Sabe aquele cara que tem a aparência semelhante à de alguém famoso? Ou que tem somente o nome igual ao de uma celebridade?
Normalmente o cara se dá bem com esses atributos e, até se torna famoso por causa disso ou, na pior das hipóteses, ganha um dinheirinho fazendo imitações.
Alguns até entram em festas de graça por causa deste capricho da natureza.
E você conhece alguém que seja parecido com uma celebridade e ainda tenha o primeiro nome idêntico? Se não conhece, este cara sou eu.
E, diferente da maioria das pessoas, isso não me traz nenhum benefício. Ao contrário, só me prejudica.
Esta semana inclusive, fui preso por causa desta infelicidade que me persegue durante toda minha vida.
Estava eu no aeroporto com o objetivo de comprar uma passagem para curtir merecidas férias em um país do Caribe.
Já no guichê, a funcionária me olhou de forma estranha e, pediu que eu aguardasse um pouquinho.
Já acostumado com os mal-entendidos que meu nome causava, tentei argumentar antes que a confusão começasse:
- Observe que meu nome tem um “D” só...
A funcionária se fez de deficiente auditiva e nem sequer se voltou para que eu soubesse se tinha me ouvido ou não.
Aguardei apreensivo por longos quinze minutos até que a Madame Guichê voltasse, já acompanhada por um funcionário da alfândega e um sujeito grande e forte trajado com o colete da Polícia Federal.
- Precisamos que o senhor nos acompanhe.
- Vocês já observaram que meu nome só tem um “D”? – respondi aflito.
Como mais uma vez ninguém me ouviu, fui levado até a sala da segurança onde, fui interrogado por duas horas, até conseguir provar que eu não era ele e que, meu nome era diferente porque só tem um “D”.
Após tudo isso, consegui comprar minha passagem para dali a três dias, e voltei para casa.
Na data marcada na passagem, voltei ao aeroporto e fui fazer todo o processo necessário para o embarque.
Já na fila, todos me olhavam feio. Pessoas resmungavam e ouvi alguns xingamento e ameaças.
- Gente – argumentei assustado – Não sou ele, só dei o azar de ser parecido.
Acredito que, no futuro, terei que treinar mais minha capacidade de argumentação pois, mais uma vez, ninguém parecia me ouvir.
Após um princípio de tumulto, finalmente chegou a minha vez de ser atendido e, como não poderia deixar de ser, o funcionário também não me viu com bons olhos.
- Eu sei que parece, mas meu nome é com um “D” só...
Antes de embarcar, fui novamente conduzido àquela salinha da segurança no fundo do aeroporto.
- O senhor sabe que está impedido de sair do país. Sua liberdade é condicionada a ficar dentro de casa – falou o agente da Polícia Federal – E esta sua tentativa de fuga só irá piorar sua situação.
Voltei a explicar que meu nome só tem um “D” e que, só tive a infelicidade de parecer com o sujeito e ter um nome parecido e, mais uma vez não fui ouvido.
Fui parar numa cela enquanto averiguavam se minha história era verdadeira e checavam minhas impressões digitais.
Após mais uma hora de puro aborrecimento, finalmente verificaram que minha história era verídica e me colocaram em um outro avião já que, o que eu embarcaria, havia decolado a muito tempo.
Entrei na aeronave e, além de todas as ameaças, resmungos e caras feias dos passageiros, notei que fui muito maltratado pela tripulação.
Antes de sair do país, fizemos uma escala em São Paulo onde, atravessei todo o saguão debaixo de vaias, xingamentos e ameaças de linchamento. Parecia que eu realmente era uma celebridade, pois até escolta policial eu tive... para que não apanhasse.
A gritaria era tamanha que ninguém me ouvia dizer que meu nome só tinha um “D” e, eu não era quem eles pensavam.
De volta ao avião, foi necessário que um tripulante explicasse que eu não era a pessoa que eles achavam que eu era e, somente a partir daí, pude viajar com tranquilidade e paz.
Foi quando um senhor resolveu sentar ao meu lado e passou a conversar comigo, para ouvir minhas desventuras.
- Olha – falou com toda a sabedoria que a idade lhe trazia – O problema não é sua semelhança física com ele porque, pessoas se parecem mesmo. Nem é a causa de seu sofrimento seu nome ser igual ao dele...
- Mas é diferente – protestei – o meu só tem um “D”.
O velho então, foi mais um que não me ouviu e, continuou a falar, ignorando meu protesto:
- Seu maior problema é essa mala que você carrega.
Olhei para a pesada mala de mão que sempre trazia comigo e, finalmente entendi o que sempre acontecia: o problema não era só minha aparência e meu nome, mas era tudo junto e ligado aquela maldita mala!
Agradeci com sinceridade e alegria àquele velho homem que, me respondeu com um sorriso e falou:
- Fico feliz por ter lhe ajudado, senhor Gedel, com um “D” só.
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