Olegário olhou para frente e mediu mentalmente a distância.
- Não é tão longe assim – pensou.
Calçou as sandálias e deu os primeiros passos.
Se sentiu como um dos antigos desbravadores a explorar uma nova terra.
Ou, talvez, um viajante perdido no Polo Norte.
Deu mais alguns passos e parou para respirar. O calor estava sufocante.
Pensou no esforço que os beduínos fazem para sobreviver no Saara.
Tirou um lenço do bolso e enxugou a testa.
- Preciso de uma dieta, urgente.
Olhou para baixo e percebeu que já não enxergava mais os próprios pés.
Deu mais alguns passos e teve que sentar no chão.
Estava tonto.
Mas, Olegário é brasileiro e, desistir não é uma opção.
Pensou em ligar para a esposa mas, abandonou a ideia.
Mostraria a si mesmo que era forte e conseguiria chegar sem ajuda.
Mais alguns passos e a garganta já estava seca.
Olegário, ofegante, dava passos cada vez mais sofridos.
- Maldito sedentarismo.
Desde que comprou aquele carro, deixou de ser uma pessoa ativa.
Se precisasse ir na esquina, só ia se fosse de carro.
Agora, sentia o peso daquela caminhada.
Andou mais um pouco e começou a sentir dores no joelho.
Mais uma lembrança dos tempos em que era mais ativo e jogava futebol.
Época onde era conhecido como “Olé, o matador”! Atacante rápido e cirúrgico.
Bons tempos.
Agora estava mais para “ Olé, o degustador”.
Calculou que tinha andado um quarto do caminho.
Se já era um quarto ou ainda era um quarto, dependeria do ponto de vista.
Para Olegário, tinha andado uma eternidade e ainda faltava muito.
Sorte que não tinha sol para piorar a situação porque, se tivesse, Olegário não sabia dizer se conseguiria chegar ao final.
Quando chegou na metade do caminho, Olegário já pensava em desistir.
A garganta estava seca, a perna tremia, o joelho doía...
Mas, passo a passo, o heróico Olegário se aproximava do objetivo.
Quando, “ a trancos e barrancos”, finalmente conseguiu chegar, Olegário se jogou em uma cadeira e tentou recuperar o fôlego.
A esposa, ao ver aquela cena, preocupou-se.
- Você está bem, homem?
- Estou cansado, dolorido e tonto.
A esposa o encarou e, contrariada, comentou com ar de irritação:
- Todo esse drama para caminhar do quarto até a cozinha! Que situação!
Olegário até tentou responder mas, estava muito ocupado tentando respirar.
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