Tenho uma coleção de amigos excêntricos e peculiares.
Mas, o mais interessante de se comentar é sem sombra de dúvidas, Zé Nervosinho. Pense em um sujeito estourado e que fala tudo que vem na cabeça, sem freio ou papas na língua, e você terá o Zé Nervosinho.
Consta que, um dia, ele resolveu fazer um churrasco em sua residência e chamou os amigos, entre eles, este que vos escreve. Como convidado, pude presenciar algumas cenas bem interessantes protagonizadas por meu amigo da língua solta.
Começou quando, ele que era obcecado por churrasqueiras, tomou seu lugar em frente às brasas avermelhadas onde colocamos as carnes.
Eu, por já o conhecer há muito tempo, já sabia que o cidadão sempre preferiu assar sua carne sozinho e sem muita conversa em seu ouvido.
Saiu a primeira rodada de carne e, uma das convidadas, meio tirada a chique, comentou:
- Acho que essa carne ficaria melhor com um pouco mais de sal.
Na segunda rodada, outro comentário:
- Acho que ficou um pouco passada demais.
Prontamente, aproximei minha cadeira da mesa da criatura e apurei os ouvidos, já sabendo o que viria a seguir, afinal, eu estava ali para me divertir.
Veio a terceira rodada e, a dondoca resolveu continuar reclamando:
- Não tem uma cerveja mais gelada, não? Essa está meio “quente”...
Foi aí que, para minha satisfação, Zé Nervosinho resolveu responder:
- Engraçado que eu não me lembro de ter te visto se oferecer para ficar na churrasqueira, nem trazer carne ou cerveja e muito menos ter sequer levantado para colocar a bebida para gelar. Então sugira que você ocupe sua boca com a carne e pare de falar.
Sabe aquela situação onde sua única defesa é se retirar? Pois é, a dondoca levantou acampamento e foi embora da festa na mesma hora.
Entre uma rodada e outra de carne sendo servida, Zé Nervosinho parava para interagir com os convidados e, aproveitava para colocar o papo em dia.
Uma destas conversas, como não poderia deixar de ser, foi sobre futebol.
Tinha um desses torcedores chatos e fanáticos que, o tempo todo se vangloriava do fato de seu filho, uma criança de colo, torcer para o mesmo time que ele.
Óbvio que alguém iria argumentar que, uma criança daquela idade não teria discernimento para saber sequer o que era futebol, quanto mais torcer para algum time.
Mas o fanático insistia e, para defender seu ponto de vista, soltou a seguinte pérola:
- Quando meu filho vê a camisa do nosso time, ele beija o escudo. Quando vê a camisa do rival, ele cospe no escudo! Isso é ou não é já ser um torcedor?
Nisso, Zé Nervosinho responde:
- Mas isso ele faz não é por ser torcedor! Faz porque é mal-educado! Se seu filho tivesse um pingo de educação, não cuspia na camisa dos outros.
E quanto mais o churrasco se prolongava, mais a língua solta do cidadão causava estragos.
Por um momento, ele sentou em uma cadeira junto a minha e começamos a conversar. Nisso chegou um cidadão que, sinceramente, não faço ideia de quem era, colocou seu celular caríssimo e, de última geração, na mesa e começou a contar as funcionalidades do aparelho.
- Este celular foi muito caro mas, vejam bem, o armazenamento interno é gigante, ele é rápido, resiste a água, resiste a queda, tem isso, tem aquilo, bla bla bla...
Eu já estava entediado e, por puro costume, tirei meu celular simples do bolso para olhar as horas. O chato, quando viu meu aparelho, resolveu perguntar:
- E esse seu? Faz o que de diferente?
Foi aí que entrou toda a delicadeza de Zé Nervosinho:
- O celular do cara faz ligação porque ele tem crédito! O seu celular chique tem crédito? Faça uma ligação para mim aí, para ver se você tem crédito!
Tamanha foi a surpresa que, o chato ficou sem reação.
- Gasta o dinheiro todo comprando o celular e não guarda para fazer recarga – comentou Zé, já se levantando da mesa.
Confesso que, neste momento, não consegui me conter e soltei uma sonora gargalhada.
O chato, meio sem graça, guardou o celular no bolso e não disse nem mais uma palavra durante toda a festa.
Eu, por minha vez, não julgo se Zé é nervoso, mal-educado ou sincero demais. O que sei é que, neste dia, ele fez estrago nos egos inflamados de algumas pessoas.
Sabe como é, churrasco regado a cerveja, em todo lugar tem, mas churrasco regado a lições de humildade, só na casa de Zé Nervosinho.
Ou você se atreveria a não ser humilde na cada desse cidadão?
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