Juvenal era um homem que nunca mentia: se ele falou, pode acreditar.
E, como todo nordestino, era apaixonado por sua região, suas raízes e, acima de tudo, por sua cidade natal.
Juvenal era sergipano com muito orgulho, da cidade de Lagarto.
E Lagarto era a maior paixão da vida de Juvenal. E como ele gostava de falar de terrinha!
O problema eram os exageros. No dizer de Juvenal, tudo acontecia em Lagarto e Lagarto era o centro do mundo.
-Que Varginha, que nada! O primeiro relato de extraterrestres no Brasil e no mundo, foi em Lagarto!
- Como assim, Juvenal?
- Em um mês de fevereiro de 1947, aproveitando o Carnaval de Lagarto que, nem todos sabem, mas é o maior do mundo, um ET se aproveitando do fato de estar na cidade, além dos milhões de habitantes, mais de dois bilhões de pessoas para o grandioso evento, se infiltrou em um baile a fantasia com o objetivo de estudar a humanidade.
-Foi mesmo? E aí?
- Aí que ele ficou impressionado com o nível de inteligência da população Lagartense e, sentindo-se seguro entre tanta erudição, se entregou às delicias de nossa culinária (que sempre formou os melhores cozinheiros franceses) e ao nosso irresistível licor, o melhor do mundo. Resultado: ficou tão bêbado que, alguns meses depois errou o caminho de casa e foi visto por um piloto americano lá em Washington, completamente bêbado pilotando sua espaçonave que, por sinal, tinha sido melhorada por Astolfo, um mecânico meia boca lá de Lagarto.
Outras vezes, vinha essa história:
- Esse papo que Cabral e Darwin passaram, no Nordeste, só na Bahia é pura balela!
- Vai dizer que eles foram em Lagarto?
- Claro que sim! Cabral desembarcou nas costas do Rio Jacaré que, de tão extenso, foi confundido pelos portugueses com o mar. Lá chegando encontrou uma civilização tão avançada que, decidiu voltar porque percebeu que lá, ele não iria conseguir trocar suas bugigangas e nem enganar ninguém. Aí ele foi lá pra Bahia, e encontrou os índios. Nunca relatou isso porque ficou com vergonha, mas dona Zirtudres que é descendente do povo daquela época ainda tem guardado em Lagarto, num pequeno baú, um diário contando esta história.
- E Darwin?
- Darwin esteve em Lagarto depois de passar na Bahia e no Rio de Janeiro e antes de ir no Uruguai.
- Mas porque ele faria esta viagem tão na contramão?
- Porque ele ficou sabendo da diversidade da fauna e flora de minha querida terrinha e, acima de tudo, soube da população intelectualmente mais avançada que qualquer outra da face da Terra e, isso aguçou sua curiosidade. Na verdade, não foi Darwin que formulou a Teoria da Evolução...
- Não foi Darwin? E quem foi então?
- Seu Mané Tanajura, pescador lá de Lagarto. Homem simples, mas muito vivido nessas coisas da natureza. Ele que explicou a Darwin todas aquelas coisas de evolução, só que, o safado do gringo nunca reconheceu isso e assumiu a autoria, como se aquelas idéias tivessem saído de seu próprio cérebro, e não do simplório Mané Tanajura.
E quando alguém se recusava a acreditar nas histórias claramente verídicas de Juvenal sobre sua cidade?
- Olhe, meu filho, Lagarto só não é o centro do mundo porque não quer. Somos uma cidade muito maior que Nova York, mais evoluída que Tóquio e mais populosa que toda a China.
-Então porque vocês não tomam seu lugar como líderes do mundo, se são assim tão evoluídos?
- Porque somos tímidos e não gostamos de nos gabar – responde com um sorriso discreto e as bochechas avermelhadas.
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