Mesmo sabendo que ninguém se interessa por este detalhe e não me foi perguntado, vou informar que esta é a Crônica número 70.
O que isso significa? Nada, porque não vou parar por aqui.
Mas, por ser um número redondinho, vou aproveitar para fazer uma pergunta e, gostaria que a resposta de vocês fosse a mais sincera possível.
Antes de colocar a pergunta aqui nesta Crônica, resolvi perguntar ao meu primo Odorico, o que ele achava.
Não sei se vocês conhecem o Odorico, figura popular do bairro, sobrinho de Ana Catadora. Aquela Ana que teve um caso com o Juarez Marceneiro que, acabou com uma briga entre ela e a esposa dele, a Julieta das Dores.
Menino, que briga!
As mulheres pareciam duas capoeiristas: era chute pra lá, pernada pra cá, voadora acolá e rabo de arraia para tudo quanto é lado...
Os meninos que viam a briga gritaram parecendo loucos quando Ana rasgou a blusa de Julieta, que estava sem sutiã. Um absurdo.
Dizem as más línguas que sobrou foi para seu José Assobiador. Aquele que passa o dia assobiando sentado na porta de casa. Uns falam que ele vinha passando na hora, a passeio com a esposa, Dolores das Dores, já assobiando e a esposa entendeu mal, outros dizem que o velho sem-vergonha esqueceu que estava com a esposa e, assobiou quando viu a pobre Ana ficar sem a roupa íntima da parte superior do corpo.
O fato é que, Dolores das Dores acertou uma bolacha (ou biscoito, se você for paulista) no meio das fuças (ou da cara, se você for carioca) do pobre coitado (ou velho descarado, se você for... ah, você entendeu) do José Assobiador. No final, a Dolores é das Dores mas quem sentiu dor foi o José que, segundo dizem, mordeu a língua e ficou uma semana sem poder assobiar. Uma tristeza isso porque ele parece um passarinho e dá até gosto de ouvir.
Na verdade, eu não vi o velho com a língua inchada. Quem me contou foi o Edson Pé-de-Algodão, que tem esse nome por dirigir bem devagar em vias públicas. Diz dona Dedé Mulambo que ele dirige devagar para ficar de discaração com as meninas que andam pelas calçadas.
Eu não acredito muito nisso porque, diz dona Tereza Balde de Água, conhecida lavadeira da comunidade, e pessoa mais confiável, Dedé Mulambo já não consegue “fazer mal” a uma mulher a muitos anos, desde que Clotilde Lampião, sua ex-esposa, enciumada por um corno que havia tomado, jogou um bule de café quente nas partes íntimas do marido.
Não sei se ele deu corno nela mesmo mas, rezam as línguas fofoqueiras (das quais não faço parte) que o velho safado foi visto no breguinha de Marivalda Pernas Lisas, aos desfrutes com Toinha Safada que, como o próprio nome diz, não é uma santa.
Mas, voltando a pergunta que quero fazer a vocês, aproveitando o fato desta ser a Crônica número 70, e que gostei muito da resposta de Antônio Cenourinha que, aqui para nós, é um cara meio metido a besta só porque estudou em escola particular e fez faculdade, que segundo dona Fulô, ele nem completou porque não teve dinheiro para pagar porque gastava tudo em festanças e gastanças na cidade grande e, a velha é fofoqueira mas, pode até aumentar mas não é de inventar. Se ela fala que aqui tem rato, pelo menos um calunguinha você vai achar, com certeza.
Mas onde eu estava mesmo? Fico aqui divagando sobre as pessoas de minha cidade (bando de fofoqueiros) e acabo esquecendo o que ia falar...
Ah, sim! A pergunta!
Por falar em pergunta, vocês não imaginam o que Dorotéia da casa de aluguel do Velho Chico, veio me perguntar.
Ela queria saber se eu sabia se a Zenilda, filha do compadre Agustino, estava grávida.
Logo a mim?
Fui bem claro com ela: não sou fofoqueiro para saber da vida e do bucho da filha dos outros! Falei mesmo! Mandei ela perguntar ao Floriano que é primo de Zenilda, que ele é que devia saber e era famoso pela língua solta.
Até hoje espero ela vir me dizer o que ele respondeu.
Velha tratante e sem consideração. Fico chateado com esse tipo de coisa.
Espero sinceramente que Zenilda não esteja grávida porque, todo mundo sabe que ela vive enfeitando a cabeça do marido, o pobre coitado do Carlos Parangolé, sujeito cabeça de vento que só pensa em carro e festa. Por isso que toma galha: não dá atenção a mulher.
Essa mocidade só tem abestalhado mesmo!
Aliás, na última festa que ele foi, saiu de lá carregado pelo compadre Dezembrino que, segundo dizem os fofoqueiros (classe da qual não faço parte), é um dos amantes dela.
Capaz de ter engravidado até neste dia.
Dizem inclusive, esses futriqueiros da cidade que, o Toinho Cabeça de Aeroporto nem é filho do Carlos Parangolé.
O menino parece filho de cearense mesmo, com aquela cabecinha avantajada e, aqui para nós, Dezembrino é de Fortaleza.
Mas isso eu deixo para as línguas venenosas daqui da cidade.
Esta Crônica é para fazer uma simples, direta e única pergunta.
E nada mais além disso.
Antes de perguntar, só vou acrescentar uma coisa porque detesto conversa atravessada e sem explicação: eu nunca perguntei ao Dezembrino onde ele nasceu porque eu não gosto de saber da vida dos outros. Eu sei porque a ex-esposa dele, a Aleixa Couro de Cobra me contou que ela tirou ele da vida da cachaça, lá em Fortaleza.
Disse que só vivia pelas calçadas tão bêbado que até os cachorros lambiam a boca do sujeito.
Ela me disse também que, ele bebia tanto que os cachorros, depois de lamberem a boca do sujeito, saiam cambaleando e miando, ao invés de latir. Veja se pode?
Bom, a Crônica está terminando e preciso fazer a pergunta. O problema é que eu esqueci o que ia perguntar e, a culpa é desse monte de fofoqueiros de minha cidade porque, todos sabem, eu detesto fofoca.
Daqui para a Crônica 100, eu lembro e pergunto.
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