sábado, 15 de outubro de 2022

Bral Bral Bral



Mané Malandro tinha muito de malandro e pouco de mané. 
Por isso, naquele dia, fiquei desconfiado de estar levando vantagem sobre ele. 
Mas, eis que estou atropelando a história, começando do meio. 
Era uma manhã de domingo e estava eu, após o futebol, sentado no barzinho de sempre, saboreando a cerveja sagrada de todas as semanas. 
- Quer apostar que você não entende de conhecimentos gerais? – perguntou-me, mais que de repente, o Malandro. 
Eu logo imaginei que teria alguma “pegadinha” embutida nesta proposta mas, como nunca fui de recusar uma boa apostinha, aceitei. 
Casamos dez reais para iniciar, e o Mané, que de mané não tem nada, começou:
- Matemática... Qual a raiz quadrada de nove?
Fiz um cálculo rápido “de cabeça “ e respondi:
- Três!
- Acertou...
Peguei os vinte e botei no bolso. 
- Bota os vintão na mesa, que tem mais. Valendo quarenta contos, vamos de geografia: qual a capital do Amapá? – perguntou sorrindo, com o ar triunfante de quem tinha certeza mais que absoluta da vitória. 
- Macapá – gritei, já imaginando comprar uma caixa de cerveja com os quarenta reais. 
- E não é que o “miseravi” acertou de novo? – falou irritado, o Malandro. 
Sorri, satisfeito. 
- Agora, valendo oitenta, questão de Português: soletre paralelepípedo. 
- Pa-ra-le-le-pi-pe-do – soletrei vagarosamente, para não correr o risco de errar. 
- Mas não é possível! – gritou enfurecido, o Mané. 
Recolhi o dinheiro e já pensava em parar, quando veio o desafio:
- Mais duas perguntas e me dou por vencido. 
- Acho melhor pararmos por aqui – falei cauteloso. 
- E eu pensava que estava lidando com um cara corajoso...
Pronto! Mexeu no meu orgulho masculino e eu perdi as estribeiras. 
- Pois vou te mostrar o tamanho de minha coragem! Pode mandar a pergunta!
- Valendo cento e sessenta – falou com um sorriso arrepiante – pergunta sobre aviação: qual o sobrenome dos irmãos que alegam ter voado antes de Santos Dumont? 
Pesei que o nível de dificuldade tinha dado um salto gigantesco mas, acordo era acordo, e eu dei minha palavra. 
Pensei, forcei a memória e, finalmente respondi, sem tanta convicção:
- Foram os irmãos Wright...
- Esse cara é um gênio! – berrou socando a mesa, o Mané. 
Eu estava duplamente orgulhoso. Além de estar ganhando um bom dinheiro, mostrava que era muito bom em qualquer matéria. 
- Vou perguntar só para cumprir o acordo mesmo porque já vi que você sabe muito de tudo mas, valendo trezentos e vinte reais, vamos à pergunta...
Um calafrio percorreu meu corpo. Era a certeza que tudo aquilo levava ao golpe do malandro, que não dá ponto sem nó, que seria dado agora. 
- Repita comigo, bem rápido: bral, bral, bral. 
- Bral, bral, bral – repeti, desconfiado. 
- Bral, bral, bral – tornou a falar, o Malandro. 
- Bral, bral, bral – repeti  
- Bral, bral, bral. 
- Bral, bral, bral. 
- Bral, bral, bral. 
- Bral, bral, bral. 
- Quem descobriu a América?
- Pedro Álvares Cabral! – gritei triunfante. 
- Errou! Foi Cristóvão Colombo – falou o Malandro, rindo muito. 
Abaixei a cabeça, compreendendo finalmente, o golpe do malandro. 
- Deixa que eu pago a cerveja hoje – gritou para o dono do bar. 
E eu, cabisbaixo e um pouco mais pobre, entendi que malandro é malandro, mesmo que se chame Mané.

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