sexta-feira, 14 de outubro de 2022

O Despertador



Acordei e, é claro, abri os olhos. 
Até porque, se eu não tivesse aberto os olhos, este causo não aconteceria. 
Bom, depois que abri os olhos, tateei com a mão a procura do celular. 
Peguei o dito cujo e, para minha plena satisfação, o relógio marcava exatamente quatro horas da madrugada. 
Sorri de felicidade, deixei o celular de lado, fechei os olhos e voltei a dormir afinal, eu ainda tinha mais duas horas antes de levantar. 
Voltei a acordar e abrir os olhos. 
Porque, se não abrisse os olhos e continuasse dormindo, este causo não continuaria. 
Mas, o fato é que, eu abri os olhos e esta é uma verdade incontestável. 
Novamente olhei para o relógio do celular. 
Me perguntei porque eu tinha que olhar as horas se eu já tinha colocado o despertador para as seis da manhã. 
Mas, mesmo sem que nem mesmo eu entenda o motivo de fazer isso, assim eu fiz e, para minha plena surpresa, eis que o relógio marcava quatro e vinte da matina. 
Eu havia dormido apenas vinte minutos. 
Para evitar perder preciosos segundos de meu sono olhando para o relógio, conferi se o despertador estava realmente ligado e, para minha plena surpresa, estava desligado. 
Pensando em como havia sido bom eu ter conferido e me perguntando o quando e o porque de ter desligado, liguei novamente o alarme. 
Até porque, se eu ficasse forçando a memória para lembrar, acabaria por perder o sono. E, afinal de contas, que diferença isso fazia agora?
O importante é que, agora, o alarme estava ligado. 
Virei para o outro lado e tornei a fechar os olhos. 
Porque, obviamente, fiz tudo isso de olhos abertos. 
Demorou um pouco mas, finalmente consegui dormir de novo. 
O problema foi que voltei a abrir os olhos. 
Um galo cantava ao longe. Por mais poético que isso possa parecer para você que está lendo, para mim só serviu para acordar e abrir os olhos. 
Dois pensamentos vieram a minha mente, neste instante:
1 Porque eu abri os olhos? Eu não poderia acordar, ficar de olhos fechados e dormir de novo? Não entendo essas coisas...
2 E se o alarme já tivesse tocado e eu, dominado pelo sono, não houvesse conseguido ouvir? Temeroso desta possibilidade, tornei a pegar o celular. 
Cinco e dezessete da manhã. 
Eu ainda tinha pouco mais de quarenta minutos para cochilar. 
Após perder uns dez minutos com pensamentos aleatórios, tipo porque as vacas produzem leite líquido e os caras transformam em pó para depois nós botarmos água e virar liquido novamente, como a água vai parar dentro do coco ou como os homens da caverna faziam para tirar cáries dos dentes, finalmente consegui dormir de novo. 
Cabe salientar que, pensei em todas estas coisas, com os olhos fechados porque, se estivessem abertos, eu não dormiria de novo. 
Acordei novamente, desta vez com o barulho do meu próprio ronco e, talvez somente para manter a tradição, passei a mão pela cama a procura do celular. Desta vez, e somente desta vez, fiz isso de olhos fechados. 
Já de olhos abertos, olhei para a tela brilhante e lá estava, de forma impiedosa, marcando o horário de cinco e cinquenta e dois. 
Resmunguei alguns palavrões, roguei algumas pragas contra o meu patrão e pisquei os olhos. 
O problema é que nessa piscada, quando tornei a abrir os olhos, percebi que o celular (que ainda se encontrava em minhas mãos) já havia tocado o alarme e, posteriormente, a função soneca três vezes!
Já eram seis e trinta e cinco!
Dei um salto que deixaria Diego Hipólito impressionado, voei por cima de minha esposa que dormia ao lado e já caí de pé no meio do quarto. 
Corri para o banheiro, tomei o banho mais rápido de minha vida, bebi um café frio e engasguei com um pedaço de pão. 
Corri de volta para o quarto, vesti a primeira roupa que encontrei, penteei os cabelos e, como de costume antes de sair, dei um beijo na esposa. 
Informo, só como complemento, que fiz todas estas coisas de olhos abertos pois, obviamente, nada conseguiria fazer de olhos fechados sem que acabasse por me acidentar e, ao invés de chegar atrasado no trabalho, chegar carregado em  um hospital. 
Ela, sonolenta (e de olhos fechados), me desejou um bom dia e voltou a dormir. Saí do quarto e me dirigi até a saída. 
Já do lado de fora, olhei mais uma vez (de olhos definitivamente abertos) para o relógio do celular, para ver qual o tamanho do meu atraso naquele momento. Foi aí que constatei duas coisas:
1 Eu estava, pelo menos, vinte minutos atrasado;
2 Eu estava quarenta e sete horas e quarenta minutos adiantado.
Não entendeu? Eis que explicarei:
Acontece que só trabalho de segunda a sexta e, em um cantinho escondido na tela do celular, estava a discreta porém útil informação de que eu me encontrava em uma ensolarada manhã de sábado!
Resmungando alguma palavrões contra a minha própria pessoa, voltei para casa, vesti meu pijama e tornei a deitar. 
Fechei os olhos pois, só assim consigo dormir mas, o sono não veio. 
Pensei em futilidades tipo, como seria a camisa do Bahia se fosse verde e roxa, se alguém reconheceria o Lula se ele tirasse a barba e porque as pessoas contam carneirinhos para dormir se a maioria nunca viu um carneiro na vida. Não seria mais sensato contar cachorros?
Porque todo mundo já viu um cachorro na vida...
Enfim, o tempo passou, e eu não dormi mais. Agora estou aqui contando este causo a vocês, às dez e meia da manhã, enquanto a esposa ri de minha cara e me chama de maluco. 
Mas amanhã é domingo e já colei um lembrete no fundo do celular, onde lerei de olhos abertos:
“ Vá dormir porque você só trabalha amanhã”. 
A esposa disse que, todos os dias reza a Deus para que não tenhamos filhos loucos iguais ao pai. 
Eu, por minha vez, acho que louca é ela que dorme com os olhos meio abertos afinal, gente normal fica de olhos fechados quando dorme, concordam?

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