sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Em Bom Tom



Tom, diferente daquele que corre atrás de Jerry nos desenhos, nunca foi gatinho. Ao contrário, era um sujeito bem feinho. 
Baixinho, magro e dentuço, Tom nunca foi o destaque das festas. 
Tímido, Tom só arranjou uma namorada aos vinte anos de idade. 
E a bichinha ainda era míope. 
Dizem as línguas venenosas que o namoro terminou quando a moça, finalmente passou a usar óculos. 
Dona Fulô conta que, já prevendo isso, Tom fez de tudo para evitar a ida da namorada ao especialista. 
Chegou até a criar uma cena de ciúme na porta da clínica. 
Mas, não se engane: Tom era um homem feliz. 
O que nunca teve em beleza, compensava em simpatia. 
Tom, que não era um gato, era um boa praça. 
Bom de papo, dançarino invejável e ótimo de copo, Tom era um homem de muitas amizades. 
Vai ter uma festa? Não podemos esquecer de convidar o Tom. 
Vamos ao bar? Chama o Tom!
Missa? O Tom não pode faltar. 
O velório de finado Gumercindo é hoje? Já falaram com o Tom?
Domingo de sol, iremos à praia. Liga pro Tom!
Preciso de um namorado... Será que o Tom tem algum amigo disponível?
E essa sempre foi a sina do pobre Tom. 
Por isso, digo em bom tom que, assim vivia a vida o Tom. 
Certo dia, Mariana Docinho, moça formosa e desejada, aniversariou. 
E, como tradição na cidade naquela época, era o dia em que todos os seus pretendentes, durante a celebração, enviavam presentes, flores, bombons, cartões de aniversário e bilhetinhos apaixonados. 
Mariana Docinho, linda que só, recebeu muitos mimos e, com cada mimo, um bilhete perfumado e carinhoso. 
Entediada, porém paciente, a todos Mariana Docinho leu. 
Mas um, somente um e nada mais que um dos bilhetes chamou a atenção e cativou a formosa donzela. 
Eram palavras doces, singelas e, não se sabe porque, pareciam mais sinceras e emocionadas que as dos outros bilhetes. 
Estava assinado com o desconhecido nome de Carlos Júnior. 
Mas, quem era esse tal de Carlos Júnior?
Mariana Docinho conhecia todos os homens da pequenina cidade e, tinha certeza, ali não morava nenhum Carlos Júnior. 
Em sua festa não entravam penetras e, bastava olhar ao redor, para saber que não tinha nenhum forasteiro no ambiente. 
Mais curiosa que interessada Mariana Docinho, como também ditava a tradição, anunciou pontualmente à meia noite quem seria seu parceiro de dança pelo resto da noite festiva. 
- Muitos eu conheço, muitos me mimaram, poucos me agradaram mas, hoje escolherei para meu par, alguém que me agradou sem nem mesmo eu conhecer. Meu par de dança será o gentil e misterioso, Carlos Júnior. 
Um burburinho tomou conta do salão e, entre “loucuras”, “absurdos” e “falta de consideração”, uma cadeira foi arrastada e um homem ficou de pé. E, para a surpresa de todos, o homem que se levantou foi, ninguém menos, que um sorridente e emocionado Tom. 
Sabendo que ninguém acreditaria em seu feito, Tom já se ergueu da cadeira com o documento de identidade na mão. 
- Sou eu! O Carlos Júnior sou eu!
Mariana Docinho, arrependeu-se no mesmo instante afinal, entre tantos belos homens, acabou escolhendo o menos bonito. 
“Ao menos o que tem de feinho tem de agradável”. 
E até que dançava bem o Tom. 
Mariana Docinho, já no final da festa, até que estava se divertindo. 
Não iria namorar Tom porém, não poderia reclamar de uma noite ruim. 
Só que, acima de tudo, existia uma questão a ser respondida e, no intervalo entre uma dança e outra, Mariana Docinho não resistiu. 
- Tom, posso te perguntar uma coisa?
- Até duas, se quiser. 
- Se seu nome é Carlos Júnior, porque te chamam de Tom?
- Ah, isso foi quando eu morei em Serra Preta, ainda criança. Lá me chamavam de Tom por causa de minha aparência. 
- Mas, porque Tom? – perguntou, cada vez mais curiosa, Mariana.
- Foi coisa de um cabra chamado Nestor, que estudava lá. Ele dizia que eu era tão bonito quanto o Tom... 
- Que Tom? – questionou cheia de estranheza, Docinho. 
- Tom Cruise. 
- Hã?
- Ele dizia que eu parecia com o Tom Cruz... Credo. Aí tiraram o Credo, deixaram o Tom e a Cruz eu carrego até hoje!

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