sábado, 15 de outubro de 2022

O Botijão

 

Teodoro Tapado nunca aprendeu a fazer nada na vida.
De família abastada, ele nunca precisou fazer coisa alguma, em momento algum.
Porém, a crise financeira afetou a família e, pouco a pouco, Teodoro foi sendo obrigado a viver na realidade de todas as outras pessoas normais.
A primeira tarefa de Teodoro Tapado foi de ficar responsável pela compra  de um botijão de gás.
Tapado fez um careta.
A distribuidora ficava a aproximadamente meia hora de caminhada, em passos de pessoas normais. No caminhar de Teodoro, levava algo em torno de quarenta e cinco minutos, lento que era.
Na falta de um veiculo motorizado, eis que lá foi o Tapado, com um carrinho de  mão, rumo a distribuidora para realizar a desagradável tarefa.
O sujeito era tão desacostumado com qualquer tipo de exercício físico que, teve que parar algumas vezes para enxugar o suor e beber água.
Quase uma hora após ter saído de casa, finalmente o Tapado chegou ao seu destino.
Metade aliviado por ter chegado e metade temeroso por saber que, a segunda parte da caminhada seria com o carrinho de mão com o peso do botijão, Teodoro foi ate o guichê e solicitou o bendito gás.
Após ficar abismado com o preço e reclamar bastante, fechou a compra.
- Onde esta o botijão vazio? – perguntou o vendedor.
- Como assim, botijão vazio?
- Para que o senhor compre um botijão cheio de gás, e necessário que traga o botijão vazio que, creio eu, o senhor tem em casa.
- Na verdade, tem mesmo um vazio lá em casa mas, não sabia que precisava...
- Mas precisa – falou o vendedor, sem conseguir disfarçar um sorriso cínico.
- Eu tenho que pagar esse absurdo e ainda preciso trazer um botijão vazio?
- Deve ser por isso que o senhor só tem um botijão vazio em casa. Caso contrário, teriam vários lat, não é mesmo?
Sem ter como argumentar e furioso com aquela situação, voltou o pobre tapado, com o carro de mão vazio, para casa.
Após quase uma hora de caminhada pois, já estava ainda mais cansado, Teodoro Tapado, chegou em casa, pegou o bendito botijão vazio que, o pai, já sabendo das limitações intelectuais do filho, havia deixado desconectado do fogão, colocou no carro de mão e retornou à distribuidora.
Se a ida e a volta com o carrinho vazio, havia sido um suplicio, imagine com o botijão...
Teodoro chegou quase sem ar, passando mal, vermelho feito um morango e, praticamente, caindo por cima do carrinho de tanta exaustão.
Mas o tormento mesmo foi a volta.
Teodoro Tapado ficou bestificado com o quanto aquele troço era pesado!
- Não é possível – resmungou – que tenha só gás dentro desse troço...
O esforço que Teodoro fazia era tão grande que começou a compadecer as pessoas.
Um sujeito passou de carro e o incentivou:
- Força companheiro, você consegue!
Crianças o acompanhavam aos risos e idosos comentavam o quanto era mole essa geração atual. Já Teobaldo nada respondia, até porque, não teria fôlego para isso.
Tudo que ele queria era que aquele tormento terminasse.
Finalmente chegou em casa e, exausto e exaurido, dormiu sobre o carro de mão quando tentou retirar o botijão do mesmo.
Finalzinho da tarde, quando o pai chegou, Tapado ainda dormia.
O velho ficou muito chateado e reclamou do filho:
- Rapaz, você nem instalou o botijão no fogão! Que sujeito mole e folgado!
Teobaldo, ainda meio quebrado e sonolento, preferiu não responder mas, não satisfeito, o pai continuou a bronca:
- Sujeito mole! Um botijãozinho desse e está aí morrendo! Quero ver como você vai fazer amanhã quando tetra que ir no depósito de Beto Barro comprar dois sacos de cimento e trazer para casa.
Teodoro Tapado até foi buscar o cimento no dia seguinte mas, passou cinco dias hospitalizado com a coluna travada, insolação e pés inchados.

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