quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Tum Tum Tum


Teófilo Tranquilo se mudou para uma casa nova. 
Após uma semana longa e cansativa de trabalho e um sábado estafante de mudança, o domingo foi reservado para descanso. 
Ou era o que Teófilo Tranquilo pensava. 
Acontece que, o vizinho da direita resolveu neste mesmo final de semana, começar uma obra em sua varanda. Enquanto isso, o vizinho da esquerda começou um puxadinho em sua varanda. Em contrapartida, o vizinho da casa em frente... começou a colocar azulejos em toda a residência. 
A partir das seis da manhã, uma verdadeira orquestra sinfônica foi iniciada pelos vizinhos de Teófilo Tranquilo: da direita se ouvia um “tumtumtum”, da esquerda um “pampampam” e, em frente um “rrrrrrrrrrr, dos azulejos sendo cortados. Então, Teófilo que não teve um despertar tranquilo, acordou com essa sinfonia desafinada. 
Tumtumtum, rrrrrrrrrr, pampampam, tumtumtum, rrrrrrr, pampampam. 
Teófilo Tranquilo puxou da memória, lá pelas bandas do meio-dia se, alguma vez em sua vida, já tinha visto obras onde se quebrassem tantas coisas, se martelassem tantos pregos e cortassem tantos pisos. 
Aliás, os azulejos eram um caso a parte: parecia que o cidadão havia resolvido cortar tudo em pequenos pedaços para, somente depois, ir colocando pedaço por pedaço na parede. 
Na hora do almoço, como que combinado, todos os três vizinhos pararam ao mesmo tempo os respectivos serviços. 
Teófilo Tranquilo, aproveitou a trégua e conseguiu dormir por exatos sessenta minutos. Pontualmente às treze horas, a sinfonia desafinada recomeçou em total sincronia. 
Tumtumtum, rrrrrrr, pampampam...
Seis horas da tarde, após um dia inteiro sem conseguir descansar, Teófilo deu Graças a Deus, porque a orquestra finalmente parou de tocar. 
Mas, isso não quer dizer que o pobre homem conseguiria dormir: o vizinho da direita (ou seria o da esquerda?) resolveu comemorar o dia, que deveria ter sido exaustivo por conta de tanto trabalho e, com um samba no último volume, até por volta de meia-noite. 
Teófilo, tranquilo que só ele mesmo, imaginou que aquele dia era uma exceção e ele, havia tido uma certa dose de azar. 
É, porém, mas e todavia, pontualmente às seis da manhã da segunda-feira, o orquestra macabra recomeçou. 
Tumtumtum, rrrrrrr, pampampam...
Tranquilo, o Teófilo pensou que seria injusto reclamar de pessoas que estavam trabalhando, apesar de ponderar que tão barulhentos serviços bem que poderiam começar um pouco mais tarde. 
Ao chegar do trabalho, por volta de seis horas, notou que desta vez não teve samba porém, as obras terminaram às nove da noite. 
E, dia após dia, o coreto se repetia. 
Tumtumtum, rrrrrrr, pampampam, às seis da manhã, tumtumtum, rrrrrrr, pampampam até às nove da noite. 
Teófilo, que já não conseguia estar tão tranquilo, andava mal-humorado, sonolento, cheio de olheiras e sensível até ao barulho das batidas na porta que sua namorada deu ao visitá-lo, já na segunda-feira seguinte. 
Desesperado e às lágrimas, Teófilo relatou tudo pelo que estava passando desde que tinha tido a infeliz ideia de se mudar para aquela residência. 
Patrícia Ponderada, a namorada, compadecida da situação de sua cara metade, sugeriu que Teófilo, que ficou mais tranquilo após o convite, passasse uma temporada em sua casa até que as obras da vizinhança terminassem. Rapidamente, por também não conseguir mais suportar aquela marcha sinistra (tumtumtum, rrrrrrr, pampampam), arrumaram as malas e trocaram de residência. 
Porém, reza a Lei de Murphy que, se algo ruim tiver que acontecer, vai acontecer no pior momento possível. 
Parece que, na contramão do resto do país, cimento e bloco estavam com preços bem baixos naquela cidade pois, duas reformas começaram na vizinhança de Patrícia Ponderada. E era tumtumtum, rrrrrrr, pampampam na rua de Teófilo e tumtumtum, pampampam na residência de Patrícia. 
Passaram-se uma, duas, três, quatro semanas e nada de nenhuma das cinco reformas terminarem. 
Teófilo já não conseguia mais ficar tranquilo e Patrícia não conseguia mais ser ponderada em meio a tanto barulho. 
Com os nervos a flor da pele, o casal já até começava a se desentender. 
Por motivos de saúde e sanidade, o casal juntou as economias e decidiu passar uma temporada hospedados em um hotel. 
O primeiro dia foi repleto de paz e serenidade, bem como eles precisavam, necessitavam e queriam. 
Já no segundo dia, eis que ao lado do hotel, a prefeitura começou uma reforma no asfalto e em uma praça. 
Tumtumtum, rrrrrrr, pampampam, pafpafpaf, tatatatata...
Teófilo começou a chorar e Patrícia ria histericamente. 
O casal, após um urgente atendimento médico, finalmente encontrou a paz e o sossego que tanto queriam, internados numa clínica de repouso em um canto tranquilo da cidade.

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