sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Star Wars e o Sapato



Sei que já disse isso outras vezes mas, essa eu juro que aconteceu de verdade comigo, há alguns anos. 
Estava eu em casa sem nada pra fazer quando, zapeando na internet descobri que, em um shopping da cidade, estava tendo uma exposição sobre uma de minhas paixões: o universo de Star Wars. 
Abri a carteira e lembrei que, desempregado, estava mais liso que bumbum de bebê. Recorri ao cofrinho e, com muito custo, consegui arrecadar o suficiente para o transporte de ida e volta, e uma Coca Cola. 
Em valores monetários, eu tinha pouco menos de nove reais. 
A passagem do ônibus, na época, custava algo em torno de três reais, só para vocês se situarem em minha situação. 
É necessário lembrar a quem me conhece e informar a quem ainda não teve esse prazer, que sou bastante magro. 
Outra característica que sempre trouxe comigo foi a total e completa noção de ridículo. Essa noção me fez criar uma regra que jamais violo: não uso tênis quando estou de bermuda e nem sandália quando estou de calça. Com minhas pernas de caranguejo (finas, tortas e cabeludas) fico um verdadeiro horror com elas aparecendo entre o tênis e a bermuda. 
Já calça e sandália, francamente é um hábito que vejo sendo cultivado apenas por evangélicos que não querem ficar o tempo todo de sapato e que a religião não permite desfilar por aí de bermuda. 
Portanto, admitam que minha regra é estranha mas, tem fundamento. 
Explicado este pormenor, voltemos à história. 
Como minhas bermudas estavam muito surradas para passear no shopping e, conforme expliquei, não uso calça com sandálias, lá fui eu calçado em um par de tênis, trajando uma calça jeans e minha camisa do Mestre Yoda. 
Parecia que tudo iria transcorrer de forma normal naquele dia. 
Peguei um ônibus “vazio”, entrei no shopping, apreciei a exposição e, logo depois, fui atrás da minha não tão desejada Coca Cola (preferia um chopp, mas o dinheiro não daria). 
Enquanto caminhava, notei que algo por perto, fazia um barulho estranho. 
Clop, clop, clop...
E o mais esquisito é que, quando eu parava, o barulho parava também. 
Olhei ao redor e nada vi que justificasse aquele estranho acontecimento. 
Voltei a caminhar e o barulho recomeçou. 
Clop, clop, clop...
Foi só quando olhei para os meus pés que compreendi o que estava acontecendo: devido ao longo período que fiquei sem usar o tênis ( coisa de um ano, creio eu), a cola do solado ressecou e o dito cujo do pé esquerdo, começou a descolar do restante do sapato. 
- Bom – pensei – se eu cancelar a Coca Cola e for logo para casa, posso evitar que este problema piore. 
Andei um pouco mais rápido para que, assim, saísse logo do shopping. 
Eu andava com o pé esquerdo e arrastava o pé direito, como quem está mancando, sabem como é?
Até aí, estava tudo sob controle. 
O problema piorou quando, mesmo arrastando o pé esquerdo, o barulho continuou: clop, clop, clop...
Lembrando de uma música antiga que dizia “já que está dentro, deixa”, resolvi caminhar normalmente afinal, mais ridículo que andar fazendo aquele clop, clop, clop, era andar como se estivesse mancando e, ainda assim, fazer o inconveniente clop, clop, clop. 
É, porém, mas, todavia, ocorreu que o desagradável ruído conseguiu piorar: agora, em vez de clop, clop,clop, o sapato fazia clop/clop, clop/clop, clop/clop...
Olhei mais uma vez para meus pés e percebi abismado que, agora eram as duas solas que estavam soltando: a do pé esquerdo e a do pé direito! 
Com medo de ficar de vez na mão, comecei a arrastar os dois pés. 
Imagine um cara que teve desinteria, está todo sujo e tem que caminhar até em casa... Era assim que eu estava caminhando. 
Mas sem a diarréia, é claro. 
E, quanto mais eu arrastava os pés, mas parecia que o solado descolava. 
Além disso, o clop, clop, clop mudou para rist, rist, rist. Parecia que eu estava arrastando os pés, dançando ao som de um forró, sem parceira. 
Até pensei em, tal qual um Luis Caldas da vida, jogar os sapatos na lixeira e andar descalço mesmo, sem ligar para os olhares alheios mas lembrei que, desempregado não joga nada fora e sim, recicla. 
Fui penosamente arrastando os pés até próximo à saída do shopping e, quando comecei a pensar que o problema estava chegando ao final, lembrei que ainda tinha uma passarela, o ônibus da volta e uma boa caminhada, até chegar em casa. 
Com muita tristeza no coração, não tive outra solução a não ser pegar meu cartão de crédito, entrar numa loja e sair de lá com um par de tênis novinho em folha. 
Resumindo, só queria gastar nove reais naquele passeio e, acabei tendo que desembolsar sessenta e cinco. 
Nunca odiei tanto Star Wars quanto naquele dia. 
Os sapatos velhos, mandei colar e a experiência de estar com os calçados comprometidos voltou a acontecer meses depois, no meio da rua. 
Mas essa história fica para outro dia...

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