Cinco criaturas se viram frente a frente com o Deus dos animais, para que este decidisse se iriam ou não entrar no céu.
- Rato – começou a Divindade – você foi acusado de importunar os homens. O que tem a dizer em sua defesa?
- Confesso que os importunava mas, se assim o fiz foi por sentir fome.
O Bem-te-vi, pousado num galho próximo, então cantou:
- Bem que eu vi!
O rato, envergonhado então confessou:
- Na verdade, os importunava porque via eles dando carinho e morada ao gato e ao cão e, com ciúmes, roía tudo que via pela frente só para chamar a atenção.
O Deus dos animais ponderou e decidiu:
- Justos foram seus motivos. Pode entrar no céu.
Virando-se para o gato, a Divindade sentenciou:
- Gato, você foi acusado de falsidade contra os humanos que o acolheram. O que tem a dizer em sua defesa?
- Confesso que fui falso mas, se assim o fiz foi porque é de minha natureza.
O Bem-te-vi então, mais uma vez cantou:
- Bem que eu vi!
O gato, chateado então desabafou:
- Na verdade, fui falso com os homens porque a mim sempre atribuíram o azar e deram como tarefa caçar ratos sujos e transmissores de doenças. Assim, como compensação, retirava da vida vagabunda meu justo salário.
O Deus dos animais pensou e decidiu:
- Seus motivos, apesar de egoístas, são justos. Pode entrar no céu.
Voltando-se para o cachorro, a Divindade falou:
- Você a quem chamam de cão, foi acusado de perseguir os gatos e fazer desordem dentro das casas dos humanos. O que alega em sua defesa?
-:Admito que fiz o que me acusam mas, fiz por pura inocência.
Então, de lá do seu cantinho, o Bem-te-vi, cantarolou:
- Bem que eu vi!
Resignado, o cachorro então falou:
- Na verdade, perseguia os gatos por não achar certo eles serem mimados sem nada fazer e eu, que era o melhor amigo e guardião da casa, dormia do lado de fora e comia sobras. E, para não parecer que o problema era só com os gatos, sempre que podia, fazia bagunça na casa dos humanos para assim ser notado.
O Deus dos animais refletiu e decidiu:
- Sua causa é justa. Pode entrar no céu.
Voltando-se para o macaco, a Divindade então, perguntou:
- Você que se chama macaco, foi acusado de gritar e fazer gestos obscenos para os homens. O que traz em sua defesa?
- Admito que fazia o que me acusas mas, assim agia para divertir os homens.
O Bem-te-vi, de onde estava empoleirado, sussurrou:
- Bem que eu vi!
O macaco então, enraivado gritou:
Na verdade, assim o fazia porque era aprisionado e tratado como palhaço por aqueles que deveriam ser meus primos. Gritava e fazia gestos obscenos como única forma de protestar contra tão humilhante tratamento.
O Deus dos animais, analisou e sentenciou:
- Vejo sua causa como justa. Pode entrar no céu.
A Divindade então, virando-se para o Bem-te-vi, decretou:
- Você, a quem chamam de Bem-te-vi, de nada foi acusado mas, sua sentença será voltar para a Terra.
O Bem-te-vi, sem entender, ponderou:
- Mas, se de nada fui acusado, porque não entrarei no céu? Deixe-me adivinhar: porque, graças a mim, todos estes animais que estavam em julgamento acabaram por dizer a verdade e, em consequência disso, voltarei a Terra para continuar minha missão de ser os olhos e os ouvidos do Senhor. Acertei?
Após a ponderação do Bem-te-vi, a Divindade, no auge de sua sabedoria, respondeu:
- Não, emplumada criatura. Você vai voltar para a Terra porque em lugar nenhum, nem mesmo no céu, um caguete igual a você é bem-vindo.
E assim, mesmo falando pouco, o Bem-te-vi foi punido por falar demais...
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