sábado, 15 de outubro de 2022

A Dieta



Vou te falar uma coisa: eu não gosto de médico. 
E não é que eu não goste do Doutor Josafá ou da Doutora Fátima. 
Não é isso. Sei que são profissionais gabaritados e tal mas, sempre que posso, evito essas criaturas. 
Só procuro tais profissionais em último caso. 
Aliás, detesto cheiro de hospital, não gosto daquele troço frio que eles encostam na gente pra escutar o coração ( que, muito chiquemente, eles chamam de auscultar), não suporto seringas e, mais que tudo, odeio gastar dinheiro com remédios. 
Estou falando isso porque, recentemente, fui obrigado a procurar um destes profissionais por causa de uns problemas em minha barriga. 
Não satisfeito em me fazer passar por uma consulta com ele, o Doutor Genival ainda me deu uma guia para ir atrás de um nutricionista. 
E lá vai eu, movido pela “força do ódio” atrás deste outro tipo de médico. 
E foi justamente aí que eu me revoltei!
O cara olhou para mim e disse:
- Você precisa mudar sua dieta. 
Aí eu pergunto: o sujeito nem me conhece, não sabe o que eu como ou deixo de comer, e quer dar pitaco em minha gororoba?
Mas, vamos lá – eu pensei na hora – o cidadão estudou e sabe mais desses troços de comida que eu. Então vamos escutar o cara. 
- Tem que retirar refrigerante de sua alimentação. 
Já fiquei chateado. Poxa, venhamos e convenhamos, um acarajé com Coca Cola é bom demais. É tipo pão com manteiga, arroz com feijão ou queijo com goiabada: dá até para comer sozinho mas, não tem a mesma graça. 
Porém, se é para fazer bem, faço esse sacrifício...
- Tem que comer mais frutas...
Vou te contar uma coisa: não sou chegado a frutas. Só uso essas coisas sem graça quando preparo minhas deliciosas caipiroscas. Vocês precisam experimentar um dia! Faço de umbú, morango, mangaba...
Mas, se é para fazer bem, faço esse sacrifício...
- ... e verduras. 
Aí já é “oto patamar” para a insatisfação. 
Se eu já não sou chegado a frutas, imagine verduras!
Só no pirão que minha mãe faz uma vez no mês. Ali sim!
Sabe aquele pirão cheio de carne e verduras que, quando você come, “bate na fraqueza” e você fica suado parecendo cuscuz de milho no fogo?
Mas comer cozida?
Todavia, se é para fazer bem, faço esse sacrifício...
- E, por fim, vai ter que parar de comer feijão e farinha. 
Comecei a rir desesperadamente.
- Hilário, doutor – comentei entre as lágrimas do riso. 
Ele ficou me olhando com um ar sério e de reprovação. 
- Não estou brincando. 
Aí eu “rodei o baiano”!
Levantei e perguntei ao cidadão se ele era médico ou coveiro porque, querer cortar o arroz e o feijão do almoço de um trabalhador da construção civil que passa a manhã “virando concreto” é uma legítima e verdadeira tentativa de homicídio. 
Perguntei àquele filho de uma égua parideira, raceada com jabuti, se ele não tinha mãe! Se o pai dele comia sem arroz e feijão. 
Pior é que o cara dura ainda me falou para cortar a farinha também!
Saí de lá dentro de uma viatura porque quebrei o consultório todo, correndo atrás daquele fuinha safado. 
Agora estou aqui esperando meu advogado chegar para me tirar desta cela e abrir um processo contra aquele desnaturado travestido de médico, por tentativa premeditada, e com requintes de crueldade, de acabar com a minha pobre pessoa!
Ele vai aprender que, com a mãe, a esposa e o feijão com farinha dos outros, não se mexe.

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