terça-feira, 11 de outubro de 2022

Os Barracos e a Praia

 
A família nem era grande: pai, mãe, dois filhos e a sogra do pai.  
Mas os Barracos gostavam tanto de barulho e confusão que, onde chegavam, parecia ter chegado um batalhão.  
Eles gritavam, riam alto e brigavam entre si e com os outros.  
Cláudio Barraco era o pai; Maria Barraco, a mãe; Joãozinho Barraco e Zezinho Barraco, os filhos; e, por último mas não menos barulhenta, Teófila Barraco, a sogra de Cláudio.  
Consta que, um belo dia de sol, a família Barraco resolveu ir a praia.  
Chegaram lá com uma caixa de isopor, uma churrasqueira, um saco cheio de carne, uma toalha de mesa, dois sacos de carvão e uma sacola grande.  
Fazendo seu barulho habitual onde, Cláudio e Teófila brigavam por causa do troco da passagem do ônibus, os filhos brigavam para saber quem ficaria com uma bóia em formato de dinossauro e a mãe gritava com todos para que parassem de gritar, a família Barraco resolveu ocupar uma mesa de uma das barracas daquela praia.  
Quando o garçom perguntou o que eles iriam pedir, respondeu Cláudio Barraco, com toda sua habitual classe: 
- Nada! Tudo que precisamos já trouxemos.  
E, enquanto respondia, ia colocando carvão na velha churrasqueira.  
Quando a família foi avisada que não poderiam acender a churrasqueira ali e que teriam que consumir os produtos da barraca para poder ocupar aquela mesa, eles mostraram porque eram a família Barraco: Maria gritou que não iria sair dali e que conhecia seus direitos, Cláudio perguntou se o garçom queria “sair na mão”, Joãozinho berrava em lágrimas, Zezinho mordeu a perna do garçom e Teófila caiu no chão alegando que seu coração não estava aguentando aquela humilhação e ela iria infartar.  
Após muita briga e muito barulho, combinou-se que os Barracos poderiam acender sua churrasqueira desde que fossem para uma mesa mais afastada e que, ao menos, comprassem algo da barraca.  
Como a caixa de isopor estava repleta de cervejas, refrigerantes e água mineral, os Barracos pediram uma caipirinha.  
Aí foi motivo para outra confusão: Cláudio queria de umbu, Maria de cajá e Teófila de caju.  
Cláudio dizia que era ele que ia pagar e, por isso, ele que tinha que escolher; Maria alegava que ele já tinha escolhido a marca da cerveja e o mandava deixar de ser egoísta e Teófila, que nem bebia, dizia que ninguém respeitava sua idade. Já as crianças riam alto e torciam um para a mãe e outro para o pai. E, nesta torcida, resolveram se agarrar em uma briga onde Zezinho esticou os cabelos de Joãozinho e este, chutou o joelho do irmão.  
Alguns clientes começaram a pedir as contas e trocar de barraca, o que obrigou o garçom a repreende-los.  
Os Barracos então pediram uma caipirinha de morango e prometeram se comportar. Mas, a promessa durou pouco.  
Logo depois de sair o primeiro pedaço de carne da churrasqueira, recomeçou a briga:  
- Tenho certeza que você salgou essa carne para me matar porque sabe que tenho pressão alta – gritou chorando Teófila.  
- Sabe que até pensei nisso? Mas sua filha não deixou – respondeu aos risos Cláudio.  
- Tome vergonha e não me envolva em suas histórias! Ainda mais mentindo – berrou Maria.  
- Então quer dizer que você ia deixar seu marido me matar? 
- Mamãe, quero fazer cocô – interrompeu Joãozinho.  
- Espera um pouco, filho – gritou ainda mais alto Maria, preocupada com a discussão – Eu não disse isso, mãe... 
E a briga durou uns dez minutos até que, Zezinho após chamar a mãe quatro vezes sem sucesso, conseguiu falar mais alto que todo mundo: 
- Joãozinho foi sozinho para a água fazer cocô! 
Nova gritaria histérica da família Barraco: Cláudio derrubou a churrasqueira e queimou o pé enquanto chamava Maria de irresponsável, Maria dizia que a culpa era dele e de Teófila que brigaram e envolveram ela na confusão, Teófila dizia que, se o neto sumisse iria processar Cláudio assim que ela própria voltasse do hospital pois, tinha certeza, seu coração não estava forte o bastante para aquilo. Já Zezinho queria saber se, caso Joãozinho não voltasse, ele poderia ficar com a bicicleta só para ele.  
E lá foram Cláudio mancando e Maria gritando procurar o filho.  
Teófila deixaram na mesa, passando mal e tomando conta de Zezinho.  
Trouxeram Joãozinho chorando e sendo puxado pela orelha, para decepção de Zezinho que, já contava com a bicicleta para si mesmo.  
E foi assim o dia todo. E piorou quando as cervejas estavam acabando.  
Cláudio começou a cantar Reginaldo Rossi e chorar dizendo que não merecia a família maravilhosa que tinha; Maria havia caído da cadeira e roncava feito um motor de carro velho; as crianças se estapeavam por causa do último pedaço de carne e Teófila, aproveitava para pegar dinheiro escondido na carteira do genro.  
Mas, como nada ruim dura para sempre, os Barracos resolveram ir embora, para alívio do garçom que, por causa deles, ficou devendo umas quinze promessas a seu santo de devoção.  
Na hora de pagar o que tinham consumido, uma nova confusão: Cláudio reclamou que só tinha pedido uma caipirinha e estavam cobrando, além dela, ovos de codorna, caldo de sururu e um acarajé.  
Depois de voltar a querer brigar com o garçom, foi explicado que tudo havia sido pedido por Teófila.  
- Vocês me deixaram nervosa e, quando fico assim, preciso comer senão minha diabetes “ataca”. 
Cláudio ficou tão irritado que nem notou que estava faltando dinheiro na carteira, para alívio de Teófila e sorte do garçom.  
Após pagarem a conta, conseguirem levantar Teófila da cadeira, limpar as crianças que estavam parecendo bifes empanados com areia e água e ressuscitarem Maria, finalmente iriam embora.  
Mas não antes de chamarem o garçom pela última vez.  
Este, coitado, já veio pronto para um novo escândalo mas, não foi o que aconteceu. Ao contrário.  
- Adoramos sua barraca e seu atendimento! E, por isso, estaremos aqui todos os domingos até terminar o verão! 
E saíram deixando o garçom chorando, não de emoção como eles acharam, mas de desespero e pensando seriamente em pedir demissão.

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