Que o mundo está cada dia mais violento todo mundo já sabe.
Que os ladrões estão cada dia mais inteligentes e audaciosos, também não é novidade para ninguém.
Porém, toda regra tem exceção.
Mas, para contar esta história, preciso falar de Claudio Canguinha.
Cláudio Canguinha era um homem prevenido.
Não andava com dinheiro no bolso, não tinha cartão de crédito e não gastava com bobagens.
Claudio tinha sete calças, sete bermudas, sete cuecas e sete camisas.
Uma para cada dia da semana. Era mais que suficiente.
Quando uma peça se desgastava, ele comprava outra.
Se não houvesse necessidade, não havia gasto.
Acontece que, não é porque estamos no século vinte e um que todo mundo se modernizou. Antônio Antiquado, por exemplo, não usava maquineta de cartão de crédito e nem aceitava pix.
Era dinheiro ou caderninho de fiado.
Claudio Canguinha não gostava muito desse negócio de caderninho de fiado e, consequentemente, iria pagar em “dinheiro vivo”.
Passou no banco, sacou cem reais e seguiu a pé até o “humilde comércio” de Antônio Antiquado. Sim, a pé. Afinal, o dinheiro gasto com o par de sandálias era para ser usado e não existia necessidade de transporte por aplicativo ou ônibus. O que são vinte minutos de caminhada?
Antes de sair da agência bancária, Carlos Canguinha colocou a cédula de cem na carteira que, tinha comprado em uma liquidação na Mesbla, lá pelos idos de mil novecentos e oitenta e dois.
A bichinha estava velha e desgastada mas, seu objetivo não era ser nova e sim, guardar dinheiro. Para que comprar uma nova se aquela ainda servia?
Foi quando faltava pouco para chegar no comércio de Antônio Antiquado, que aconteceu a fatalidade que me fez contar essa história.
Lauro Larápio, conhecido e temido assaltante das redondezas, surgiu no caminho do Canguinha.
- Perdeu, coroa!
- Perdi o que, meu filho?
- O dinheiro! Isso é um assalto!
Se Carlos Canguinha não gostava de gastar dinheiro a toa, imagine dar de mão beijada para um ladrão?
O Canguinha argumentou, reclamou e esperneou mas, Lauro Larápio se mostrou irredutível. Queria porque queria o dinheiro do Canguinha.
Não conseguindo argumentar com o ladrão e nem com o revólver dele, Carlos Canguinha não viu outra solução que não fosse entregar seu amado, estimado e querido dinheirinho ao maldito ladrão.
Choroso e maldizendo o momento em que saiu de casa, o Canguinha pegou a carteira no bolso, abriu e retirou a nota de cem de dentro dela.
Neste momento, um grupo de trabalhadores surgiu de repente na rua e, percebendo o que estava acontecendo, partiram para cima do meliante aos tradicionais gritos de “pega ladrão”.
Lauro Larápio, assustado porém disposto a não sair de mãos vazias, arrebatou a carteira da mão do Canguinha e saiu correndo.
Um dos trabalhadores, preocupado, perguntou:
- O senhor está bem? Te fizeram alguma coisa?
- Na verdade, levou minha carteira vazia. O único dinheiro que eu tinha, tirei para entregar a ele e acabou ficando em minha mão.
- Menos mal...
- Menos mal nada. Estou aqui chateado porque ele levou minha carteira quase nova e agora vou ter que gastar dinheiro para comprar outra – falou revoltado o Canguinha, lembrando que não estava em seus planos comprar uma carteira esse ano.
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