quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Jesus do Sertão


E finalmente Maria das Dores engravidou. 
José Filipino ficou numa alegria só. O único problema era que, por ambos terem nascido no Pará, não gostavam muito da ideia do futuro herdeiro ter que nascer em Nazaré das Farinhas, cidade baiana onde eles moravam. 
- Nada contra ser baiano mas, as duas famílias são de lá e não vai ser justo meu filho que vai fugir da tradição e nascer em outro estado. 
Maria e José passaram todos os nove meses da gravidez juntando as economias para financiar a tão sonhada e importante viagem. 
Além de que poderiam aproveitar que a maior parte da família estaria reunida na cidade, era segundo turno das eleições municipais naquele final de novembro, e finalmente apresentar a esposa para aqueles que ainda não a conheciam. 
Já Maria das Dores, poderia rever seus familiares e, da mesma forma, apresentar José Filipino para aqueles da família que só o conheciam pelas redes sociais. 
E lá se foram José, Maria e o pequeno João Jesus Nazário, ainda na barriga da mãe, para uma longa viagem de ônibus da Bahia até o Pará. 
Pense em trinta e duas horas de viagem!
- É muito chão – choramingou Maria. 
Mas além de todos os motivos acima citados, José Filipino havia feito uma promessa para Santa Margarida, a protetora e guardiã das gestações, de que seu filho nasceria em sua cidade natal. 
E promessa é promessa! 
Pense em uma viagem difícil!
Não se sabe qual cidade era mais quente; não se sabe quantos quilos de poeira se acumularam em seus corpos; e, não se sabe quantas garrafas de água consumiram neste período. 
E, finalmente, no dia vinte e nove de novembro, domingo de eleições, chegaram a pacata cidade de São João da Ponta. 
Ficaram lá até o dia vinte e quatro de dezembro quando, foram pagar uma promessa que Maria das Dores havia feito para Santa Maria do Belém. 
Passaram lá o dia e, foi a noite, que tudo aconteceu. 
João Jesus Nazário resolveu, para surpresa dos pais, nascer antes do dia previsto e foi aquele rebuliço na pensão onde se hospedaram. 
Baltazar, o dono do estabelecimento em que se hospedaram, pessoa muito solicita, imediatamente telefonou para a SAMU. 
Vieram um médico chamado Gaspar e o motorista, de nome Melchior.
Só que as coisas se complicaram e nem deu tempo de irem para a maternidade. João tinha pressa. 
Nasceu alí mesmo na pousada, na cidade de Belém. 
Foi um parto complicado e, Maria das Dores jamais esqueceria da ajuda que Baltazar, Gaspar e Melchior deram. 
Gaspar, presenteou a criança com um frasco de seiva de alfazema. 
- É bom para trazer bons fluidos para o nenê. 
Gaspar, pessoa muito supersticiosa, deu umas folhas de arruda. 
- Para livrar de mau olhado. 
Já Melchior, resolveu presentear a mãe com um pouco de camomila. 
- Para aliviar as dores do pós parto. 
Eram presentes simples de pessoas simples mas, dados com carinho e sinceridade afinal, aqueles três não eram reis. 
João Jesus Nazário cresceu, se tornou um bom homem, carpinteiro de mão cheia e orgulhoso de seus pais por tudo que passaram para que ele viesse ao mundo. 
Em tempo: por um erro do cartório de Belém, este ilustre Paraense foi registrado como nascido no dia vinte e cinco de dezembro e, por estar sempre indo e voltando de São João da Ponta para Nazaré das Farinhas, passou a ser carinhosamente chamado pelos amigos de “Nazareno”.

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