Que saudade dos tempos da pandemia!
Antes que me entendam mal, me critiquem e me cancelem, gostaria de esclarecer que meu psiquiatra, minha psicóloga, meu coach, meu pai de santo e até meu horóscopo me disseram que eu tenho que olhar as coisas com mais otimismo portanto, quando digo que estou com saudades dos tempos da pandemia, estou olhando o lado menos ruim dessa história.
Nessa época eu andava nas ruas, que não estavam tão abarrotadas de gente apressada, mal humorada e mal educada, e as pessoas me cumprimentavam gentilmente, com os tradicionais bons dias, boas tardes e boas noites.
Mas, além disso, foi a época em que eu mais recebia elogios.
- Poxa, seus olhos são lindos! – me disse, Naninha Namoradeira.
Eu, todo vaidoso, ficava com as bochechas avermelhadas.
- Olha, seus olhos são castanhos! – falou, Patrícia Paqueradora.
Eu, curioso, fui até conferir no espelho pois, sempre achei que eles eram pretos.
- Você faz as sobrancelhas? São tão certinhas... – comentou, Fátima Faceira.
Eu, que nunca entrei em um salão de beleza, fiquei lisonjeado.
Nos tempos da pandemia, usei franja.
É que minha testa é um tanto quanto avantajada e, com metade do rosto coberto, ela ficava ainda mais saliente e exposta.
- Gostei do seu novo penteado – elogiou, Suzana Santinha.
Eu, alisando os cabelos, agradecia humildemente.
- Nossa, seus cabelos são cacheados! – observou, Marília Maravilhosa.
Eu, todo tímido, baixava a cabeça e sorria.
E assim foram os dias da pandemia.
Era tudo muito ruim, triste e deprimente porém, foi a época em que meu ego foi mais massageado, mimado e acariciado.
Hoje, não estamos mais usando máscaras.
As ruas estão abarrotadas de gente apressada, mal humorada e mal educada.
Eu ando pelas ruas e ninguém repara mais em meus belos olhos castanhos, em minha franja ou nos caracóis que trago em meus esbranquiçados cabelos.
Apesar de nada ter voltado ao normal, todos vivem como antes de nada ser anormal.
E eu, comum que sou, voltei a ser só mais um rosto na multidão.
Por isso, não me julguem, condenem ou cancelem mas, olhando por este ângulo, não consigo parar de refletir, pensar e falar:
- Que saudades dos tempos da pandemia!
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