sábado, 15 de outubro de 2022

Caso Macabro



Antes de começar a contar este causo, gostaria de deixar uma coisa bem clara: eu até invento mas não aumento e tudo que conto não só é verídico como também é a mais pura verdade, registrada em ata de cartório e tudo mais. 
Uma vez esclarecido, de forma clara e sem gema, vamos ao causo. 
A primeira vez que Caetano Caninha foi ao Tô Tonto Bar, aconteceu por intermédio, sugestão e incentivo de seu vizinho, Gláucio Garçom, que trabalhava neste conceituado, renomado e mal tratado estabelecimento. 
Gostou tanto que passou a ir lá quase todos os dias do ano. 
Digo quase porque, havia um determinado dia em que Caninha não saia de casa a noite por nenhuma causa, razão, situação ou circunstância, que era a noite de Finados. 
Para Caetano Caninha, era noite de mau agouro onde, os espíritos e as almas dos mortos passeavam a procura dos entes queridos que não foram prestar contas e homenagens aos falecidos, neste dia. 
É, porém, mas, todavia, entretanto, no distante ano de 2021, por um esquecimento ou por um acidente do destino, eis que o Caninha esqueceu do dia em que o calendário apontava e, não só ficou bebendo no Tô Tonto Bar, como o fez até próximo da tenebrosa hora da meia noite. 
Ao perceber o erro, engano e falha que lamentavelmente tinha cometido, eis que o Caetano de forma amedrontada e apressada, pagou a conta e andou quase que correndo para sua casa. Eram aproximadamente vinte minutos de caminhada normal em uma estrada escura e cercada por um grande matagal, iluminada somente pela luz da lua de nosso São Jorge, padroeiro de todo homem que, bêbado ou sóbrio, encara sem medo e de forma destemida o dragão. 
Falo que são vinte minutos de caminhada normal porque existem quatro tipos de formas de caminhar, a saber:
Caminhada Preguiça: é aquela que costumamos dar às segundas feiras quando estamos indo trabalhar, ainda com lembranças e efeitos da praia, churrasco e cachaçada do domingo; Caminhada Normal: é a caminhada que damos quando não temos pressa, preguiça ou urgência; Caminhada Derrela: essa você dá, de forma desesperada de qualquer lugar até o trono do banheiro; Caminhada do Terror: basicamente o tipo de caminhada que Caetano Caninha dava naquele instante. 
A caminhada do terror costumava durar toda a eternidade pois o tempo passava a ser inversamente proporcional à pressa. 
Caetano havia caminhado por três minutos mas, em sua cabeça, pelo menos trinta minutos já haviam se passado. Qualquer folha balançada pelo vento era um susto. 
Aterrorizado e se maldizendo por ter se metido naquela situação, Caninha respirava fundo, orava, rezava, fazia preces e promessas. 
Mas, para piorar a situação, eis que uma voz foi trazida pelo vento e, seu lamento sinistro chamava por seu nome:
- Caetaaaaaaaaaaanooooooo!
Na primeira vez em que ouviu seu nome, Caninha riu nervoso. 
- São meus nervos. 
Mas, passados alguns segundos, a voz sinistra voltou a ecoar. 
- Caetaaaaaaaaaaanooooooo, me espereeeeeee!
Neste exato momento, Caninha inaugurou uma nova forma de caminhada: a Derrela do Terror. E, posso dizer sem nenhum medo de errar que, nunca nenhum ser humano conseguiu fazer tantas preces em tão pouco tempo. 
- Caetaaaaaaaaaaanooooooo, você me ouve?
A voz, parecia ser familiar e, por isso, o Caninha começou a cogitar qual das almas já desencarnadas poderia ser a responsável por aquela assombração. 
- Será que foi o Agnaldo Agiota, que morreu sem eu pagar o empréstimo? Ou a Beth Bonitinha que queria aquele Dna? Talvez o Cláudio Canalha que o processava por aquela sociedade que não deu certo? Ou o Fábio Fininho que vivia jurando vingança daquela surra que tomou?
- Caetaaaaaaaaaaanooooooo, cadê você? Aqui está escuro e não consigo te ver!
Nisso, os joelhos do Caninha se dobraram. Não pela fé mas, pela força do medo. 
Aproveitando que já estava na posição adequada, pediu a Deus e a todos a que passaram desta para melhor ressentidos com sua pessoa, que o perdoassem por tudo e qualquer coisa que houvesse feito. 
Foi neste momento de redenção que, uma mão fria acompanhada de uma respiração ofegante, alcançou seu ombro. 
- Finalmente alcancei você, Caetano – disse a voz. 
- Desconjuro! Vade retro, coisa ruim! Se afasta em nome de Jesus, alma sebosa!
Uma risada sinistra se fez ouvir no vazio da noite sem lua, arrepiando até a alma do finado tataravô de Caetano Caninha e quase fazendo o coitado desmaiar de pavor. 
- Tú tá doido homem? Sou eu, seu vizinho, Gláucio Garçom. 
- Você quer me matar de susto, cabra doido? O que está fazendo me chamando desse jeito, nessa escuridão?
- É que você esqueceu seu troco e sua carteira na mesa do bar e, como já estava no fim do plantão, resolvi correr atrás de você para devolver e aproveitar a companhia na caminhada até em casa. 
- Quase me mata do coração...
- E que cheiro estranho é esse?
- É o cheiro do alívio – sorriu amarelo Caninha, que agora só pensava em papel higiênico.

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