Mané Malandro tinha muito de malandro e pouco de mané.
Por isso, naquele dia, fiquei desconfiado de estar levando vantagem sobre ele.
Mas, eis que estou atropelando a história, começando do meio.
Era uma manhã de domingo e estava eu, após o futebol, sentado no barzinho de sempre, saboreando a cerveja sagrada de todas as semanas.
- Quer apostar que você não entende de conhecimentos gerais? – perguntou-me, mais que de repente, o Malandro.
Eu logo imaginei que teria alguma “pegadinha” embutida nesta proposta mas, como nunca fui de recusar uma boa apostinha, aceitei.
Casamos dez reais para iniciar, e o Mané, que de mané não tem nada, começou:
- Matemática... Qual a raiz quadrada de nove?
Fiz um cálculo rápido “de cabeça “ e respondi:
- Três!
- Acertou...
Peguei os vinte e botei no bolso.
- Bota os vintão na mesa, que tem mais. Valendo quarenta contos, vamos de geografia: qual a capital do Amapá? – perguntou sorrindo, com o ar triunfante de quem tinha certeza mais que absoluta da vitória.
- Macapá – gritei, já imaginando comprar uma caixa de cerveja com os quarenta reais.
- E não é que o “miseravi” acertou de novo? – falou irritado, o Malandro.
Sorri, satisfeito.
- Agora, valendo oitenta, questão de Português: soletre paralelepípedo.
- Pa-ra-le-le-pi-pe-do – soletrei vagarosamente, para não correr o risco de errar.
- Mas não é possível! – gritou enfurecido, o Mané.
Recolhi o dinheiro e já pensava em parar, quando veio o desafio:
- Mais duas perguntas e me dou por vencido.
- Acho melhor pararmos por aqui – falei cauteloso.
- E eu pensava que estava lidando com um cara corajoso...
Pronto! Mexeu no meu orgulho masculino e eu perdi as estribeiras.
- Pois vou te mostrar o tamanho de minha coragem! Pode mandar a pergunta!
- Valendo cento e sessenta – falou com um sorriso arrepiante – pergunta sobre aviação: qual o sobrenome dos irmãos que alegam ter voado antes de Santos Dumont?
Pesei que o nível de dificuldade tinha dado um salto gigantesco mas, acordo era acordo, e eu dei minha palavra.
Pensei, forcei a memória e, finalmente respondi, sem tanta convicção:
- Foram os irmãos Wright...
- Esse cara é um gênio! – berrou socando a mesa, o Mané.
Eu estava duplamente orgulhoso. Além de estar ganhando um bom dinheiro, mostrava que era muito bom em qualquer matéria.
- Vou perguntar só para cumprir o acordo mesmo porque já vi que você sabe muito de tudo mas, valendo trezentos e vinte reais, vamos à pergunta...
Um calafrio percorreu meu corpo. Era a certeza que tudo aquilo levava ao golpe do malandro, que não dá ponto sem nó, que seria dado agora.
- Repita comigo, bem rápido: bral, bral, bral.
- Bral, bral, bral – repeti, desconfiado.
- Bral, bral, bral – tornou a falar, o Malandro.
- Bral, bral, bral – repeti
- Bral, bral, bral.
- Bral, bral, bral.
- Bral, bral, bral.
- Bral, bral, bral.
- Quem descobriu a América?
- Pedro Álvares Cabral! – gritei triunfante.
- Errou! Foi Cristóvão Colombo – falou o Malandro, rindo muito.
Abaixei a cabeça, compreendendo finalmente, o golpe do malandro.
- Deixa que eu pago a cerveja hoje – gritou para o dono do bar.
E eu, cabisbaixo e um pouco mais pobre, entendi que malandro é malandro, mesmo que se chame Mané.
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