quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Muito Chique


Pense em uma pessoa chique. Agora pense em uma mais chique ainda. O mais chique que esse chique, com certeza, é o Menelau.
Homem de gosto refinado, tudo em sua alimentação é gourmet.
Seu café da manhã é gourmet: dois ovos fritos com um pouquinho de coentro em cima, porque ovo puro é coisa de pobre.
Fica uma belezura o prato. Aqueles ovos estalados com uma folhinha verdinha em cima. Vale até foto para o Instagram.
O lanche matinal? Biscoito cream-cracker com requeijão cremoso (na verdade, é com margarina, mas ninguém precisa saber disso).
Mais gourmet que isso, impossível.
No almoço, somente prato francês: miojô de galinha de segunda a sábado e, no domingo, dia especial, feijão sem carne (porque assim é mais saudável) e um leve toque de farelo de mandioca (também conhecido como farinha).
Tudo muito chique.
À tarde, uma fruta (quase sempre é banana, mas não precisa contar isso para ninguém).
Para finalizar o dia, jantar com o mais genuíno dos pratos franceses: o pão francês, recheado com um pouco de ovo gourmet.
Mas a chiqueza e a sofisticação de Menelau, nunca foi restrita apenas à alimentação. Sua vestimenta também era de fazer inveja.
Usava apenas o que existia de mais famoso e caro em matéria de grifes, todas compradas no comércio de rua, mas desnecessário ficar dando esse tipo de detalhe (afinal original ou segunda linha, o que importa de verdade é a etiqueta, não é mesmo?)
Suas saídas noturnas eram raras, mas cheias de glamour. Frequentava apenas os lugares mais caros e badalados (óbvio que, usava todo dinheiro que possuía apenas para pagar a entrada, mas quem precisa comer e beber na balada?)
Óbvio que frequentava academia! Que pessoa descolada nos dias de hoje não frequenta uma academia? E, com Menelau, não era diferente.
Pessoa exigente era o Menelau: trocava de academia de três em três meses (na verdade, não pagava as mensalidades e ficava proibido de frequentar, mas uma academia que não fazia questão de ter tão refinada pessoa entre seus frequentadores, apenas por questões de micharias financeiras, não era merecedora da presença de Menelau).
Cerveja, somente artesanais ou puro malte. Que ninguém convidasse o ilustre Menelau para uma festa com cervejas comuns e baratas! Era uma verdadeira ofensa à sua vaidade.
Menelau tinha um relógio dourado que não funcionava, mas era bonito o bastante para ser usado por ele.
Nas horas de lazer, sandálias tipo exportação (havaianas).
Não queria ter carro, afinal não gostava de dirigir. Preferia andar de carrão com motorista particular (ônibus ou Uber, quando o dinheiro dava).
Mas, com toda sua chiqueza e sofisticação, Menelau era um cara humilde: dava longas caminhadas até o trabalho e gostava de se enturmar com a população menos abastecidas financeiramente.
Invejosos dizem que ele trabalha de vendedor ambulante, mas Menelau não vê desta forma. 
Até o seu trabalho tem um nome chique: Representante Oficial em Comercializações de Produtos Para Lazer em Veículos de Alta Rotatividade.
Qualquer dia você irá vê-lo, com toda sua elegância, entrando em um coletivo e iniciando um belo discurso:
- Boa tarde, pessoal! Desculpem interromper o silêncio de sua viagem...
Menelau é o maior exemplo vivo de como o simples pode ser sofisticado.

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