quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O Réveillon


Albertino acordou naquela manhã de trinta e um de dezembro, mal humorado. Muito mal humorado. 
Albertino odeia o réveillon. 
Logo às sete horas, os vizinhos já ouviam uma irritante e altíssima música que, por sinal, Albertino odeia. 
Albertino odeia o réveillon. 
Foi comprar pão e, a padaria estava lotada.
Como funciona também como um mercadinho, tinha muita gente comprando carne para o churrasco de mais tarde, espumante para estourar na virada do ano e, até mesmo panetones que haviam sobrado do Natal e estavam com um preço mais baixo. 
Albertino odeia o réveillon. 
Após o café da manhã, tentou voltar a dormir apesar do barulho vindo da casa do vizinho. Porém, foi em vão. 
Não só pelo vizinho mas, pela quantidade de visitas que recebeu. 
Parecia que estava convalescente e as pessoas do estavam o visitando pela última vez, tal era a forma como falavam: todos em tom de despedida, não dele mas, do ano. 
Mas o tom não deixava de ser de despedida. 
Albertino odeia o réveillon. 
O cunhado folgado e o primo bêbado apareceram, como que combinados, na hora do almoço. Comeram, beberam, falaram bobagens, entediaram Albertino e foram embora lá pelas duas da tarde. 
Albertino odeia o réveillon. 
Após a saída dos dois, era hora de arrumar a casa. 
Apesar de todo seu sentimento negativo com o réveillon, as pessoas costumavam comparecer em peso à sua residência, logo após a virada do ano e a subsequente queima de fogos. 
Albertino odeia o réveillon. 
Aliás, a queima de fogos era outra coisa que incomodava Albertino. 
Barulho, cheiro de pólvora e um monte de bocós olhando para cima maravilhados com todas aquelas luzes. 
Albertino odeia o réveillon. 
O dia foi passando, pessoas o visitavam, o celular não parou de tocar e as mensagens, não paravam de chegar. 
Todos aproveitando enquanto ainda tinham sinal de operadora para ligar e enviar as benditas mensagens. Porque, meia-noite, ninguém conseguia mais. E este era mais um motivo pelo qual:
Albertino odeia o réveillon. 
A noite chegou e, as horas passavam rápido. 
As onze e meia, pais, primos e amigos que, chegaram mais cedo, ainda estavam comendo e bebendo em sua casa. 
Albertino percebeu muito a contragosto que, mesmo sem ser comunicado, sua residência havia sido escolhida para as festividades daquela noite. Providenciou queijo e champanhe para todos. 
Conversou sobre as aventuras e desventuras do ano que se encerrava. 
Bebeu, comeu e deu muitas risadas. 
Meia noite, participou da contagem regressiva, “estourou” champanhe, distribuiu abraços e admirou a queima de fogos. 
Fez planos mentalmente para o ano que chegava e até vestiu uma elegante roupa branca.  
Albertino foi dormir, feliz e satisfeito, por volta de seis da manhã. 
Acordou uma da tarde, saiu para a primeira festa do ano onde, até arranjou uma namorada nova. 
Albertino não consegue entender como alguém pode não gostar do réveillon. 
Porque ele, o Albertino, adora o réveillon.

Um comentário:

Felicitações

A primeira mensagem chegou antes das sete da manhã.  - Felicidades, minha amiga! Que dure para sempre! Como a Almerinda sempre foi meio desc...