quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Migueleza


E quem disse que a vida começa aos quarenta, não sabe o tamanho da besteira que falou. 
Eu, que acabei de chegar aos quarenta e cinco (do primeiro tempo, diga-se de passagem), acabei de ser agraciado e, porque não dizer, surpreendido mais uma vez pelos desdobramentos que a vida me trouxe. 
Minha idade, que não é pouca mas também não é lá tão avançada, já me trouxe uma quantidade considerável de surpresas, alegrias, decepções e tudo mais que foi possível acontecer. 
Duas filhas adultas e um neto já faziam parte de minha rotina quando, em uma ensolarada tarde, a notícia do milagre da vida voltou a acontecer. 
E, por ironia, numa época em que eu vivia temeroso com a morte. 
Em meio a uma pandemia devastadora, onde apesar de todo cuidado que podemos ter, a tragédia ronda, e o medo da perda repentina aterroriza todos que tem um mínimo de discernimento, eis que descobrimos que um fruto do amor entre duas pessoas, acabara de gerar a terceira. 
Por mais que tivéssemos planejado, por mais que esperássemos que, em algum momento fosse acontecer, o acontecimento foi surpreendente. 
Porém, em meio a uma realidade onde a maioria das surpresas são negativas, fomos agraciados com uma notícia que encheu nossos corações de alegria, amor e ternura. 
Miguel, o Miguelito, a Migueleza estava por vir. 
Não posso afirmar que foi uma espera longa. 
Realmente não foi. 
Já descobrimos em um estágio ligeiramente avançado e não precisamos esperar os tradicionais nove meses. 
Mas, mesmo os cinco ou seis meses de espera transcorreram de forma rápida. Parece na verdade, que, com o passar da idade, a percepção de tempo muda drasticamente. Tudo aparenta se acelerar, os dias são mais curtos e as horas passam em passos de coelho. 
Uma espera curta mas, cercada de ansiedade e expectativa. 
A já falada mudança de perspectiva de tempo, aparentemente é proporcional à ansiedade: quando foi chegando perto do esperado parto, os dias desaceleram. Inexplicavelmente, as últimas duas semanas levaram o equivalente a seis meses para passar. 
A gestação, quase sem sustos até então, pregou algumas peças. 
Migueleza brincava com nossos corações. 
Com vinte e quatro anos de idade, fui agraciado com uma linda filha; com vinte e seis, fui presenteado com outra linda filha; muitos anos depois, já com quarenta e dois. descobri a maravilhosa sensação de ser avô. 
E agora, aos quarenta e cinco, percebo mais uma vez que, cada filho traz uma emoção diferente. 
Miguel, Miguelito, Migueleza chegou cercado de expectativas, carinho e alegria para mostrar a este velho rabugento e do coração endurecido que, a ternura ainda é possível. 
Miguel, Miguelito, Migueleza chegou, tal qual aquele gol histórico e inesquecível, nos últimos minutos do jogo quando não esperamos mais nada de nosso time do coração. 
Mas, bem que Miguel, Miguelito, Migueleza poderia ter esperado mais dois diazinhos, mais algumas horinhas, para comemorarmos juntos a data de dois maio. Eu despontando nos quarenta e cinco minutos do primeiro tempo e ele, jovem que é, apenas iniciando sua longa jornada.

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