quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A Placa


A obra era simples: reformar a única praça da cidade.
Mas o prefeito Tobias Tracupaia tinha mania de grandeza e, jamais poderia permitir que tal obra fosse sequer iniciada sem as dignas e necessárias pompas que merecia. Principalmente por ser um ano tão importante para o seu mandato: o da reeleição. E, sem dúvidas, a praça era a peça chave para isso.
Já em janeiro, Tobias Tracupaia recebeu os recursos do Governo Federal e, incluiu aí a confecção de uma placa em bronze contendo a data de inauguração da praça reformada e, em destaque, o nome do prefeito que estava entregando aquela “obra de necessidade, importância e valor inestimáveis para a cidade": ele próprio.
Os recursos chegaram mas, a bendita placa não foi inclusa.
Tracupaia então, entrou com uma solicitação junto aos vereadores.
Fato este que causou uma verdadeira batalha dentro da Câmara: a oposição, liderada pelo vereador Ezequiel Travoso, acusava o prefeito de estar “solicitando de forma unilateral e absurda”, recursos retirados do suor da pobre gente pagadora de impostos”, uma quantia para um adereço que apenas serviria como “um símbolo a vaidade” do Prefeito, além de ser usada de forma eleitoreira para “alavancar as futuras pretensões políticas” do mesmo.
Já os apoiadores do Prefeito, capitaneados pelo Presidente da Câmara, o vereador Vicentinho Alcatrão, acusava a oposição de “se colocar entre os interesses da sofrida população” que usufruiria da obra e, portanto, merecia além de uma placa que “embelezaria ainda mais a maravilhosa obra em questão”, ter o direito de mostrar para as futuras gerações, uma placa mostrando e relembrando “o magnífico autor de tão bela benfeitoria” afinal, todo artista precisa assinar sua obra.
Esse debate se arrastou por quatro meses, com direito a sessões extraordinárias (pagas pelo povo), réplicas, tréplicas, ameaças de agressão, denúncias de superfaturamento, pedidos de impeachment, delações premiadas e até trocas de socos entre a vereadora Marcinha Valentina e Mônica Tapa-Certo, assessora de Ezequiel Travoso.
Após todo este debate, o pedido finalmente foi para votação.
A votação foi adiada por, pelo menos, sete vezes após muitos bate-bocas entre situação e oposição, invasões de apoiadores contra e a favor da liberação dos recursos para a placa e várias sessões extraordinárias, também pagas pelos impostos da população.
O processo de votação, que durou mais cinco meses, deu parecer favorável ao grupo do Prefeito e, o valor necessário para a confecção da placa deveria ser liberado. Mas, não foi.
Através de uma solicitação judicial popular, aberta e solicitada por Tatinha Barraqueira, outra assessora de Travoso, o caso foi parar na justiça.
Após várias sessões, inclusive extras pagas você já sabe por quem, dignas do Supremo Tribunal Federal, a comarca judicial do município julgou que “o pedido é improcedente e fere a autonomia da distinta Câmara de Vereadores Municipal”, além de se mostrar “uma manobra puramente eleitoreira” para desestabilizar o poder executivo local.
Houve confusão, quebra-quebra e a polícia teve que intervir.
Três pessoas foram presas: Manolo Canacerta, por estar dormindo bêbado nas cadeiras do tribunal; Carlos Problema por ter gritado que “queria saber quanto o safado do Prefeito pagou a cada magistrado por esta decisão" e, Patricia Parideira que surgiu durante a confusão dizendo que sua oitava gravidez tinha como responsável Justino Corretino, o juiz que presidia aquela tumultuada sessão.
Por mais quatro meses, a guerra de liminares impediu que os recursos para a placa fossem liberados, chegando assim, ao mês de dezembro.
A praça já havia sido inaugurada, Tobias Tracupaia já havia sido derrotado na eleição por Chico Parrudo e a placa ainda não havia ficado pronta.
Em janeiro, Chico Parrudo assumiu como Prefeito e, em seu primeiro ato, anunciou uma nova reforma na praça, solicitando também à Câmara dos Vereadores a mudança no nome do responsável pela nova reinauguração na placa que ainda estava sendo confeccionada.
Em julho será julgada a última liminar, bem como o pedido de impeachment do Prefeito Chico Parrudo, solicitado em ação popular pelo vereador Vicentinho Alcatrão.

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