Finalmente, sábado à noite!
Dia de show na casa de meus vizinhos.
O repertório é sempre vasto e impressionante. Impressionante como pessoas que cantam tão mal, não tem vergonha de usar um microfone e colocar o som tão alto.
Juro que, se eu tivesse um carro daqueles do filme “De Volta Para o Futuro”, voltava no tempo e tinha uma conversa séria com quem inventou os karaokês. Máquina do demônio que serve apenas para três coisas:
1 – Desinibir as pessoas que provavelmente, pensam que por estar em casa, podem desafinar à vontade e ninguém estará ouvindo aquele som, que mais parece almas sendo torturadas no inferno;
2 – Causar insônia e o ódio de todas as pessoas que, assim como eu, são obrigadas a aturar aquele circo de horrores até altas horas da madrugada;
3 – Me fazer pecar todo final de semana ao desejar que, no mínimo falte energia e no máximo estoure as cordas vocais do maldito vizinho.
Enfim, passemos ao repertório.
Primeiro, a esposa dele berra, de forma medonha, algo mais ou menos assim:
“Vem na maldade, com vontade
Chega, encosta em mim
Hoje eu quero e você sabe que eu gosto assim”.
E depois termina, como se estivesse ao ponto de ser hospitalizada por estar sentindo muita dor:
“Uh uh, uh uh, uh
Uh uh, uh uh, uh
Uh uh, uh uh, uh
Uh uh, uh uh (bang)”.
Em seguida o marido entoa versos dignos de Drummond... se revirar no túmulo:
“Eu sou o sol cercando a chuva
Do seu olhar sou eu quem cuida
E te peço, por favor
Não chore nunca mais, amor”.
O sol cercando a chuva? Tento imaginar como seria a cena, mas desisto.
Como todo programa familiar, é lógico que os filhos também têm que participar. E o mais velho começa um funk tão ritmado quanto desafinado:
“Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela em que eu nasci”.
Menino mimado, que só anda de roupas caras e usando o carro que o pai abastece, cantando que não é feliz porque não anda na favela em que nasceu...
Por fim, a filha adolescente anuncia, para meu desgosto, a plenos pulmões:
“Cheguei chegando, bagunçando a zorra toda
E que se dane, eu quero mais é que se exploda
Porque ninguém vai estragar meu dia
Avisa lá, pode falar”.
Fiquei refletindo porque ninguém podia estragar seu dia, mas ela podia estragar minha noite, meu fim de semana e meus tímpanos daquela forma.
A tortura continuou com “clássicos” que iam de alguém que “não estava solteiro porra nenhuma” até “Evidências”, passando por Roberto Carlos, Mamonas Assassinas, alguns ilustres desconhecidos para este que vos escreve e até uma banda adolescente, que o vizinho confundiu e gritou no final: rock’n roll!
Parece que algum dos outros vizinhos não compartilha de minha boa vontade ou do excelente gosto musical deles, pois o show, digno de ser filmado e transmitido pela Globo, só foi encerrado por volta de três da manhã, quando um outro som se fez ouvir: o da sirene de uma viatura da Policia Militar. Acredito que não houveram aplausos ou pedidos de autógrafos no encerramento da exibição musical dos cantores de chuveiro de minha vizinhança, mas admito que foi um final em grande estilo, com o show de luzes que entrava pelas brechas de minha janela.
Eu, na condição de expectador assíduo, aguardo nem um pouco ansioso pelo show da semana que vem, torcendo para que seja mais curto, a PM seja convidada mais cedo, falte energia elétrica ou algo do gênero.
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