Menelau cansou de ser velho.
E, no auge dos seus sessenta anos, resolveu virar playboy.
Foi no shopping e saiu comprando tudo quanto era tipo de roupas, sapatos e acessórios que estavam na moda e os jovens estavam usando naquele momento.
Passava um garotão com uma calça, Menelau corria e comprava uma igual; passava outro garotão com uma camisa diferente, Menelau logo tinha uma idêntica.
E aquele tênis de marca? Menelau comprou três pares.
Chegando em casa, pegou todas as roupas “ de velho” que tinha no guarda-roupa e colocou em caixas para doação.
Olhou-se no espelho e constatou:
- Com essas roupas estou parecendo um jovem de vinte e poucos anos.
Esperou até o horário em que os filhos saiam pro “baile” e, de surpresa, apareceu com o novo visual, pronto para “mexer as cadeiras na discoteca que vocês frequentam” porque, já era hora de deixar a viuvez de lado e arranjar “uns brotinhos”.
Francisco e Marinalva se olharam assustados.
- Pai, você está bem? Tomou seus remédios controlados? – quis saber Francisco, perplexo.
- Mas eu nunca tomei remédio controlado!
- Então é isso – riu Marinalva – tá precisando tomar.
Menelau fingiu não entender as piadinhas e voltou a afirmar que iria com os filhos para o “baile”.
- Mas, em nome de Jesus, o que o senhor vai fazer em uma balada, pai?
- Ué, tudo que se faz em uma balada (seja lá o que isso for): beber, dançar e arranjar umas gatinhas.
Os filhos explicaram que, a mulher mais velha de lá teria idade para ser sua filha, que ele não saberia dançar as músicas e que, até às bebidas seriam diferentes.
- Se vocês tem vergonha de sair com seu pai, não tem problema: me dá o endereço dessa discoteca que tem balada e eu vou lá sozinho mesmo! Quem tem Uber vai a Roma.
E lá foi Menelau para uma badalada casa de shows da cidade.
Lá chegando, ninguém pediu sua identidade obviamente mas, foi confundido com um dos garçons, o que acabou sendo uma coisa boa porque, entrou pela porta dos funcionários e não pagou o ingresso.
Ao entrar, a primeira sensação foi de cegueira absoluta. Nessa “balada” não tinha aqueles globos de luzes lindos, marca registrada das discotecas de sua época e sim, uns diabos de refletores que mais pareciam vários sóis espalhados no ambiente.
- Se queriam claridade porque não fizeram esse raio dessa festa durante o dia? Que maluquice!
Foi ao balcão beber e ficou impressionado com a quantidade de cores que as bebidas tinham: era bebida azul, verde, rosa, amarela...
No cardápio, coisas que ele nunca ouviu falar, cervejas com nomes que não sabia pronunciar e um monte de tipo diferente de energético.
- Que geração estranha! Eles vem pra festa beber bebida de academia.
E as músicas? Era um tal de senta pra lá, senta pra cá, uns palavrões, um povo dizendo que era rico e criminoso, o outro falando que era pobre e favelado e outros dizendo que eram cornos.
Teve um cara perguntando se Menelau queria comprar umas pedras.
Menelau, é claro, recusou. Ele lá tinha dinheiro para comprar diamantes? E festa era lugar para vender artigos de joalheria?
Menelau percebeu também que as danças exigiriam um preparo físico que ele não tem mais. Nada de rostinho colado com rostinho.
O negócio era se esfregar um no outro, rebolar bastante ou dançar agarrado se retorcendo feito uma minhoca quando jogamos sal em cima.
Sem dançar e sem poder “puxar papo” com ninguém por causa da altura do som e da cegueira por culpa dos refletores, só restou a Menelau beber.
Bebeu uma bebida de cada cor e todas as cervejas cujos nomes não sabia pronunciar e, incrivelmente, não gostou de nenhuma.
- Já bebi chá mais gostoso.
Tomou três sustos que o fizeram desistir da ideia e ir embora.
Primeiro, de repente, viu que todo mundo estava correndo para a mesma direção e pensou:
- É briga!
Pulou o balcão e caiu por cima do carinha que preparava as bebidas.
Só depois percebeu que era a coreografia da música que estava tocando no momento. Sem graça, pediu desculpas ao sujeito e pagou pela bebida que derramou.
O segundo susto foi quando viu dois homens grandes e musculosos se agarrarem no meio do salão.
- Agora é briga!
E, quando virou para correr, se bateu com o jovem que tinha lhe perguntado das pedras mais cedo.
- Tá vendo você errado? Não comprou em minha mão e foi se chapar na concorrência – reclamou o rapaz.
Após explicar que não sabia o que era estar chapado mas, com certeza não tinha comprado nada na concorrência, Menelau percebeu que os homens que se agarraram não estavam brigando e sim, namorando.
- Viva a diversidade – pensou – bem melhor do que estar se matando.
O problema é que ele pensou tão alto que, um rapaz ao lado gritou:
- Viva!
E sapecou um beijo em Menelau. Depois desse terceiro susto, Menelau concluiu que já bastava de modernidade e resolveu voltar para casa.
No dia seguinte, logo cedo, Francisco e Marinalva foram ao quarto do pai curiosos em saber como tinha sido a aventura noturna de Menelau.
- Foi até interessante, mas vou voltar ao dominó de sábado a noite e as serestas do domingo a tarde – respondeu enquanto arrumava as roupas antigas no armário e colocava os trajes de jovem numa caixa para doação.
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