- Boa tarde. Procuro o chato pra valer.
O atendente coçou a cabeça.
- Desculpe senhor, mas não entendi.
- Vim comprar um chato pra valer.
- Senhor, não sei se percebeu mas, aqui é uma loja de bebidas.
- Eu sei. Foi isso que meu patrão me disse: vá na loja de bebidas e traga um chato pra valer. Vocês tem ou não tem?
- Infelizmente não, senhor.
Saiu contrariado e foi em outra loja.
- Um chato pra valer, por favor.
- Perdão?
- Perdoo sim. E o chato?
- Bom – falou o atendente, coçando o queixo – tem o Haroldo, que é bem chatinho...
- Pois me dá uma garrafa.
- É que ele é bem gordinho e não vai caber em uma garrafa. Creio que nem em um túnel aquele sujeito é capaz de caber.
- Meu patrão não me deu dinheiro para um barril não... – falou contando um bolo de notas amarrotadas que tirou do bolso.
Partiu então para a terceira loja.
- Um chato pra valer, por obséquio.
- Hein?
- Um cha-to pra va-ler – falou pausadamente.
- Isso é uma pegadinha?
- Eu tenho cara de Silvio Santos?
Saiu e procurou a quarta loja.
- Um chato pra valer, tem?
- Só alguns clientes...
E assim foi durante toda a tarde.
Lojas de bebidas, restaurantes, botecos, bares, depósitos e bibocas, ninguém tinha e nem sabiam do que se tratava.
Cansado de procurar sem achar, parou na sua biboca preferida e pediu uma cerveja.
- Um absurdo, seu Joaquim! Rodei a cidade toda e vou voltar sem a bebida.
Compadecido, Joaquim quis saber que bebida era aquela que, de tão rara, não vendia na cidade e ninguém sabia de sua existência.
- Chato pra valer – repetiu pela enésima vez.
Joaquim alisou a ponta do bigode.
- Realmente desconheço essa bebida... Você deveria ter pedido por escrito.
Achou a ideia meio boba afinal, escrito ou falado, um chato pra valer é um chato pra valer mas, pelo sim ou pelo não, “ mandou um ZAP” para o patrão.
Quando a resposta chegou, mostrou a Joaquim que sorriu e disse:
- Eu sei onde tem esse chato pra valer! Me dê um trocado a mais que trago para você em dez minutos.
Pela curiosidade e para se livrar daquela peregrinação, aceitou a proposta.
Joaquim saiu e voltou em menos de dez minutos, com uma garrafa embrulhada em um saco de mercado.
- Tem certeza que é isso mesmo?
- Certeza absoluta!
Feliz e satisfeito, voltou para seu patrão e, orgulhoso pela sua suposta eficiência, entregou-lhe a garrafa.
O patrão a retirou do saco e pegando dois copos, falou:
- Graças a Deus você achou! Não posso passar o fim de semana sem a minha bebida preferida: adoro um bom Chateou Duvalier. Eita vinho bom!
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