quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O Ativismo



Com o passar do tempo, tudo muda. 
Coisas evoluem, coisas regridem; coisas melhoram, coisas pioram...
Mas tem mudanças que, de tão corretas, nos obrigam a mudar hábitos, comportamentos e até nossa forma de se comunicar. 
E, se existe uma época onde isso virou um problema, essa época é agora. 
Darei exemplos para um melhor entendimento de você que está lendo esta pequena reflexão, a seguir. 
Em princípio, eu chegava em uma padaria qualquer e pedia:
- Um café preto, por favor. 
Ou talvez, quisesse um pouquinho de leite e pedisse ao atendente:
- Põe um pingado aí, chefia!
Hoje em dia, na primeira situação, um ativista talvez me dissesse, furioso:
- Como assim, um café preto? Este café não pode ser denominado pela sua cor, raça, orientação sexual ou credo! Ele não é um café preto e sim, um café afrodescendente! Respeito é bom e o café gosta e merece!
Na segunda frase, o ativista poderia dizer:
- Um momento, meu senhor! O fato do café ser miscigenado não lhe dá o direito de criar apelidos preconceituosos para ele! Não existe pingado ou moreno! Este é um café que está nitidamente sendo julgado por ser um típico representante da mistura de raças que compõem nossa nação!
Em ambos os casos eu provavelmente seria vaiado, filmado e processado. 
Tenho muita vontade de criar um cachorro mas, sempre preferi os animais machos porque não teria como dar conta de uma possível procriação. 
Hoje em dia, isso daria margem a três desagradáveis situações:
1 – seria taxado de machista por só querer um animal do sexo masculino; 
2 – seria condenado publicamente por estar julgando que o animal, por ter nascido com órgãos genitais masculinos, teria por obrigação um comportamento hétero e, por tabela, estaria coibindo sua liberdade de orientação sexual e o “colocando no armário” à força;
3 – estaria tendo um comportamento lamentável ao imaginar que, caso adotasse uma fêmea, imaginasse que ela seria um mero objeto sexual e sairia por aí procriando com qualquer um. 
Em qualquer um dos casos, eu estaria tendo um comportamento lamentável, lastimável e condenável. 
Ao instalar um ar-condicionado em minha residência, teria que evitar dizer que é porque preciso da casa mais fresca. 
Seria preso e enquadrado por injúria homofóbica. 
O correto seria explicar que preciso da casa mais bem ventilada. 
Outro dia, perdi uma amizade porque falei a uma amiga que estava com uma puta dor de cabeça. 
A criatura ficou furiosa e, com um discurso de quarenta minutos, exigiu respeito a todas as profissionais do sexo e, mesmo eu tentando explicar que as respeitava e me referia apenas e exclusivamente à dor que estava sentindo, fui chamado de “porco chauvinista”, “desrespeitador da profissão alheia”, “aproveitador sexual” e “vergonha da humanidade”. 
Recentemente, tive problemas no açougue também. 
Pedi ao açougueiro que retirasse as “gordurinhas” da carne pois, gostava mais dela magrinha. 
Uma senhora levemente obesa, escandalizada e chateada, me chamou de gordofobico, ligou para  a polícia e até hoje respondo processo por causa disso. Atualmente compro qualquer carne que o açougueiro ofereça. 
Aliás, carne tem me causado outro sério problema: como tenho por hábito fazer churrascos para a família no quintal de casa, tenho recebido telefonemas ameaçadores e meu muro foi pichado com os dizeres “genocida de animais”. Já fiquei sabendo inclusive que está sendo organizada uma manifestação, com direito a buzinaço e panelaço em frente a minha residência para protestar e exigir das autoridades que proíbam esse “meu costume bárbaro, desumano e inadequado” de todo fim de semana. Como carne está cara e não posso encarar outro processo, já avisei a família que não teremos mais churrascos. 
Situação curiosa passou, na semana passada, meu amigo Edu Bolha. 
O coitado, tem uns quilos a mais e uma barriguinha bem avantajada. 
Certo dia, a pedido da empresa onde trabalha, foi fazer uma entrega numa maternidade e quase apanhou, por ter sido acusado de zombar e faltar com respeito às gestantes que lá se encontravam.
Se safou somente quando alegou estar sofrendo abuso gordofobico. 
Já o Afonso, pagou por ser um cara ignorante e sem paciência. 
Vinha andando pela rua quando trombou com um adolescente que vinha na direção oposta com a atenção voltada para o aparelho celular. 
Com toda rispidez que era de costume, Afonso berrou para o jovem:
- Você está cego, seu peste?
Tomou uma bengalada na cabeça e, antes de desmaiar, ouviu uma voz dizendo a plenos pulmões:
- Respeite os deficientes visuais!
Mas o pior mesmo aconteceu com comadre Ernestina!
Conversando na rua sobre esse tipo de comportamento, falou que o certo era se comportar igual aos três macaquinhos orientais:
- Não vejo, não falo e não escuto...
Foi presa ontem após sofrer uma denuncia conjunta das Associações das Pessoas com Deficiência Visual, das Pessoas com Deficiência Auditiva e das Pessoas com Deficiência na Fala, de ação discriminatória, ao comparar as pessoas com macacos. 
Não tá fácil pra ninguém...

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