quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O Sir e o Zé


Um se considera um verdadeiro Cavaleiro da Rainha da Inglaterra. 
O outro se considera um cara comum. 
Um gosta de ser chamado de Sir, como todo Cavaleiro da Rainha tem que ser chamado. 
O outro quer ser chamado de Zé, como todo José deve ser chamado. 
Um não suporta feijão. Acha uma comida pesada, grotesca e mais indicada aos plebeus. Um Sir precisa de uma alimentação mais refinada. 
O outro não sabe se gosta de comida refinada pois, nunca experimentou. Mas, não dispensa uma boa feijoada. 
Um não gosta de cerveja. Prefere um bom vinho ou uma saborosa champanhe. Só gosta de bebida fina e de bom paladar. 
Zé até bebe uma cervejinha mas, gosta mesmo é de uma caninha. 
Sir não gosta de gente. Acha todos sujos e medíocres. 
O outro adora sentar na praça e conversar com as pessoas. Acha que sempre pode aprender com as experiências alheias. 
Sir não gosta de futebol. Acha um esporte de brutos, com todo aquele contato. Prefere tênis, que é um esporte muito mais elegante. 
Zé é torcedor do Corinthians e adora um “churrasco de gato”, desses que vendem nas redondezas dos estádios. 
Sir se diverte assistindo filmes clássicos de Godard, Copolla e afins. 
Zé adora filme de terror e morre de rir com Mazzaropi. 
Sir viaja pouco mas, quando o faz, vai para o exterior. 
Zé adora uma cidadezinha de interior. Acha os costumes fascinantes. 
O nome da filha do Sir é Kethelyn. 
A filha de Zé atende por Maria. 
Sir tem um cachorro da raça Spitz Alemão, que custou uma fortuna para adquirir e custa outra fortuna para manter. 
Zé adotou um vira-lata simpático que encontrou na rua. 
O cachorro de Sir se chama Zeus. 
O vira-latas de Zé atende por Toquinho. 
Sir adora fumar charuto após o almoço. Mas, vai ter que se privar desse prazer pois está com problemas no pulmão, causados pelo fumo. 
Zé gosta de comer banana após o almoço. 
Fumar? Gosta não.  
Um dia Zé ganhou um ingresso para uma ópera. 
Em um outro dia, Sir foi apoiar um político em um samba. 
Zé ficou maravilhado com o figurino mas, dormiu a maior parte do tempo. 
Sir ficou horrorizado com a bagunça mas, até que gostou da alegria.
Uma pessoa em especial lhe chamou a atenção: um rapaz que cantou, tocou cavaquinho, sambou, comeu feijão, contou piadas e se tornou a “alma da festa”. 
Pessoa agradável e visivelmente feliz, apesar de não ter nenhum luxo. 
O rapaz não tinha carro, bebia pinga barata e, segundo soube, morava em um barraco. 
Dias depois, em uma roda de conversas da alta sociedade, perguntaram a Sir quem era sua inspiração de vida. Um filósofo? Um poeta? Um artista?
Todos riram da piada quando Sir disse que sua inspiração era um pobretão chamado Zé. 
Sir riu com eles mas, em seguida se despediu. Tinha um compromisso inadiável e muito importante: ia para um samba.
Sir estava estranho e a família já pensava em intervenção psiquiátrica, não se sabe se por preocupação ou para administrar seu dinheiro. 
Sir agora comia feijão com banana em vasilha de sorvete e tomava pinga para abrir o apetite. 
Passou a achar ópera chata, poesia sonolenta e tênis entediante. 
Começou a frequentar samba, ouvir piada em boteco e até virou torcedor do Flamengo! Sir deixou de ser Sir e passou a ser Sirvanildo do Cavaco. 
E Sirvanildo passou a ser um homem feliz. 
O Zé? O Zé continua sendo o Zé e isso é o bastante.

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