quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O Galã


Vivizinha recebeu uma mensagem na rede social. 
- Amiga, você não sabe quem está aqui na festa! – dizia o texto, abaixo de uma foto de Pablo Paredão, o ídolo e paixão de Vivizinha. 
- Aí, meu Deus! Onde é isso? 
Coordenadas dadas, Vivizinha correu para o banho, se arrumou, caprichou na maquiagem e saiu rumo à balada onde seu ídolo estava. 
Lá chegando, descobriu que não tinha mais ingressos para entrar. 
Pediu, implorou, chorou, ameaçou, rogou praga e até tentou invadir mas, sem sucesso. Os seguranças estavam irredutíveis. 
Vivizinha, vencida pela insensibilidade dos seres humanos que insistiam em barrar a realização de seu sonho, desesperada, tentou pular o muro. 
Não deu certo: seus um metro e sessenta de altura não permitiam que alcançasse nem um terço da altura do tal muro. 
Tudo que conseguiu foi sujar a roupa e um arranhado no joelho. 
Alguém comentou que, por um terreno baldio ao lado do espaço, havia um buraco na parede por onde, alguém pequeno e magro poderia conseguir passar. 
No auge do desespero de fã, lá foi Vivizinha se aventurar no tal terreno. 
Passou por baixo de uma cerca de arame farpado, deixando lá preso um tufo de seu cabelo, pisou em cocô de cachorro, escorregou em uma poça de lama e tateou no escuro a procura do tal buraco no muro. 
O que aconteceu a seguir, me deixou com duas dúvidas que nunca consegui esclarecer:
1 porque cargas d’águas alguém mantém um cachorro num terreno baldio que não tem absolutamente nada além mato? Ao menos foi explicado de onde veio o cocô que Vivizinha pisou. 
2 Como alguém que teve tanta dificuldade para entrar pela cerca de arame farpado conseguiu sair com tanta facilidade? Tudo bem que teve o incentivo do cachorro correndo atrás mas, foi uma velocidade que impressionaria até mesmo Usain Bolt. 
Com mais essa tentativa fracassada, Vivizinha voltou para a portaria. 
Lá, tinha um sujeito que dizia ter em mãos o último ingresso para entrar na festa. O problema era estar o triplo do preço normal e o dobro do que Vivizinha tinha em mãos. 
Após muita negociação, conseguiu reduzir o preço e pagou com o dinheiro que trazia consigo, o par de brincos e o anel que usava, e a bolsa que trazia a tiracolo. Mas, para Vivizinha, tudo valia a pena. 
Após confirmar que o ingresso era verdadeiro, entrou finalmente na festa. 
Logo de cara um bêbado passou por ela e comentou:
- Hum, gostei do estilo hippie...
Vivizinha ignorou o comentário, apesar de concordar que, no estado em que se encontrava após passar por tudo que passou, ser confundida com uma hippie não era nenhum absurdo. 
Em meio à multidão, Vivinha procurou ansiosa por seu ídolo. 
Era complicado com tanta gente, tantas luzes...
Mas, ao avista-lo de longe, teve certeza que tudo valeria a pena. 
Esbarrando em um, pisando no pé de outro, tomando uma cotovelada aqui, um empurrão ali, Vivizinha conseguiu finalmente chegar ao local onde seu ídolo estava sentado. 
A bichinha suava frio, estava zonza e lágrimas brotavam nos olhos, de tanta emoção e felicidade que estava sentindo. 
Trêmula, se aproximou da mesa onde ele estava sentado. 
Após alguns minutos tomando coragem, finalmente foi até lá. 
- Pablo Paredão? – falou timidamente. 
- Sim? 
Com o ambiente meio escuro, contando com aquelas luzes que cegam as pessoas, Vivizinha não podia ver com clareza seu ídolo mas, achou que alguma coisa estava errada com a voz de Pablo Paredão. 
Mas, por outro lado, era muito barulho para que se ouvisse algo com nitidez ou clareza e, podia ser só impressão. 
- Você pode tirar uma foto comigo?
- Claro! Mas só uma mesmo porque já estou de saída. 
Vivizinha tirou a foto e saiu feliz da vida. 
Teve que ligar para um amigo vir lhe buscar porque tinha gasto todo seu dinheiro com a entrada. O amigo veio mas, com a promessa de receber o dinheiro da gasolina no dia seguinte afinal, aquilo não era hora de pedir um favor desse tipo. 
Mais um prejuízo que Vivizinha concordou em pagar, feliz da vida. 
Ainda na festa, postou no Instagram a foto para matar as amigas de inveja, antes que o celular descarregasse. 
Chegando em casa, para que tudo tivesse valido mesmo a pena, foi checar os comentários de sua postagem. 
O primeiro comentário foi da amiga:
- Esse não é o Toinho?
Toinho? Será que a amiga estava bêbada? Confundir o Pablo Paredão com um Toinho?
Depois foi a inimiga:
- Tira uma foto com o Toinho e diz que foi com Pablo. 
Foi aí que Vivizinha resolveu olhar com calma a postagem e, para sua decepção e vergonha, percebeu que tinha passado por tudo que passou naquela noite apenas para tirar uma foto com Toinho, um fã que imitava o Pablo Paredão. 
Se ódio matasse, o enterro de Toinho seria amanhã às dez horas, no Cemitério Campo Santo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Felicitações

A primeira mensagem chegou antes das sete da manhã.  - Felicidades, minha amiga! Que dure para sempre! Como a Almerinda sempre foi meio desc...