do leitor imaginar qual foi, até porque, essa história poderia ter acontecido em qualquer uma delas, inclusive nesta que você pensou.

Voltando ao causo, Tadeu Tapioca se dirigiu até a referida instituição pública, pegou uma fila na qual entrou barbeado e saiu com as barbas brancas e, quando chegou sua vez, foi informado que necessitava agendar aquele tipo de atendimento.

- Ok, então já que “enfrentei” toda esta fila e não serei atendido hoje, vamos agendar.

O funcionário, que parecia ter tomado o café da manhã com limão e vinagre, tamanha era sua cara feia, mal humor e má vontade, informou que esse tipo de agendamento deveria ser feito por telefone.

Tadeu Tapioca então, de posse de seu avançadíssimo celular, ligou para o referido número com a intenção de fazer o tal agendamento.

Foi quando percebeu que não tinha créditos para concluir a ligação.

Foi até a esquina, fez a recarga e voltou a tentar telefonar.

Após algo em torno de duas horas aguardando, finalmente Tadeu Tapioca conseguiu ser ouvido.

É, porém, mas, todavia, a pessoa do outro lado da linha aparentemente tinha tomado café da manhã com o funcionário da repartição que havia lhe passado o número do telefone pois, a impaciência e o mal humor eram ainda maiores. Mas, com mal humor ou sem mal humor, a criatura pediu que Tadeu aguardasse pois não dispunha da informação.

Tapioca esperou mais vinte minutos na linha apenas para ser informado que, segundo a portaria número 8.563.268-9 do regimento interno da repartição, este agendamento só poderia ser realizado presencialmente.

- Mas o cara aqui acabou de me dizer que não faz o agendamento presencial – tentou argumentar Tadeu Tapioca, antes da ligação cair.

Tadeu voltou ao setor da repartição onde, procurou o rapaz que lhe passou a informação. Este, parecendo que tinha lanchado alho com tiririca, estava ainda mais mal-humorado e, informou a Tapioca que, a informação que tinham passado no telefone estava incorreta pois, a portaria número 8.563.268-9 do regimento interno havia sido substituída pela portaria 8.563.268-0 que revogava a anterior.

Então pediu para Tadeu aguardar que ele iria verificar como proceder. E saiu resmungando algo sobre “aqueles imbecis preguiçosos da central telefônica que não serviam para nada”.

Tadeu Tapioca esperou mais quinze minutos até o funcionário voltar.

- Senhor, a portaria número 8.563.269-1 do regimento interno foi publicada hoje no Diário Oficial e preconiza que, esse tipo de agendamento agora é feito pelo site – e deu um endereço eletrônico ao pobre Tadeu Tapioca.

Tadeu sentou-se e, sem lá muita habilidade, tentou efetuar o tal agendamento pelo site que lhe fora fornecido.

O diabo era que o site não abria de jeito nenhum.

O funcionário que parecia agora ter descoberto que seu almoço era jiló com purgante, ainda mais mal-humorado, informou que se o site caiu, Tapioca deveria se informar no setor de informática da repartição.

E lá se vai Tadeu até este bendito setor.

Aproximou-se do balcão e, quando abriu a boca para dar um bom-dia, foi interrompido pelo atendente:

- Informações serão dadas mediante fila, senhor.

E lá foi o Tapioca para o final da fila.

Aguardou mais trinta e cinco minutos na fila até chegar sua vez e, quando sua vez chegou, teve a impressão que todos os pobres funcionários compartilhavam do mesmo café da manhã e do mesmo almoço pois, a cara feia e o mal humor eram os mesmos.

O atendente solicitou que Tadeu aguardasse pois, ele precisaria verificar com o suporte técnico o que estava acontecendo.

Mais vinte minutos se passaram e, quando o cidadão retornou, informou que o site tinha caído e a previsão de retorno era para dali a setenta e duas horas.

Frustrado e sem ter muito o que fazer, Tadeu Tapioca foi para casa.

Ainda dentro do ônibus, o pobre rapaz, movido por aquela teimosia brava de guerreiro que todo brasileiro tem, resolveu acessar mais uma vez o site e, incrível, o danado estava funcionando.

Tadeu então, passou a preencher um extenso questionário, entre uma queda e outra da conexão da internet.

Quando terminou de responder a todas as questões foi informado que, finalmente o agendamento estava liberado... para dali a seis meses!

Tapioca, desesperado, entrou no chat do site e, após dez minutos de aguardo e cinco de conversa, foi orientado a voltar à repartição e retirar uma “chave de emergência” para um agendamento extra.

E lá foi Tapioca de volta à repartição onde, já se encontrava outro funcionário informando que, por não saber do que se tratava, só poderia atender Tadeu quando chegasse a sua vez na fila.

Após quarenta e dois minutos na fila, treze aguardando o funcionário, que parecia compartilhar das marmitas e mal humor dos demais, buscar a informação que Tapioca precisava e mais doze minutos conversando com o gerente da repartição, Tadeu finalmente conseguiu a chave.

Voltou a acessar o site, que caiu duas vezes durante o processo, conversou com três atendentes diferentes no chat, forneceu cinco vezes a chave, que insistia em dar erro e, afinal, conseguiu agendar para dali a dois dias o bendito atendimento para conseguir o tão necessário carimbo.

Então, depois de amanhã, espero vocês aqui para contar se Tadeu Tapioca conseguiu o tão sofrido carimbo e, se realmente todos os funcionários compartilham da mesma alimentação.