Foi o amigo Antônio Atazanado que me fez o convite.
Desconfio que a namorada não quis ir, por isso fui convidado.
Era para ver uma “exibição do Roberto Carlos” e claro, na condição de fã incondicional do Rei, não quis nem saber dos motivos e aceitei de bate-pronto o convite.
Contei ansiosamente cada dia, hora, minuto, segundo e centésimo para o esperado show do meu amado Rei.
Durante este período de tempo, que eram dias mas pareceram um eternidade, comprei um belo smoking, uma calça “supimpa” , um sapato social preto, lindo e lustroso e até planejei colocar uma rosa no bolso.
Bem amante a moda antiga mesmo, sabe?
Mas, para minha surpresa, parecia que o amigo Atanazado, não compartilhava do meu entusiasmo, pelo menos na questão da vestimenta.
Bateu em minha porta trajado com um tênis surrado, uma bermuda e, para arrematar, uma camisa do Palmeiras.
Não entendi nada mas, não vim ao mundo para julgar as pessoas.
Sou mecânico e não juiz.
Para confundir ainda mais minha cabeça, ele comentou que era tão raro o Roberto Carlos se exibir em nossa cidade que, ele teria que se trajar a rigor.
De qualquer forma, lá fomos nós, eu de smoking e ele de Palmeiras, rumo ao tão aguardado show.
A apresentação do Rei, é claro, tinha que ser no estádio de futebol local.
Uma coisa que me causou estranheza foi o fato da grande maioria das pessoas presentes estarem vestidas igual ao meu amigo. Eu, que sou fã de longa data, confesso que não sabia que Roberto Carlos era torcedor do Palmeiras.
Era até meio ridículo todos de bermuda e camisa e eu, lá no meio, de smoking.
Mas, não é culpa minha se as pessoas não sabem se vestir para as ocasiões.
Lá dentro o clima era festivo.
Parecia mais que eu estava no estádio para ver um jogo de futebol que um show de música do Rei Roberto Carlos.
Outra coisa que me causou estranheza foi a falta de um palco.
Onde o Rei iria fazer sua apresentação? No gramado?
E a coisa foi ficando cada vez mais esquisita quando vi vários jogadores batendo bola no campo e, pasmem, até dois bandeirinhas e um árbitro se faziam presentes.
- Será que é um show temático? – pensei com os botões do meu smoking – ou vai ter uma partida de futebol depois do show?
Posteriormente, os jogadores entraram em campo, o público comemorou com foguetes e uma partida de futebol foi iniciada.
Cada vez mais confuso, resolvi finalmente perguntar ao Antônio quando e como seria a apresentação do Rei e, para minha surpresa, ele respondeu:
- Que Rei, rapaz? O Pelé já parou de jogar faz décadas!
Ainda mais atordoado, perguntei:
- O Roberto Carlos. Que horas começa a apresentação dele?
- Já começou, não está vendo?
- Onde?
- Olha ele lá! O baixinho da camisa número seis. O jogo é beneficente e foi organizado por ele. Aquele é o lateral esquerdo Roberto Carlos, o melhor do mundo!
Foi só então que eu entendi o que estava acontecendo e como era ridículo aquele meu traje de gala em meio àquela multidão de palmeirenses.
E, para arrematar, ainda ouvi o Antônio murmurar:
- Não vem mais. Sujeito esquisito...
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