sexta-feira, 14 de outubro de 2022

O Voto



Era um dia como qualquer outro de eleição. 
Saí de casa, título de eleitor no bolso e sorriso no rosto digno de quem está ciente que iria cumprir um dever cívico e patriótico. 
No meio do caminho encontrei compadre Onofre, amigo de longa data que, curioso e preocupado com o futuro do país, fez para mim a pergunta mais importante do dia:
- E em quem você vai votar?
Confessei que não tinha a menor ideia e só decidiria na hora. 
O compadre, preocupado com minha decisão que decidiria o futuro de nosso amado país, convidou-me para beber uma cerveja e ouvir o motivo pelo qual eu deveria votar em seu candidato preferido. 
Perguntei se não era contra a lei beber naquele dia e, sabiamente, o compadre me lembrou que todo mundo bebia e obviamente, se todos faziam, então era permitido. 
Depois de meia dúzia de geladas, saí do bar convencido que Bira da Jaca era o melhor político do país, senão do mundo afinal, ele tinha dado emprego a Juca Jiquiriçá, filho do compadre, que nunca estudou e não conseguiria emprego de outra forma. Santo homem esse Bira!
Alguns metros adiante dei de cara com Léo Lasqueira, amigo de longa data que, coincidentemente ou não, me fez a mesma pergunta que o compadre Onofre havia feito antes. 
- Votarei em Bira da Jaca. 
Léo Lasqueira me olhou com uma cara de tão grande decepção que, por alguns instantes, pensei ter cometido algum pecado que me levaria às profundezas do inferno. 
Logo, novamente me vi sentado em um bar tomando uma dezena de cervejas e entendendo por a mais b o porque da escolha em Bira da Jaca era um erro e o melhor seria depositar minha esperança de futuro em Tobias Fubuia, candidato da oposição, padrinho do amigo Léo Lasqueira e que, certamente lhe conseguiria um emprego satisfatório na prefeitura. 
Pensei que esta era uma causa justa e, após tantas cervejas, mudei de ideia quanto ao meu voto. Afinal, a gente muda de emprego, de mulher e até de sexo, porque não mudar de opinião?
Andei, já meio cambaleante, por alguns metros e eis que encontrei o primo Matias Muamba, que já voltava triunfante do colégio eleitoral. 
Por mais incrível e misterioso que pareça, o primo também queria saber em quem eu depositaria meu já não tão secreto voto. 
- Ia votar no Bira da Jaca mas, mudei de ideia e vou em Tobias Fubuia. 
O primo fez cara de contrariado e, novamente sentado em um bar, fui convencido por meio de provas estatísticas tiradas provavelmente da mente do primo que, sem sombra de dúvidas, o melhor candidato era o Carlinhos Catuaba, sindico gente boa do condomínio onde morava e que o ajudou a instalar um “gato” na conta de energia. 
- Ele não foi desonesto e sim, solidário com um amigo em sérias dificuldades financeiras que jamais poderia pagar tal fatura. É de homens bondosos que não pensam duas vezes em até mesmo burlar uma lei absurda para ajudar os necessitados que precisamos!
Pensei que, em alguns casos, os fins justificam os meios e portanto o primo Matias Muamba tinha razão. 
Após dez cervejas para me convencer, três para comemorar e duas saideiras, levantei aos tombos em direção ao meu sagrado e patriótico dever cívico. 
Eis que não dei dez passos e encontrei a distinta vereadora Maria Marinete que, pasmem, também queria saber em quem eu votaria naquele tão especial e importante dia. 
Antes mesmo de responder, já me vi sentado novamente no bar com uma dúzia de cervejas em minha frente e chegando a conclusão de que, a própria Maria Marinete era a melhor opção de voto naquela cidade afinal, durante seu mandato toda a rua onde eu morava teve seus meios-fios pintados e IPTU’s entregues com antecedência para que não nos apertássemos para pagar o justo e necessário imposto. 
Pensei que, mesmo achando o valor do IPTU alto e abusivo, tinha que admitir que quando o carnê chegava mais cedo, era mais fácil juntar o dinheiro para pagar em dia e, como bom patriota, gosto de pagar meus impostos de forma pontual e correta. 
Ao levantar, convicto do meu voto, percebi que já estava quase bêbado. 
Andei mais alguns metros e, tenho a vaga lembrança de ter bebido mais algumas cervejas com Márcia Mequetrefe que, creio ter me explicado tintim por tintim o porque eu deveria votar em João do Leitão. 
Confesso que, a partir daí não me recordo de mais nada que aconteceu e não lembro em quem votei. 
Só sei que acordei no dia seguinte com uma grande ressaca, deitado no chão e, dentro da carteira, junto com o calendário de mulher pelada da padaria do Pedro Pacífico, estava o comprovante de votação. 
Sorri satisfeito porque, posso até não saber em quem votei, mas tinha a consciência limpa de que cumpri o mais sagrado dos deveres cívicos. 
Em tempo, informo que Bira da Jaca, Tobias Fubuia e Carlinhos Catuaba conseguiram se eleger para o cargo de vereador, enquanto que, Maria Marinete não conseguiu a reeleição e João Leitão ficou como suplente. 
Graças a Sagrada Justiça Divina, os dois conseguiram ser nomeados secretários de alguma coisa e todos ficaram felizes e satisfeitos. 
Eu? Continuo desempregado e vivendo de pequenos serviços mas, tenho a felicidade e a certeza de que, ao menos um amigo eu ajudei dando meu importante voto para o seu candidato chegar onde chegou porque, bêbado ou não, jamais desperdiçaria meu voto pois, sou um cidadão de bem, comprometido com meus ideais e, com a Graça de Deus, patriota e não comunista!

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