quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Conversa de Ônibus


A conversa fluía bem no coletivo.
Ela falava alto e em bom tom e eu respondia em tom baixo, afinal, gosto de ser discreto.
Ela parecia não se importar em compartilhar sua vida com todos que se encontravam no coletivo. Já eu, tímido como sou, procurava responder de forma que o mínimo possível de pessoas, pudessem me ouvir.
- O pior você ainda não sabe – gritou ela.
- Me conte então – respondi.
- Aquele salafrário me traiu com minha prima!
- Meu Deus – estranhei – A própria prima? Que absurdo!
- Mas eu não deixei por menos, não.
- E você fez o que?
- Fui lá na porta dele e fiz o maior barraco. Esculhambei ele na frente da mãe e da vizinhança toda!
- Tadinha da mãe dele. Que vergonha – lamentei.
- Depois fui na casa daquela ordinária e enchi de tapas.
- Não gosto de violência, mas não tiro sua razão.
- E acredita que a família ficou toda contra mim?
- Inacreditável – respondi chateado.
- Mas, mudando de assunto: você viu que a polícia foi na casa do ex-marido de Cidinha?
- Sério? Não creio...
- Você sabe o motivo, né?
- Nem imagino.
- Não lembra que eles dois tem um filho, o Jujubinha?
- E tem? Não sabia...
- Pois o sem-vergonha não estava pagando a pensão da criança!
- Não acredito! 
- Pois Cidinha prestou uma queixa contra aquele ordinário e, a polícia bateu lá na porta dele.
- Bem feito! Como é que pode não bancar o próprio filho?
- Se bem que aquele menino não parece em nada com ele, né?
- Nunca vi o menino...
- Você acha parecido? Eu não acho!
- Realmente não sei...
- Menina, como anda o Valtinho? Nunca mais eu vi aquele sujeito...
- Ah, ele vai bem.
- Sabe que na minha adolescência eu era doida para namorar com ele?
- Sério? – Respondi, mais uma vez surpreso.
- Mas sempre achei ele meio gay, sabe?
- Pensando bem – respondi pensativo – Nunca vi ele com namorada mesmo.
- Que meu marido nem sonhe com isso, porque o bichinho é bem ciumento.
- E olhe que você nem é bonita – falei com sinceridade.
- Bom – respondeu como se não tivesse me ouvido – o papo está ótimo, mas preciso descer do ônibus. Até mais.
- Até – respondi com tristeza – a conversa estava ótima mesmo.
Olhei para o lado e vi minha esposa me olhando com ar de reprovação.
- Um dia você vai apanhar na rua por causa desta mania de ficar ouvindo a conversa dos outros e responder como se falassem com você – reclamou, enquanto eu olhava a mulher desligar o celular e descer na estação.

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