Olhe bem se tem cabimento isso: Marcone resolveu que ia porque ia parar de beber. Acordou um dia, olhou sua cara de ressaca no espelho e pensou:
- Quer saber? Vou parar de beber.
Também pudera, bebeu todo o fim de semana sem parar.
Começou na sexta-feira com o happy hour com a turma do trabalho.
Saíram para conversar, falar mal do chefe e beber chopp.
Saíram, falaram mal do chefe, dos colegas que não estavam presentes, da faxineira, da esposa antipática do gerente e de quem mais lembraram de falar mal na hora. E beberam chopp. Beberam muito chopp.
No sábado, acordou, lá pelas duas da tarde, meio ressaqueado e, para rebater esta ressaca, foi para o bar tomar algumas cervejas.
Lá encontrou os parceiros de copo e, conversando as conversas que se conversa em uma conversa de bar, bebeu. E bebeu muito.
Enquanto bebia, jogou sinuca, palitinho, dominó e baralho.
E, enquanto jogava, bebia.
Saiu do bar por volta de duas da manhã.
No domingo, acordou cedo. Foi para o futebol, rebater a ressaca da ressaca do dia anterior.
Jogou e até que se sentiu melhor.
Mas, futebol que é futebol, tem que ter a resenha depois que termina.
De que adianta aquele golaço, aquele drible lindo ou aquele frango que o goleiro tomou, se não tiver resenha depois?
E resenha de futebol, como todos sabem, tem que ser no bar regada a umas cervejinhas e algumas caipirinhas.
Ficou resenhando na resenha até a hora do almoço.
Foi para casa, almoçou, dormiu e acordou no sagrado horário das quatro da tarde para assistir o futebol na TV.
Ora, domingo de tarde assistindo futebol sem cerveja é igual dirigir carro sem pneu: inviável, impossível e intragável.
Então, Marconde bebeu. Bebeu durante noventa minutos, mais o intervalo, mais o bate-bola depois da partida encerrada, mais os gols do Fantástico que, como todos sabem, é tradição.
Quando acordou na segunda-feira, resolveu que nunca mais iria beber.
Ligou a TV para ver as notícias matutinas e, a primeira coisa que apareceu foi um comercial-propaganda de cerveja. Mudou de canal e, mais propaganda de cerveja.
Chateado com aquela perturbação, desligou a TV e ligou o rádio.
Adivinhem o que estava passando? Ganha uma cerveja quem adivinhou que era propaganda de cerveja.
Desligou o bendito rádio e saiu para o trabalho.
Ressaca é um bicho miserável. Quanto mais a ressaca apertava, mais a vontade de nunca mais beber aumentava.
Trabalhou passando mal. Ficou mais tempo no banheiro que no escritório.
Passou a segunda e a terça reforçando a decisão de nunca mais encostar uma única gota de álcool na boca. Nem Biotônico tomaria, só porque tem gosto de álcool. Aliás, nem caldo de cana beberia mais porque, como todos sabem, o caldo vem do álcool e, álcool nunca mais.
Foi trabalhar na quarta e, que dia estressante.
Calor, patrão enchendo o saco... Chegou em casa cansado e estressado.
Tomou banho e sentou no sofá para descansar. Na TV, anunciavam que o seu Bahêa iria jogar e a partida seria transmitida ao vivo.
Na hora do jogo, sentou-se bem relaxado para assistir. O problema é que o Bahêa também estava relaxado e, com quinze minutos, já perdia de dois a zero. Aí não dá, né? Muito estresse para um dia só.
Quando percebeu já estava roendo as unhas e bebendo a quinta cerveja.
Que fique claro que a promessa só foi quebrada por culpa do Bahêa.
Time miserável.
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