E finalmente Maria das Dores engravidou.
José Filipino ficou numa alegria só. O único problema era que, por ambos terem nascido no Pará, não gostavam muito da ideia do futuro herdeiro ter que nascer em Nazaré das Farinhas, cidade baiana onde eles moravam.
- Nada contra ser baiano mas, as duas famílias são de lá e não vai ser justo meu filho que vai fugir da tradição e nascer em outro estado.
Maria e José passaram todos os nove meses da gravidez juntando as economias para financiar a tão sonhada e importante viagem.
Além de que poderiam aproveitar que a maior parte da família estaria reunida na cidade, era segundo turno das eleições municipais naquele final de novembro, e finalmente apresentar a esposa para aqueles que ainda não a conheciam.
Já Maria das Dores, poderia rever seus familiares e, da mesma forma, apresentar José Filipino para aqueles da família que só o conheciam pelas redes sociais.
E lá se foram José, Maria e o pequeno João Jesus Nazário, ainda na barriga da mãe, para uma longa viagem de ônibus da Bahia até o Pará.
Pense em trinta e duas horas de viagem!
- É muito chão – choramingou Maria.
Mas além de todos os motivos acima citados, José Filipino havia feito uma promessa para Santa Margarida, a protetora e guardiã das gestações, de que seu filho nasceria em sua cidade natal.
E promessa é promessa!
Pense em uma viagem difícil!
Não se sabe qual cidade era mais quente; não se sabe quantos quilos de poeira se acumularam em seus corpos; e, não se sabe quantas garrafas de água consumiram neste período.
E, finalmente, no dia vinte e nove de novembro, domingo de eleições, chegaram a pacata cidade de São João da Ponta.
Ficaram lá até o dia vinte e quatro de dezembro quando, foram pagar uma promessa que Maria das Dores havia feito para Santa Maria do Belém.
Passaram lá o dia e, foi a noite, que tudo aconteceu.
João Jesus Nazário resolveu, para surpresa dos pais, nascer antes do dia previsto e foi aquele rebuliço na pensão onde se hospedaram.
Baltazar, o dono do estabelecimento em que se hospedaram, pessoa muito solicita, imediatamente telefonou para a SAMU.
Vieram um médico chamado Gaspar e o motorista, de nome Melchior.
Só que as coisas se complicaram e nem deu tempo de irem para a maternidade. João tinha pressa.
Nasceu alí mesmo na pousada, na cidade de Belém.
Foi um parto complicado e, Maria das Dores jamais esqueceria da ajuda que Baltazar, Gaspar e Melchior deram.
Gaspar, presenteou a criança com um frasco de seiva de alfazema.
- É bom para trazer bons fluidos para o nenê.
Gaspar, pessoa muito supersticiosa, deu umas folhas de arruda.
- Para livrar de mau olhado.
Já Melchior, resolveu presentear a mãe com um pouco de camomila.
- Para aliviar as dores do pós parto.
Eram presentes simples de pessoas simples mas, dados com carinho e sinceridade afinal, aqueles três não eram reis.
João Jesus Nazário cresceu, se tornou um bom homem, carpinteiro de mão cheia e orgulhoso de seus pais por tudo que passaram para que ele viesse ao mundo.
Em tempo: por um erro do cartório de Belém, este ilustre Paraense foi registrado como nascido no dia vinte e cinco de dezembro e, por estar sempre indo e voltando de São João da Ponta para Nazaré das Farinhas, passou a ser carinhosamente chamado pelos amigos de “Nazareno”.
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