Albertino acordou naquela manhã de trinta e um de dezembro, mal humorado. Muito mal humorado.
Albertino odeia o réveillon.
Logo às sete horas, os vizinhos já ouviam uma irritante e altíssima música que, por sinal, Albertino odeia.
Albertino odeia o réveillon.
Foi comprar pão e, a padaria estava lotada.
Como funciona também como um mercadinho, tinha muita gente comprando carne para o churrasco de mais tarde, espumante para estourar na virada do ano e, até mesmo panetones que haviam sobrado do Natal e estavam com um preço mais baixo.
Albertino odeia o réveillon.
Após o café da manhã, tentou voltar a dormir apesar do barulho vindo da casa do vizinho. Porém, foi em vão.
Não só pelo vizinho mas, pela quantidade de visitas que recebeu.
Parecia que estava convalescente e as pessoas do estavam o visitando pela última vez, tal era a forma como falavam: todos em tom de despedida, não dele mas, do ano.
Mas o tom não deixava de ser de despedida.
Albertino odeia o réveillon.
O cunhado folgado e o primo bêbado apareceram, como que combinados, na hora do almoço. Comeram, beberam, falaram bobagens, entediaram Albertino e foram embora lá pelas duas da tarde.
Albertino odeia o réveillon.
Após a saída dos dois, era hora de arrumar a casa.
Apesar de todo seu sentimento negativo com o réveillon, as pessoas costumavam comparecer em peso à sua residência, logo após a virada do ano e a subsequente queima de fogos.
Albertino odeia o réveillon.
Aliás, a queima de fogos era outra coisa que incomodava Albertino.
Barulho, cheiro de pólvora e um monte de bocós olhando para cima maravilhados com todas aquelas luzes.
Albertino odeia o réveillon.
O dia foi passando, pessoas o visitavam, o celular não parou de tocar e as mensagens, não paravam de chegar.
Todos aproveitando enquanto ainda tinham sinal de operadora para ligar e enviar as benditas mensagens. Porque, meia-noite, ninguém conseguia mais. E este era mais um motivo pelo qual:
Albertino odeia o réveillon.
A noite chegou e, as horas passavam rápido.
As onze e meia, pais, primos e amigos que, chegaram mais cedo, ainda estavam comendo e bebendo em sua casa.
Albertino percebeu muito a contragosto que, mesmo sem ser comunicado, sua residência havia sido escolhida para as festividades daquela noite. Providenciou queijo e champanhe para todos.
Conversou sobre as aventuras e desventuras do ano que se encerrava.
Bebeu, comeu e deu muitas risadas.
Meia noite, participou da contagem regressiva, “estourou” champanhe, distribuiu abraços e admirou a queima de fogos.
Fez planos mentalmente para o ano que chegava e até vestiu uma elegante roupa branca.
Albertino foi dormir, feliz e satisfeito, por volta de seis da manhã.
Acordou uma da tarde, saiu para a primeira festa do ano onde, até arranjou uma namorada nova.
Albertino não consegue entender como alguém pode não gostar do réveillon.
Porque ele, o Albertino, adora o réveillon.
Muito bom 😄
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