quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Enzomania


Houve uma época em que era Kauã, assim mesmo com K e não com c. 
Já tiveram os Kauês, os Luans, Kaikes e até mesmo os Romários. 
Eu, fui agraciado com a era dos Enzos. 
Meu nome é Enzo Gabriel Figueira mas, para fins de maior entendimento deste desabafo, ignore o Figueira ( que nada tem a ver com o pé de figo) e foque no Enzo Gabriel. 
Já nos primeiros anos de escola, descobri o quanto meu nome me tornava apenas mais um em meio a multidão. 
Você sabe o nome real do Superman?
 É Kal El, filho de Jor Ele, ambos da casa de El. 
Assim mesmo era em minha sala: todos éramos da casa de El. 
Eu era o Enzo Gabriel, mas também tinha o Enzo Samuel, o Enzo Miguel, o Enzo Daniel, o Enzo Salatiel, o Enzo Manuel, o Enzo Rafael...
Era tanto Enzo que a professora, para evitar confusão, passou a nos chamar pelo segundo nome. Sendo assim, virei o Gabriel. 
Situação que piorou no ano seguinte quando, mais dois Enzos Gabrieis foram transferidos para esta mesma sala. 
A professora dizia: “Enzo, você fez a lição?”
Silêncio total na sala. 
“Enzo Gabriel, a lição?”
Mais silêncio. 
“ Enzo Gabriel Figueira, você fez a lição?”
Acabei virando o Figueira. 
O problema se repetia quando eu precisava ir em uma consulta médica. 
O doutor chamava “Enzo Gabriel” e lá íamos eu, minha mãe e mais uns cinco coitados agraciados com este mesmo nome. 
Não sei de onde e nem porque tem tantos Enzos no mundo. 
Aqui pra nós, nem é um nome lá muito bonito.
 Parece marca de comida oriental: sushi, sashimis, miojo, Enzo...
Fui fazer um concurso público e, na hora de consultar o resultado, levei trinta e cinco minutos só procurando meu nome em uma infinidade de Enzos que tinha na lista. Contei cento e trinta e seis sendo, cinquenta e oito Enzos Gabrieis. 
Trabalhei numa multinacional onde, na confraternização de fim do ano, eram sorteados brindes. Imaginem uma festa com duzentas pessoas e o prêmio saía para um Enzo...
O suspense era dobrado. 
- E o colaborador sorteado deste ano para ganhar uma viagem com tudo pago foi... Enzo!
Era pra mais de vinte caras comemorando ao mesmo tempo. 
Assustado, o “sorteador” se corrigia:
- O vencedor é Enzo Gabriel...
E ainda restavam uns dez comemorando. 
Cabe dizer que, além do azar de ter esse nome repetitivo, o Figueira nunca foi premiado. Era sempre Enzo Gabriel de qualquer coisa, menos Figueira. 
E os correios? Os carteiros, que nunca acham ninguém pelo endereço, perguntavam onde morava o Enzo e, entre cinco vizinhos, cada um indicava seu próprio Enzo. 
- Tem o Enzo alí de Dona Cotinha. 
- Mas esse só tem dois anos. Deve ser o Enzo, marido de Maria Cuíca. 
- Pode ser o Enzo, primo do Ferreirinha. 
- Ou o Enzo Cachorrão, que só vive no brega. 
- Não esqueçam do Enzo do Ferro Velho!
Na dúvida, o carteiro dizia o nome completo e ninguém sabia quem era. 
Depois de muito pensar, alguém gritava:
- Ah, não deve ser nenhum desses Enzos! Deve ser o Figueirinha!
Virei até auxiliar dos carteiros que, na dúvida, deixavam todas as correspondências endereçadas aos Enzos em minha caixa de correio. 
Era livro, revista, contas, produtos de sex shop, contrabando, intimação para exame de DNA, carta de despejo e até mesmo, multa de trânsito. 
Botei o nome do meu filho de João. Simplesmente João, sem Enzo. 
Achei que estava livrando meu herdeiro dessa maldição e o que ele faz?
Batiza meu pobre neto de Enzo!
Enzo Gabriel Figueira Júnior! E ainda acrescenta esse maldito Júnior que, junto com Enzo e com Gabriel, com certeza estava no Guiness Book de nome mais repetido na história da humanidade!
Fiquei três meses sem falar com ele. 
Agora eu pergunto minha comadre, tem um nome pior para se ter nos dias de hoje que Enzo?
A comadre me olhou com ar pensativo e respondeu:
- Deixa eu te falar do meu nome. Me chamo Radassa Valentina...

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