Era época de virada de século. No ano de 1999, eu no alto dos meus vinte e três anos de idade, recebia a notícia de que, finalmente, seria pai.
Tal notícia caiu em meu colo como uma bomba. A mãe não era minha esposa e, eu não me sentia pronto ou preparado para tal tarefa. Foi uma noite de muita angústia e até choro de minha parte, afinal, se nem casa própria eu tinha, como abrigar a esposa e esta nova vida que viria a surgir?
Os meses se passaram e, para minha eterna surpresa, comecei a sentir por aquela criaturinha que, sequer já tinha visto, um amor que jamais pensei existir.
Era diferente do amor pelos pais, pela irmã ou qualquer outro que já tinha experimentado.
Era melhor e maior. Muito maior.
Em julho do ano dois mil, ela finalmente nasceu.
Ao ver aquele rostinho miúdo e bonito pela primeira vez, experimentei uma sensação que jamais sequer sonhara experimentar.
Quando saímos da maternidade eu só conseguia pensar em como seria a vida dali para a frente.
E a vida seguiu seu fluxo: aprendi a acordar de madrugada para revezar as tarefas relacionadas a meu nenê, aprendi a dar banho, trocar fralda, limpar cocô, me emocionei ao ponto de chorar ao ouvir o primeiro “papai” e enfim, aprendi a ser pai bem mais rápido que jamais poderia esperar.
O tempo, impiedoso, continuou passando: vi ela engatinhar, dar os primeiros passos... enfim, acompanhei seu crescimento.
Eis que, passados dois anos, quando achei que a vida já me tinha sido grata e surpreendente o bastante, recebo a notícia que seria pai novamente.
Novo susto, novas perspectivas, novo tudo novamente.
Nove meses se passaram e, tanto quanto da primeira vez, o amor por aquela criaturinha que nunca tinha sequer visto, voltava a crescer dentro de mim.
Quando eu achei que todo amor do mundo já estava sendo depositado em minha primeira filha, eis que descubro que ainda tinha espaço em meu coração para outro tão grande quanto.
Sabem, a sensação do primeiro olhar sobre um filho é única.
Foram dois momentos maravilhosos e distintos, porém únicos.
E, à medida que uma crescia e eu com ela aprendia, a outra também tinha seu crescimento e, diferente do que eu imaginava, era um crescimento completamente diferente, embora com as mesmas emoções: o primeiro “papai”, os primeiros passos...
Os anos foram transcorrendo, elas cresciam e, meus bebês se transformaram em duas lindas menininhas. E eu, num pai mais seguro e maduro.
Veio a fase escolar e, infelizmente, para um pai a vida não se resume apenas à criação das filhas: é necessário trabalhar para mantê-las e, por isso, não pude acompanha-las no primeiro dia de aula. Mas, a emoção de vê-las pela primeira vez com as fardinhas da escola (calça jeans) foi inexplicável.
Daí vieram novas responsabilidades e aprendizados.
A escola é um aprendizado enorme tanto para os filhos, quanto para os pais.
O tempo, condutor inesgotável de nossa vida, nunca parou de passar e, assim, elas continuaram crescendo e eu, envelhecendo. E o amor que sentia por elas? Apenas crescia.
E, de repente, espantosamente, eu já não tinha em casa dois bebês que precisavam de meus constantes cuidados ou duas menininhas que precisavam de minha proteção. Eu tinha agora duas mocinhas adolescentes descobrindo a vida.
Acabei me transformando em algo que nunca tinha pensado ser: o pai que regulava os horários das festinhas e que olhava de cara feia para os namoradinhos.
Sempre procurei ser participativo e presente, mesmo quando o relacionamento acabou afinal, existe ex-marido, mas nunca um ex-pai.
As acompanhei nos momentos felizes, chorei com elas nos momentos difíceis, estive presente nos momentos de doença e de saúde. Orientei e briguei quando necessário, apoiei quando precisaram. Tive longas conversas sobre menstruação e sexualidade.
O tempo, apressado, continuou a passar e, a fase adulta delas foi se aproximando.
Quando eu pensei que nada mais aconteceria para me surpreender, eis que recebi a notícia que seria avô. Minha cabeça ficou completamente embaralhada.
Como assim meu bebê estava para gerar outro bebê?
Novas emoções, novas experiências e um novo tipo de amor surgiram em minha vida.
Não posso dizer que foi tudo igual afinal, agora não era minha “responsabilidade” a criação desta nova vidinha que surgia. Porém, agora eu era algo que, com certeza, nunca tinha imaginado ser nesta vida: um homem maduro sendo chamado avô.
Ele está crescendo e eu descobrindo novas coisas, novas sensações (afinal, só entendia até então de crianças do sexo feminino) e, acima de tudo reaprendendo.
Mas aí, fica a pergunta: falei muito de minhas sensações e experiências e pouco de minhas filhas, que são a razão de todas estas linhas. Porquê?
Porque nada disso teria acontecido, nada disso teria sentido, nada disso teria sido experimentado, se não fossem por elas duas. Se não fossem todas as experiências, expectativas realizadas ou frustradas, não teria nada para contar e, sinceramente, muito pouco teria vivido.
Foram seus sorrisos, suas lágrimas, suas alegrias, suas enfermidades que embalaram, moveram e motivaram os últimos vinte anos de minha vida.
Tivemos conflitos como todo pai de adolescente, idéias diferentes, gostos musicais diversos... enfim, todas as delícias e aflições das relações pais e filhas.
Até hoje são seus rostos, entre outras coisas, que motivam a trabalhar todos os dias e, que movem boa parte das engrenagens de minha vida.
Sou um homem de quarenta e quatro anos de idade que, mudou completamente de vida quando troquei o nome para Pai, e só tenho a agradecer por isso.
Agora, acrescento ao Pai, a palavra Avô e sei que novas experiências me aguardam.
Quanto às minhas filhas atuais, são e sempre serão insubstituíveis em meu coração.
Mas, querem saber? No alto de minha maturidade, quero começar de novo e ser mais uma vez surpreendido pela notícia da paternidade, para ouvir mais uma vez, de lábios inocentes a palavra “papai” e, começar a reaprender a viver e deixar que o tempo, senhor absoluto de todas as coisas me presentei com novas emoções.
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