Fátima Dolorosa é uma pessoa que leva a saúde a sério.
A sério até demais.
Certa vez Fátima Dolorosa viu uma matéria na tv sobre uma doença rara chamada acromegalia. Ela não prestou atenção na matéria e nem fazia ideia do que era isso mas, por via das dúvidas procurou o Doutor Rolando Rolim para se tratar.
Outra época soube que estavam existindo muitos casos de paralisia infantil mas, nos ouvidos e na cabeça de Fátima Dolorosa só existiu a palavra “paralisia”.
No dia seguinte lá estava Dolorosa no escritório de Rolando a procura de tratamento.
Fátima Dolorosa teve uma dor de barriga e, imediatamente, procurou tratamento para um possível câncer no estômago.
Quando teve dor de cabeça, reuniu a família para se despedir pois, tinha certeza que estava com um grave tumor no cérebro.
- Vamos ao cinema Fátima? – pergunta alguém.
- Não posso. Tenho um compromisso urgente.
- Que compromisso é esse?
- Vou marcar um médico.
- Nossa! O que você está sentindo?
- Nada. Mas vou lá para ver se descubro algum problema.
Quando enfim aceitou assistir um filme na telona, saiu de lá desesperada direto para um oftalmologista porque, tinha certeza que estava com um grave problema na visão.
Quando não estava sentindo nada e nem via nenhuma notícia na TV, ia bem cedinho para a regulação ver qual vaga encontrava.
- Essa fila é para marcar o que?
- Cardiologista.
- Vou marcar para mim. Lembrei que estou tendo palpitações.
- E essa outra fila é para que?
- Para ortopedista.
- Você notou que cheguei aqui mancando? Preciso marcar também...
Para Fátima Dolorosa, diversão é fila de marcação.
Lá ela conversava, trocava receitas culinárias, aprendeu a fazer tricô, se informava das notícias e, o mais importante: ficava sabendo de todas as vagas que surgiam.
Fátima Dolorosa já se consultou com oftalmologista, ortopedista, dentista, angiologista, dermatologista, hematologista e qualquer outro ista que você imaginar.
Já fez raio-x, endoscopia, tomografia, ultrassonografia e todas as fias que já existiram.
Tudo em nome da saúde.
Embora todo tipo de procedimento indicasse que tinha uma ótima saúde, Fátima Dolorosa só se conformava quando saia do consultório com algumas receitas na mão.
Quando um médico se atrevia a dizer que ela não necessitava de medicamentos, era devidamente desqualificado e excluído da sua lista de consultas.
Alguns dizem que vários médicos não prescreviam receitas justamente para se ver livre da presença sempre constante de Fátima Dolorosa.
A mulher era presença tão constante que se tornara conhecida e íntima dos funcionários das regulações, clínicas e laboratórios de toda a cidade.
- Bom dia, dona Fátima! Estava preocupada... dois dias sem aparecer...
Assunto bom para Fátima Dolorosa era médico.
- Será que chove amanhã?
- Tomara que não porque amanhã tenho que marcar um médico.
- Dona Fátima Dolorosa, soube que a senhora conseguiu alugar a casa.
- Aluguei sim. Amanhã tenho até que marcar um oftalmo.
- Houve um acidente de carro na esquina!
- Será que alguém se machucou? Tenho até que marcar um ortopedista amanhã.
Mas problema mesmo aconteceu quando o doutor Rafael Ranzinza a atendeu.
Médico famoso por ser rabugento e não gostar de perder tempo, Ranzinza informou que Fátima Dolorosa tinha ótima saúde, não precisava de exames ou medicamentos e deveria se ocupar com outras coisas mais saudáveis que procurar médicos.
Fátima Dolorosa ficou furiosa e iniciou uma discussão com Rafael Ranzinza.
Em meio ao bate-boca, o médico soltou um frio diagnóstico:
- A senhora é uma hipocondríaca!
Fátima parou de discutir, franziu a sobrancelha, respirou fundo e falou:
- Não sei o que é hipocondríaco mas, tenha certeza que amanhã mesmo vou procurar outro médico para resolver isso! Mas, por enquanto, o senhor pode me passar algum remédio e exames para ver se está grave?
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