Estou aqui para solicitar do senhor, doutor advogado, a abertura de um processo contra o sem-vergonha do Mauricio Muambeiro que, na maior caradura me enganou, trapaceou, enrolou, ludibriou e, não satisfeito, ainda me lesou.
E eu te explico timtim por timtim tudo que aquele vagabundo travestido de vendedor fez para me deixar tão furioso, zangado e retado da vida.
Estava eu procurando uma casa para comprar após ter juntado, por alguns anos, uma mixaria para não ter que depender de financiamento da Caixa Econômica Federal.
Vou te falar, seu doutor, suei muito para guardar esse dinheirinho e não vou deixar que ninguém fique com ele, assim na moleza.
Sei que o senhor é um homem ocupado e, por isso, vou aos pormenores do caso.
O pilantra do Mauricio Muambeiro colocou uma placa na frente de sua casa, com os seguintes dizeres: “ vendo por cinco mil reais”.
Eu tinha em mãos o montante de quatro mil e duzentos reais, mais trezentos que emprestei ao Mauricio Mao de Vaca, mais duzentos que o Alirio Lorota tinha que me pagar, dando assim um total de quatro ml e setecentos reais, se esta minha velha cabeça não estiver contando errado.
Na ponta do lápis, ainda me faltavam trezentos reais para completar a transação.
Eu, realmente não tinha ideia de onde conseguir este dinheiro mas, mesmo assim, conversei com o safado do Muambeiro e pedi que retirasse a placa e não vendesse pois, em dois dias eu teria toda a quantia.
Foi ai que começou minha tormentosa peregrinação, seu doutor.
A primeira tarefa, digna de um trabalho de Hércules, foi a de recuperar minha quantia com o salafrário do Mão de Vaca. Acredita que o meliante, casquinha filho de uma égua mal parida, queria parcelar a dívida em seis vezes?
Precisei ameaçar arrebentar o guarda chuva em sua cabeça e pegar sua televisão de refém para o safado tirar o dinheiro de dentro de uma lata de mantimentos e pagar direitinho cada centavo que me devia.
Depois, foi outra novela para receber o dinheiro de Alirio Lorota.
O senhor acredita que o cabra mandou a filha de cinco anos me dizer que não estava em casa e, eu que não sou besta nem nada, corri para os fundos e flagrei o sacripanta pulando a janela, para sair escondido de mim.
Tive que dar dois safanões no desavergonhado para que, só assim, ele me pagasse.
Depois, deixei meu filho chorando em casa porque quebrei o cofrinho cheio de moedas de um real, que estávamos juntando para seu aniversario, e tirei cento e cinquenta reais. Faltavam só cento e cinquenta.
Peguei cem emprestado com o Agripino Agiota, para pagar duzentos e cinquenta (aquele ladrão!) e vendi minha coleção de panos de prato a preço de banana, para completar a quantia.
Fechei os cinco ml reais certinhos e, para não desinteirar o trocado, fui andando ate a casa do Mauricio Muambeiro.
Chegando lá, fechamos o acordo e, assinei um papel com um monte de coisas escritas, que nem me dei ao trabalho de ler.
Depois disso, ele arrancou a placa de venda do chão e me entregou.
Agradeci e fui embora preparar a mudança.
Quando lá cheguei, com o caminhão cheio de minhas tralhas, o vagabundo disse que eu não poderia descarregar pois, não tinha me vendido a casa!
O que ele me vendeu então?
Pois o filho de uma chocadeira falou em minha cara que, nunca tinha dito que era a casa que estava a venda e sim, a maldita placa!
Agora aqui estou eu, com uma placa de madeira, no valor de cinco mil reais sem saber o que fazer...
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