sábado, 15 de outubro de 2022

Ficou Feia



Ajeitei o celular, procurando o melhor ângulo, e cliquei. 
Sim, cliquei. Porque sou velho e nostálgico e coloquei propositalmente o barulhinho saudoso do clique das antigas máquinas fotográficas. 
Olhei o visor do celular e fiquei sinceramente satisfeito com o resultado. 
A pessoa fotografada, que não por coincidência, é minha esposa, olhou a foto fez uma careta e comentou:
- Gostei não. Fiquei feia. 
Peguei novamente o celular, caprichei no ângulo, medi direitinho a distância, enquadrei minha digníssima e cliquei mais uma vez. 
Realmente ficou uma obra de arte. 
A paisagem, a beleza natural de minha cutcut e o talento do fotógrafo formaram uma verdadeira perfeição em forma de fotografia. 
Feliz e empolgado, mostrei a minha companheira. 
Ela olhou, franziu uma sobrancelha e falou:
- Fiquei gorda. Tira outra. 
Tornei a olhar a foto e, intimamente, discordei mas, preferi nada dizer. 
Tomei um pouco mais de distância, fiz um melhor enquadramento e cliquei. 
Admito que, quando olhei a nova foto, tive que concordar que a anterior não estava tão perfeita assim. 
Mas essa, essa estava perfeita!
Orgulhoso, entreguei o celular a minha thuca e aguardei os agradecimentos. 
Ela, coçou a cabeça e falou:
- Meu cabelo ficou feio. Tira outra. 
Agora tinha virado questão de honra!
Ajeitei o brilho, o zoom, o enquadramento, o flash e, tornei a clicar. 
Vou te dizer sem modéstia: nem Leonardo da Vinci faria um quadro melhor. 
Com aquela cara de “quero ver você botar defeito agora”, tornei a entregar o celular a minha digníssima. 
Ela olhou, sorriu e disse:
- Minha roupa ficou desarrumada. Tira outra. 
Respirei fundo, fiz uma oração a Santa Verônica de Jerusalém, padroeira dos fotógrafos e me posicionei para tirar uma nova foto. 
Desta vez levei uns cinco minutos ajeitando tudo para tirar a foto mais que perfeita. 
Tirei a foto mais espetacular da história! Tudo simplesmente impecável, lindo, maravilhoso e perfeito. 
Entreguei uma outra vez o celular a minha amada. 
Ela olhou, fez uma careta, levantou uma sobrancelha, sorriu e, finalmente falou:
- Essa ficou até bonitinha. 
Respirei aliviado afinal, melhor “bonitinha” que ter que tirar outra foto. 
- Ótimo! Agora podemos continuar o passeio? – perguntei satisfeito. 
- Claro que não – respondeu minha bilubilu – Essas fotos foram só para testar. Agora que vou me ajeitar para tirar a foto de verdade. E vê se tira uma melhor que essas. 
Sorri amarelo para que, a vontade de chorar não ficasse transparente.

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