quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Arnold e Suas Negas


Meu nome é João Silva Santos. 
Simples assim, sem frescuras e sem invenções. 
Meu nome não tem y, não tem k e nem duas letras repetidas. 
Talvez seja por isso que eu detesto nomes complicados. 
E talvez seja por este motivo que eu odeio aquele ator que foi governador lá nos Estados Unidos e, que fez o Exterminador do Futuro: o tal do Arnold Suasefrega, ou sei lá como se escreve esse troço. 
Ou talvez eu deteste tanto esse cara, por culpa da Frozinha. 
Frozinha, na verdade se chama Rosa Medeiros Lemos mas, por se chamar Rosa e ser bem bonitinha, acabou sendo chamada de Florzinha. 
Mas, como o brasileiro adora piorar o que já é ruim, Rosa que virou Florzinha, passou a ser Frozinha. 
O fato é que Frozinha, além de ser muito bonitinha, foi minha primeira paixão. Eu, adolescente que era, como todo jovem de minha idade, era um desastre quando o assunto eram as mulheres. 
E Frozinha, que como toda Rosa tinha muitos espinhos, se aproveitava disso para tirar um pouco de sarro de minha cara. 
Nem vou enumerar aqui todos os vexames que aquela criatura já me fez passar porque, sinceramente, é constrangedor. 
Porém, voltando ao Arnold Xuavenegre, vou explicar o que meu horror por esse cidadão tem a ver com Rosa, que também era uma Frozinha. 
Aconteceu lá pelos idos de mil novecentos e oitenta e pouco que, finalmente tive coragem de chamar Frozinha para sair. 
Sugeri um cineminha e, o que estava na moda na época eram os filmes do Stallone e os filmes do Fracinegue. 
Como todo adolescente sem noção, ao invés de sugerir que assistíssemos um romance tipo Ghost, caí na besteira de perguntar à minha Rosa espinhuda se ela não queria assistir o bendito Exterminador, com o maldito Arnold Cresineguer. 
Ela me olhou com cara de riso e, maldosamente, respondeu:
- Eu assisto com você se, daqui pra lá, acertar dizer o nome do ator. 
Como assim? E eu por acaso tinha que acertar o nome esquisito daquele brutamontes para assistir um filme dele?
Amaldiçoei a hora que não a convidei para assistir algo do Van Damme. 
Esse eu ia acertar dizer o nome com facilidade. 
Marcamos para dali a três dias. Eu tinha setenta e duas horas para aprender a falar o nome esquisito daquele gringo amaldiçoado. 
Naquele tempo, sem internet, sem o “alô Google” e coisas do tipo, só tínhamos três formas de aprender esse tipo de coisa:
1 – Esperar o filme passar na Globo e prestar bastante atenção no locutor;
2 – Pedir ajuda a professora de inglês na escola;
3 – Pedir ajuda ao Toninho Cabeça, conhecido nerd tipo cdf, que frequentava a mesma escola que eu. 
A primeira opção foi imediatamente descartada porque, não tinha nenhum filme de Frazisnegue sendo anunciado para a próxima segunda feira portanto, nada de aprender com o locutor da Globo. 
A professora de Inglês, dona Carla Carrancuda, velha mal humorada e ranzinza, me mandou tomar vergonha na cara e prestar mais atenção nas aulas. Fiquei me perguntando quantas vezes ela nos ensinou a falar Arnold Cruacinegue durante suas preleções e, não lembrei de nenhuma. 
Então, o jeito foi partir atrás do Toninho Cabeça que, de besta não tinha nada, e me cobrou duzentos Cruzeiros pelo “serviço”. 
Para quem não sabe, o Real nem sempre foi a moeda usada no Brasil e, esse Cruzeiro que estou falando não tem nada a ver com o time de futebol de Minas Gerais e sim, as notas que tiveram que sair do meu bolso por culpa do Arnold Prassinega e do capricho de Frozinha. 
Paguei, confesso. Mas, valorizei cada centavo gasto. 
Foram três dias de treinamento intensivo para aprender aquele nome dos infernos. Três dias cara a cara com aquela carranca horrorosa do Toninho Cabeça, a repetir exaustivamente aquele mesmo mantra:
Xu-a-zi-ne-guer... Xu-a-zi-ne-guer... Xu-a-zi-ne-guer...
Já estava com calos e câimbras na língua quando, finalmente consegui pronunciar aquele nome que eu já passara a odiar. 
Arnold Xu-a-zi-ne-guer!
Sob aplausos entusiasmados de Toninho Cabeça, saí em direção ao cinema com Frozinha, crente que estava finalmente “por cima da carne seca”.
Lá chegando, olhei para ela com meu melhor “olhar 43” perguntei com voz de sedutor latino:
- E aí? Preparada para o cineminha?
- Primeiro, mostre que se esforçou e diga direitinho o nome do ator – falou a Rosa espinhuda, com ar de desacreditada. 
Pausadamente, descrevi o nome em tom de triunfo:
- Arnold Suasefrega. 
- Errrrouuuu – gritou aos risos, Rosa Frozinha. 
- Calma, que errei mas agora acerto – respondi, já nervoso. 
Respirei e tentei de novo. 
- Arnold Esuasnega... Arnold Suasefrega... Arnold Cruacinegue... Arnold Xuastrifega... Arnold Fracisnega... Arnold Inferno!
Acabou que, por culpa desse ator cujo maldito nome nunca consegui pronunciar, não teve cinema com minha querida Frozinha. 
Antes a convidasse para assistir Lagoa Azul. 
Por isso odeio esse sujeito e, mesmo morando no Brasil, fiz campanha contra a eleição dele lá nos Estados Unidos e não assisto nenhum filme que ele participa. Nenhum mesmo. 
E não fale desse cidadão perto de mim se não quiser ganhar um inimigo. 
Porém, o mais irônico foi ter encontrado Rosa, a Frozinha, na semana passada e, comentando sobre o acontecido ela, que agora é evangélica, me pediu desculpas e confessou envergonhada:
- Eu também nunca aprendi a dizer o nome desse tal de Crazinegue. Ô nomezinho complicado...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Felicitações

A primeira mensagem chegou antes das sete da manhã.  - Felicidades, minha amiga! Que dure para sempre! Como a Almerinda sempre foi meio desc...