quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A Barata



Cheguei do trabalho morrendo de cansaço. 
Tomei banho, vesti o pijama, liguei o ventilador, apaguei a luz e deitei para um merecido e reparador sono.  
Rua silenciosa, quarto escuro, temperatura agradável e sono para dar, vender e até emprestar. 
Até suspirei de satisfação, antes de fechar os olhos. 
Foi justamente neste momento, que o pesadelo começou. 
Em meio ao silêncio gostoso da noite, um ruído desagradável se fez ouvir:
Crecht, crecht, crecht...
Apurei os ouvidos para identificar o que seria a causa daquele ruído, torcendo para não ser o que eu achava que era mas, o ruído cessou. 
Devo ter cochilado alguns minutos porém, fui despertado com o mesmo ruído a incomodar:
Crecht, crecht, crecht...
Abri os olhos e esperei. 
Silêncio. 
Fechei os olhos. 
Crecht, crecht, crecht...
O ruído voltou. 
Não havia mais dúvidas: tinha uma barata passeando pelo quarto. 
Estava tão cansado e com tanto sono que, confesso, se não fosse um hábito irritante deste tipo de animal cair por cima de quem está dormindo, eu até que não me incomodaria de, naquela noite, dividir o quarto com ela. Mas, o maldito barulho também incomodava. 
Peguei o celular, liguei sua lanterna e, ainda deitado, vasculhei as paredes do quarto em vão: nem sinal da maldita barata. 
Crecht, crecht, crecht...
Contrariado, levantei da cama, acendi a luz e procurei a barata pelos cantos do quarto. 
Crecht, crecht, crecht...
O barulho parecia vir na direção de umas sacolas plásticas depositadas em um canto do quarto. 
Meio grogue de sono, peguei uma sandália e o inseticida e, pacientemente, olhei por entre as sacolas. 
Nada. 
Apaguei a luz e tornei a deitar. 
Crecht, crecht, crecht...
Resolvi me cobrir da cabeça aos pés e ignorar aquela moradora clandestina de minha residência. 
Crecht, crecht, crecht...
Não dava para ignorar. 
Eu imaginei que, se tornasse a acender a luz, ela tornaria a se esconder. 
Então, ainda no escuro, desliguei o ventilador e sentei na cama. 
Liguei a lanterna do celular, virada para a cama, e aguardei o barulho com a intenção de surpreender a barata, matá-la e poder dormir em paz. 
Devo ter ficado quase uma hora cochilando sentado e, nenhum ruído ouvi. 
- Devo ter sonhado – pensei – o cansaço prega peças. 
Tornei a ligar o ventilador e deitei. 
Pois assim que tornei a deitar, o maldito barulho voltou. 
Crecht, crecht, crecht...
Levantei furioso e, com a lanterna do celular, vasculhei todo o quarto. 
Em vão novamente. 
Tornei a deitar e o ruído tornou a surgir. 
Crecht, crecht, crecht...
Nessa toada, já eram duas e meia da manhã e ainda não tinha conseguido dormir direito. 
 Crecht, crecht, crecht...
Levantei e acendi a luz. 
Tornei a vasculhar as sacolas até que, de repente, um pensamento me ocorreu. Me posicionei ao lado do ventilador e observei seu movimento. 
Ele girou para a direita e silêncio. Girou para a esquerda e, quando o vento passou pelas sacolas e as balançou, o ruído surgiu:
Crecht, crecht, crecht...
Ri de minha própria estupidez! Não tinha nenhuma barata, afinal. 
O ruído irritante nada mais era que o som do vento do ventilador balançando o plástico das sacolas. 
Retirei as sacolas do lugar e as coloquei embaixo da cama. 
- Pela manhã vejo onde guardo. 
Apaguei a luz e tornei a deitar. 
Sorri satisfeito com o final feliz dessa história. 
Foi quando, repentinamente, o ruído tornou a surgir:
Crecht, crecht, crecht...
Abri os olhos, assustado. 
Levantei e acendi a luz. Nenhuma barata nem nas paredes, nem no chão, nem embaixo da cama... Olhei até no frigobar. 
Passei a noite ouvindo aquele “crecht, crecht, crecht” que surgia e parava. 
Dormi muito mal e, pela manhã, resolvi mais uma vez vasculhar o quarto. 
Após novamente não encontrar nada que justificasse aquele ruído, fui recolocar as sacolas que estavam embaixo da cama, no seu lugar de origem. Quando já pensava em decidir se chamava uma dedetizadora, uma mãe de santo ou um exorcista, o ruído voltou:
Crecht, crecht, crecht...
Vinha das sacolas e o ventilador estava desligado. 
Resolvi então, ao invés de olhar entre as sacolas, verificar seu conteúdo. 
E lá estava, dentro de uma delas, a causadora de minha noite perdida. 
Marquei consulta com um psicólogo pois, juro que antes de matá-la, pude ver a barata rindo de mim.

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