Tonico era torcedor do Flamengo desde que se entendia por gente.
E, após dezessete anos de espera, podia ver seu time prestes a ser campeão brasileiro novamente.
Na manhã do dia do jogo, arrumou a casa, botou a cerveja para gelar e convidou dois amigos para assistir com ele.
Um era também torcedor rubro-negro e o outro, era um corintiano afinal, tinha que ter alguém para tirar sarro quando a partida terminasse.
Quando começou a partida lá estava Tonico, com sua camisa da sorte, o copo de cerveja na mão e os dois amigos ao lado.
A partida começou equilibrada e nervosa e, quanto mais nervosismo, mais rápido se consome a cerveja, como sabem todos que bebem e torcem por algum clube de futebol.
Nervosismo este que aumentou quando o time adversário se atreveu a fazer o primeiro gol. Um a zero para eles e o título tão esperado indo embora. E, com isso, a tensão só aumentava.
E tome-lhe cerveja para dentro.
Tonico estava confiante mas, só a confiança não venceria aquela partida. Precisava que os jogadores em campo partilhassem daquele sentimento e fizessem os malditos gols que faltavam.
E quanto mais os minutos passavam, maior o nervosismo, maior o consumo de cerveja e os xingamentos habituais de quem está perdendo uma final.
Consta que, ainda no primeiro tempo, o Flamengo empatou o jogo, para delírio de Tonico, alegria do amigo e decepção do corintiano.
A cerveja, como todos que bebem sabe, não quer saber se o jogo é importante e nem de quantos anos você esperou por aquele dia, ela quer mesmo é sair do corpo o mais rápido possível.
Mas Tonico não estava disposto a perder o gol do título por causa de uma súbita necessidade urinária e se segurou até o fim do primeiro tempo.
O juiz apitou o final da primeira etapa e Tonico correu desesperado para o banheiro. E olhe que quase não deu tempo.
Aliviado, voltou para a sala afinal, como todo bom comentarista de sofá, era necessário resenhar sobre os primeiros noventa minutos, pois todos sabem que, ninguém entende mais de futebol do que quem está assistindo o tempo todo.
“ Falta mais agressividade aos laterais”.
“ O atacante tem que sair mais da área para buscar o jogo”.
“ O treinador tem que mexer no time”.
- Para mim está ótimo do jeito que está – falou o corintiano que, só de castigo, passou o intervalo sem beber mais nenhuma cerveja.
Onde já se viu? Vir para a casa dos outros torcer contra.
- Aliás, quem te chamou aqui? Ah é, fui eu.
Começou o segundo tempo e as latas de cerveja já se empilhavam na mesa. O jogo continuava parelho e indefinido.
O nervosismo aumentava e a cerveja já descia mais rápido da lata (copo nem se usava mais) para o estômago.
E eis que o inconveniente urinário voltava com força total.
Faltava muito para o jogo acabar e, Tonico já não conseguia se segurar.
- Não é possível que o Flamengo faça o gol enquanto eu estou no banheiro. Seria muita sacanagem e São Judas Tadeu não faria isso comigo, um flamenguista e devoto de longa data.
Tentou segurar mais um pouco, porém não conseguiu.
Correu até o banheiro e, de tão apertado, nem a porta fechou.
Quando estava lá, naquela situação onde você não pode mais parar, eis que ouviu um grito aterrorizante vindo da sala:
- É gooooooooool! Vai p* - gritou o amigo flamenguista.
- Que sujeito abestalhado – pensou Tonico – Querendo pregar peças em um momento como esses. São Judas não faria isso comigo.
Porém, após o grito, ouviu-se claramente sons de foguetes estourando e alguém tocando o hino do Flamengo.
Tonico, assim que pôde, correu até a sala e constatou que, realmente o Flamengo havia feito o segundo gol.
Era um misto de felicidade e frustração que tomava conta de Tonico.
Sentou-se para ver o resto do jogo feliz pela virada do time, frustrado por não ter visto o gol e chateado porque tinha virado alvo de chacota tanto do amigo flamenguista, quanto do chato corintiano.
Parou até de beber cerveja para não perder nenhum gol.
Foi então que os minutos se passaram e o jogo finalmente terminou.
Saíram para comemorar, terminaram de encher a cara e Tonico nem lembra como chegou em casa.
Só sabe que acordou enrolado em sua toalha com o escudo do Flamengo.
Porém, a história não termina por aqui.
Seu amigo flamenguista e o chato corintiano espalharam para todo mundo o que aconteceu e, até hoje, Tonico é conhecido por ser o único torcedor do Flamengo que não viu o gol do título daquele ano porque estava sem poder sair do banheiro.
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