Nivaldo Novinho tem dezoito anos.
Curriculo debaixo do braço, saiu para uma entrevista de emprego.
Juventino Juventude tem vinte e cinco anos.
Curriculo debaixo do braço, saiu para a mesma entrevista de emprego.
Carlos Coroa tem quarenta anos e, curriculo embaixo do braço, se dirigiu a mesmíssima entrevista de emprego.
Inácio Idoso tem sessenta anos e, assim como os outros personagens, estava precisando da mesma vaga de emprego.
E lá estavam os quatro, cheios de esperança e expectativa, cada um a sua maneira, a desejar aquela única vaga.
Havia um quinto elemento também mas, deste muito pouco sei.
Nivaldo Novinho foi o primeiro a ser chamado.
Um entrevistador com cara azeda e carrancuda leu o seu não tão farto curriculo, o olhou por cima do óculos e, finalmente decretou:
- Lhe falta experiencia.
Nivaldo argumentou que, para ter experiencia, precisava começar a trabalhar mas, foi em vão.
Logo em seguida, foi a vez de Juventino Juventude.
O homem da cara azeda, repetiu o mesmo procedimento e, por fim, falou:
- Lhe falta experiencia.
Juventino argumentou que, o fato de só ter trabalhado em uma única empresa por toda sua não muito longa vida, não significava que não possuía experiencia mas, foi em vão.
Como você já deve ter imaginado, Carlos Coroa foi o próximo.
O homem carrancudo, repetiu o processo e por fim falou:
- Você tem experiencias demais.
Carlos argumentou que, o fato de ter trabalhado em muitas empresas ao longo da vida não significava que não tinha responsabilidades em seus trabalhos e que, o excesso de experiencia não poderia ser um empecilho. Argumentou em vão.
Ai foi a vez de Inácio Idoso que, apesar do nome, apresentava ótima forma física e excelente saúde, segundo constava em seu atestado medico, previa e sabiamente anexado ao seu curriculo, que diferente dos outros candidatos, comprovava suas experiencias bem sucedidas tanto em empresas onde passou longos períodos quanto em empregos onde ficou por pouco tempo. Diversas cartas de referência altamente elogiosas e a informação de salário a combinar, fechavam seu curriculo incontestável.
O homem azedo e carrancudo cocou o queixo, ponderou por alguns segundos e, finalmente se pronunciou, após um longo suspiro:
- Seu curriculo e muito bom mas, sua vida útil na empresa é muito curta.
Inácio, já acostumado com aquele tipo de frase, nem tentou argumentar pois, sabia que seria em vão e uma completa perda de tempo.
Do lado de fora, bebendo cafezinhos, única coisa que conseguiriam tirar daquela empresa, os quatro comentavam sobre os absurdos e dificuldades para ser aprovado em uma entrevista de emprego neste pais.
Um era muito jovem, o outro tinha trabalhado em empresas de menos, o outro em empresas demais e o outro, tinha sido decretado em final de vida por alguém que sequer lhe conhece.
Foi quando, saindo da sala, chupando um pirulito, surgiu o quinto entrevistado daquele dia.
Um rapaz trajando uma calca jeans rasgada nos joelhos, uma camisa surrada com um personagem de anime estampado e o cabelo pintado de azul.
- E ai? – perguntou Carlos – Te reprovaram por qual motivo?
- Na verdade, eu fui admitido e já começo amanhã – respondeu o rapaz, despreocupado.
- Mas como assim, aprovado? O que tinha de especial em seu curriculo?
- Ele disse que, como somos do mesmo signo, eu assisto o mesmo anime que ele e meu pai é padrinho do dono da empresa, a vaga era minha. Mas ele pediu que eu não contasse a ninguém, viu? O coitadinho tem medo de perder o emprego dele e, não sei se vocês sabem mas, as empresas andam muito exigentes para contratar funcionários...
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