quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Meio Quilo


Vocês tem noção de como é difícil ser magro?
Eu peso 54 quilos e tenho pouco menos de um metro e setenta portanto, sou bem fininho. 
Apelidos? Tive dezenas: Rambo, He-man, Hulk, graveto, moqueca de osso, sargento moqueca, e o vento levou, desnutrido, seco, equilibrista em dois gravetos, esqueleto, pouca sombra, manequim de cemitério...
Meu neto de dois anos de idade, pegou um boneco do Professor Girafalis, mostrou a mãe e falou:
- Parece com vovô!
Um cara, certa vez me disse que, se um dia eu caísse de uma altura grande, levaria dois dias para chegar ao chão e, o local onde eu cairia, ia depender da direção do vento. 
Já um amigo costuma dizer que sou um ser humano diferenciado pois, sou o único que ele conhece que, ao invés de ter coxa, joelho e canela, tenho canela, joelho e canela. 
Um outro certa vez entrou em uma loja onde eu trabalhava e passou direto por mim, que me encontrava na porta. 
Chamou no balcão e, quando eu respondi, se surpreendeu por não ter me visto quando passou. 
- Deve ter sido porque você estava de lado e, se de lado nem chuva te molha, como eu iria te ver?
E gargalhou por vinte minutos. 
E as piadinhas com vento?
“ Fecha esse guarda-chuva para não sair voando.”
“ Olha a ventania! Está com pedras no bolso?”
“ Está ventando, quer que eu te segure?”
Fora as histórias. 
Vocês já comeram macarrão em churrasco? Eu já. 
A anfitriã invocou que eu sou magro porque me alimento pouco e tirou como missão pessoal me fazer engordar nesse mesmo dia. 
Acreditem que, eu nem tinha terminado um prato e ela já trazia outro. 
Chegou ao ponto da carne ainda estar crua na churrasqueira e ela ainda estar querendo encher meu prato e, quando pensei que finalmente teria um alívio, eis que surge a criatura com um prato cheio de macarrão, carne cozida e salada. 
- Coma que você está muito magro – repetiu enquanto me entregava o prato e todos me olhavam com cara de riso. 
Outra ocasião necessitei de atendimento em uma unidade de saúde e, como procedimento padrão, fui auferir a pressão arterial. 
A enfermeira teve que enrolar o aparelho em meu braço dando uma volta a mais que o normal para que pudesse realizar o procedimento. 
- A doença que você teve fez com que perdesse muitos quilos não foi?
- Não – respondi encabulado – eu sou assim mesmo. 
Outra vez, trabalhava eu em um escritório onde bebíamos água de um daqueles bebedouros que necessitam de garrafões que, eram fornecidos via telefone e trazidos por um motociclista. 
Aconteceu que ficamos um, dois, três dias sem que os garrafões fossem fornecidos. No terceiro dia, já não aguentando mais trabalhar com sede e, questionei da chefia o motivo do desabastecimento. 
- O motoboy está doente – me informou a chefe. 
- Mas a loja não é aqui perto? Ou mudou de fornecedor?
- Não, é aqui perto mesmo. 
- E porque não me pediram pra ir buscar? – perguntei lembrando que era o único homem a trabalhar na empresa. 
- Porque achei que você não aguentava carregar afinal, você é tão magrinho que dá pena – respondeu a chefe com os olhos marejados. 
Mas, entre dezenas de histórias que eu poderia contar aqui, a mais interessante aconteceu em um shopping da cidade onde moro:
Primeiro preciso contar que, por ser magrinho e pequeno, sou frequentemente confundido com um adolescente, ao ponto de pedirem minha carteira de identidade quando vou comprar uma cerveja ou duvidarem de eu ser pai de minhas filhas. 
Uma atendente chegou a me olhar “de cima a baixo” e falar:
- Não vendemos bebida a “de menor”. 
- Mas eu não sou de menor – tentei argumentar. 
- Você já tem mais de dezoito anos? Vai ter que mostrar a identidade senão não te vendo! Pensando o que? Aqui tem fiscalização e trabalhamos com responsabilidade! Cadê seu pai?
Para piorar a situação, adoro sair por aí trajando camisa, bermuda, sandálias e um bonézinho maroto, com a aba virada para trás. 
Certo dia, chegava eu e minha magreza na praça de alimentação do shopping onde, um jovem morador de rua abordava os clientes pedindo dinheiro, ação está que foi rapidamente coibida por um segurança. 
Ao passar sendo escoltado pelo funcionário do shopping, o “pivete” olhou para mim, sorriu e falou:
- Volte, que não está dando para pedir porque o segurança está de olho! 
Constrangido, dei um sorriso amarelo e falei baixinho:
- Não vim pedir não, vim pro cinema.

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