sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Encontro às Cegas


Irineu chegou pontualmente às dezenove horas, na praça. 
Havia conversado durante três meses com a Guilhermina pelas redes sociais e, finalmente chegou o dia de conhecê-la. 
Era literalmente um encontro às cegas pois, estranhamente, Guilhermina não postava fotos. 
Quando ele perguntou o motivo, ela alegou que era muito tímida e tinha vergonha de se expor nas redes sociais. 
Irineu ficou um tanto quanto receoso mas, em nome da aventura, resolveu embarcar naquela viagem. E, com o passar do tempo, se agradou muito da moça. 
Ela era gentil, carinhosa, educada, culta e gostava praticamente das mesmas coisas que ele. 
Vestiu, conforme combinado, sua calça jeans preta e a camisa verde de botões vermelhos que comprara recentemente em uma loja de shopping. 
Já Guilhermina, com o intuito de lhe fazer uma surpresa, não quis dizer como estaria vestida e, quando o visse, se aproximaria e falaria:
- Bebê chegou, baby. 
Sentado em um banco, Irineu ficou a observar todas as mulheres que ali se encontravam. 
Tinha uma ruiva, muito bonita, alta de olhos verdes e um vestido azul decotado. Seria ela? Se fosse, seria perfeita. 
Uma morena, que mais parecia uma índia, estava de pé olhando frequentemente para o relógio de pulso. 
Irineu tossiu alto para chamar sua atenção. A morena-india o olhou com cara de tédio e voltou aos seus afazeres com o relógio. 
Já a ruiva, fez cara de nojo e se afastou. 
Uma senhora, de aproximadamente setenta anos, veio andando em sua direção. Irineu se assustou. Seria ela?
Se fosse, estaria explicada a “timidez” com as fotos. 
Mas, no alto de seus vinte e oito anos, Irineu não ficaria de forma nenhuma com uma mulher da idade de sua mãe. 
A trataria bem mas, pararia por aí. 
Para seu alívio porém, a senhora passou direto por ele. 
Ao longe, Irineu viu uma verdadeira deusa de ébano a desfilar pela praça, chamando a atenção de todos ao redor. 
Ela veio caminhando decidida em sua direção, parou em sua frente e, enquanto Irineu acalmava o coração e agradecia aos céus por sua sorte, ela, sensualmente, o olhou nos olhos e falou:
- Tem fósforo?
Irineu, que nem fumava, procurou fósforos nos bolsos enquanto perguntava, com a voz trêmula:
- Você é a Guilhermina?
- Não, eu sou a Beatriz. 
Frustrado, Irineu continuou sua ansiosa espera. 
Logo surgiu mais uma “pretendente” a Guilhermina: uma mulher de pele branca e cabelos escuros que, parecia ter saído de uma produção de Hollywood. Ela vinha caminhando graciosamente e, Irineu, conseguia sentir um delicioso aroma de rosas e até ouvia uma maravilhosa melodia de violinos tocando. Irineu abriu um sorriso e, com todo carinho do mundo, sussurrou:
- Guilhermina?
Com uma voz suave e doce, ela respondeu:
- Boa noite. Eu te conheço?
- Sou o Irineu...
- Se ninguém lhe conhece, nem eu. 
E saiu rebolando e rindo do pobre Irineu. 
Irineu já estava se sentindo tão frustrado que, para não perder a noite, aceitava a companhia até da senhora de setenta anos. 
Várias mulheres passaram pra lá e pra cá e nenhuma dizia a tão esperada frase que Irineu tanto queria ouvir. 
E, foi justamente quando o rapaz se preparava para ir embora que alguém bateu em seu ombro e, com uma voz estranhamente familiar, falou:
- Bebê chegou, baby.
Irineu abriu um sorriso e se virou, cheio de amor para dar, vender, alugar e o que mais fosse necessário fazer. 
Sorriso que rapidamente murchou quando ele viu em sua frente, de pé e com cara de poucos amigos, sua esposa, Valquíria Valente a fuzila-lo com os olhos e trazendo a mão um “pau de macarrão”. 
- Valquíria, amor – gaguejou Irineu. 
- Amor uma pitomba! – gritou nada amavelmente, a esposa – Quer dizer que o senhor gosta de conversinha em internet e de marcar encontros amorosos, não é?
- Jamais, amor – tentou se defender, sem muita convicção, Irineu. 
- Deixa de ser cara de pau, homem! Quem estava conversando esse tempo todo com você era eu! Mas, não se preocupe, que a Guilhermina está aqui e vou fazer questão de dividir ela com você!
Com muito medo da resposta, Irineu não conseguiu evitar a pergunta:
- E onde está ela?
- Aqui na minha mão! – e acertou o “pau de macarrão” no meio da testa do pobre coitado do Irineu. 
Ele passa bem mas, permanece internado em observação, no hospital da cidade. Suas roupas estão depositadas em uma sacola na porta do hospital, junto com o “pau de macarrão” e um bilhete, onde se lê:
“ Felicidades para o mais novo casal, Irineu e Guilhermina. Sejam felizes no raio que os parta. Assinado, Valquíria Valente, a mais nova solteira da cidade”.

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