Resolvi ser influenciador.
Na verdade, descobri que isso é algo que sempre fui.
Lembro que, quando criança, minha professora sempre dizia:
- Astolfo, você é uma má influência para seus colegas.
Além disso, minha esposa sempre diz:
- Nossa, como você fala bobagens!
Então, motivado pela experiência que carrego desde criança em ser uma má influência e pela constatação de que, falar besteira é comum no meu cotidiano, tomei a decisão de me tornar, oficialmente, um influenciador.
Aliás, influenciador não: influencer. Afinal, tudo em inglês é mais chique do que em nossa língua feia, complicada, atrasada e importada da Europa.
Peguei meu velho celular, criei um canal no YouTube e comecei a falar sobre os assuntos que mais entendo, domino e sei falar.
Primeiro, discorri sobre as diversas marcas de cerveja que existem em nosso país.
Pacientemente experimentei e comentei sobre todas as marcas disponíveis e, no dia seguinte, após acordar com uma pequena ressaca, fui checar as reações do meu público.
Tinham quatro curtidas e um comentário de minha mãe, perguntando quando eu finalmente ia tomar vergonha na cara e parar de beber.
Não me fiz de rogado, seja lá o que isso signifique, e parti para fazer outro vídeo.
Durante meia hora falei fluentemente sobre a diferença dos índios Guaranis para o glorioso Guarani de Campinas, campeão brasileiro de 1978, e de como eles não tem nada a ver com o Lobo Guará ou com o Guaraná Antártica.
Tive as mesmas quatro curtidas e dois comentários.
Um era de meu pai perguntando se eu tinha deixado de torcer para o Flamengo e outro era de um desconhecido me oferecendo produtos de qualidade e procedência duvidosas.
Continuei tentando porque, sou brasileiro com muito orgulho e muito amor, e não desisto nunca e, no terceiro dia, fiz um vídeo tratando sobre a diferença entre o ovo de granja e o de quintal e a diversidade de cores de suas cascas.
Tive, adivinhem, quatro curtidas e um comentário de meu avô dizendo que eu só falava besteira e estava ensinando tudo errado sobre os ovos.
Engraçado que eu nem sabia dessa história de meu avô assistir vídeos no YouTube.
Passei o final de semana pensando sobre o assunto de meu quarto vídeo e, sem muitas opções, fiz uma longa reflexão sobre como o coentro é mais cheiroso que a alfazema.
Tive as mesmas quatro curtidas e nenhum comentário.
Já meio desanimado e pensando em desistir, fiz uma última tentativa e, após muita pesquisa, fiz uma transmissão emocionada sobre as diferenças entre o navegador Vasco da Gama e o grandioso Clube de Regatas Vasco da Gama e de como alguém teve a ideia de botar nome de gente em um clube de futebol.
Tive, pasmem, quatro curtidas e um comentário novamente de meu pai, me xingando por ter feito um vídeo sobre o maior rival do nosso querido Mengão.
Depois desta, resolvi abandonar de vez esse negócio de influenciador.
Fiz um último vídeo me despedindo das quatro pessoas que estavam curtindo meu canal e, recebi dois comentários.
Um, era de meu pai dizendo que eu já ia tarde, me chamando de traidor da Nação Rubro Negra e de filho ingrato. A outra era de minha mãe revelando que as quatro curtidas que eu sempre recebia vinha de quatro contas criadas por ela e, me aconselhando a procurar um emprego e largar desse negócio de querer falar do que não sei.
Encerrei o canal e, para não dizer que tudo foi ruim, pelo menos provei a minha esposa que eu não era assim tão bom em falar besteira.
Quem é bom mesmo nisso é o Nair Naturista que tem milhares de seguidores em seus vídeos sobre o dia a dia das caminhadas das formigas em seu quintal.
Queria muito ter esse talento...
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