sábado, 15 de outubro de 2022

Dona Tumitinha



Admito que não conheço Dona Tumitinha e que minha opinião sobre ela é completamente preconceituosa e infundada. 
Mas eu nunca gostei de Dona Tumitinha. 
Só tive até hoje uma única informação sobre ela e isso, somente isso, é um motivo mais que suficiente para não estimar essa senhora. 
Imagino, pela pouca informação que tenho que se trate de uma pessoa amarga, azeda e desiludida com a vida e suas desventuras e paixões. 
Como já estou na fase da coroice e conheço sua história desde a infância, constato que se trata de uma pessoa com a idade avançada. 
Deve ser uma daquelas velhas que se recusam a devolver a bola das crianças, quando cai em seu quintal, se é que ainda existem crianças que trocam os jogos eletrônicos pela boa e velha diversão na rua. Também, com tanta violência, nem tiro elas da razão. 
Mas, voltando a Dona Tumitinha, eu só consigo enxerga-la como uma velhinha que passa os seus dias futricando sobre a vida alheia e resmungando como tudo era melhor em seu tempo de mocidade. 
Deve reclamar do barulho na rua e do som vindo da casa do vizinho. 
Pelo pouco que ouvi sobre ela, deve importunar a todos com suas queixas de dores e reclamações sobre absolutamente tudo. 
 Dona Tumitinha é uma velha solteirona, pelo que sei. 
Deve gastar toda a aposentadoria com remédios ou guardar tudo embaixo do colchão. 
Se tiver algum parente, deve ser inoportuna para ela qualquer visita ou contato. 
Acho que tenho até um pouco de dó da pobre Dona Tumitinha. 
Imagino Dona Tumitinha pechinchando no supermercado. 
- Quanto deu essas compras? – perguntaria ela. 
- Cento e vinte reais, senhora. 
- Não estou perguntando o preço do mercado todo. São só as minhas compras. 
Ou na farmácia:
- Quanto eu pago por esse remédio?
- Oitenta reais. 
- E o plano funerário?
- Não entendi, senhora...
- É porque acho que sai mais barato contratar um plano funerário que pagar esse absurdo em um simples medicamento. 
Não deve ser muito diferente, por exemplo, no açougue:
- Quanto tá o quilo dessa carne aqui?
- Quarenta e oito reais. 
- Eu perguntei o preço do quilo e não da arrouba...
Enfim, apesar de não conhecer Dona Tumitinha, tenho uma péssima impressão dela. 
Aí vocês devem estar se perguntando o porque de tanta antipatia por uma pessoa que nunca vi e que só conheço através de uma frase antiga. 
Eu explico, com todo prazer. 
Acho que qualquer pessoa que tenha tão pouco amor ao ponto dele acabar por nada, não pode de forma alguma ser uma boa pessoa. 
E, segundo eu ouvi, foi exatamente o que aconteceu com a velha amargurada. 
A coisa foi tão marcante que virou até cantiga infantil. 
Qual cantiga? Ora, tenho certeza que você conhece a famosa Ciranda Cirandinha. 
E é justamente nessa musiquinha que descobri como Dona Tumitinha me passou esta péssima impressão. Citarei aqui o trecho onde isso é contado:
“ O anel que tu me deste, era vidro e se quebrou, o amor de Tumitinha era pouco e se acabou...”
Agora analisem e me digam: estou errado em não gostar dessa velha senhora que traumatizou minha infância?
Deus me livre do tão pouco amor de Dona Tumitinha...

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