E Otelo, que é sinônimo de mal humor?
Ô sujeitinho estressado, resmungão e mal-humorado!
Pago 10 cervejas para quem já tiver visto Otelo sorrindo antes deste dia, onde aconteceu esta história que irei contar.
Numa escala de rabugice que vai até 100, Otelo alcança 115.
Aconteceu que, um determinado dia, por um destes milagres que acontecem na vida uma vez a cada sessenta anos, Otelo acordou e, ao ligar o rádio, ouviu de um humorista uma piada tão engraçada, mas tão engraçada, que era impossível não rir.
Otelo deu uma gargalhada tão grande e alta que Ambrósia, sua doméstica e única pessoa que o aturava, chamou Doutor Aurelino, o médico da família para ver do que se tratava aquele “surto” de seu patrão.
Aurelino veio às pressas e encontrou o velho rabugento às lágrimas de tanto rir daquela hilária piada mal conseguindo falar para se explicar.
- Foi que kkkkkkk, quando acordei kkkkkkk, eu ouvi kkkkkkkk...
O bom doutor pensou então em introduzir, no bom sentido da palavra, um medicamento de efeito calmante e, logo depois, algo mais forte que recuperasse a sanidade de Otelo.
- Não, que calmante que nada! Estou é rindo de uma piada que ouvi hoje depois que acordei, no rádio kkkkkkkkk.
Aurelino ficou furioso! Onde já se viu? Retirá-lo àquela hora de seu consultório no meio de tantas ocupações e atrasar seus outros pacientes por causa de uma piada! Era melhor quando ele estava de mal humor.
Otelo até tentou contar a piada para o médico mas, ele de tão chateado, não só não quis ouvir como saiu batendo a porta com força.
Dedicada que era, àquela altura Ambrósia já havia convocado metade da família de Otero a comparecer na residência, temendo que o patrão estivesse enlouquecido.
- Não faz parte do meu serviço cuidar de doido. Vocês que venham aqui resolver o que fazer.
Os parentes que nunca suportaram Otelo mas que, sabiam que a quantidade de dinheiro dele era proporcional ao tamanho de seu mal humor, compareceram em peso para “auxiliar” o velho e, provavelmente louco, homem. Afinal, dinheiro é para quem está perto cuidando.
Vieram a filha Anastácia, o filho Tomé, a prima Fabricia, o irmão Caetano e até a ex-mulher, Candida.
Todos reuniram-se com Otelo na sala de casa e, com olhares de pena, quiseram saber o que acontecia com o pobre homem, que ainda ria feito um louco da piada que ouvira no rádio.
- Vou contar, kkkkkkkkk, vou contar o que aconteceu kkkkkkkkk.
E, diante dos olhares falsamente preocupados ele começou:
- Hoje de manhã, kkkkkkkkk, liguei o rádio e...
- Meu Deus – interrompeu Anastácia – Em plena era da internet o senhor ainda ouve rádio?
- Sim, ouço – continuo o risonho Otelo – Mas, deixa eu contar, kkkkkkkkk. Liguei o rádio no programa do Ricardo e...
- Não suporto este jornalista! – intercedeu Tomé – Muita polêmica e pouca notícia de verdade.
- Sim, sim, concordo – admitiu gargalhando Otelo – Mas, kkkkkk, liguei o rádio no programa dele e, kkkkkkkk, era hora do humorista Zezito...
- Nunca vi um sujeito mais sem graça – atalhou Fabricia – Nunca consegui dar uma risada das piadas dele.
- Sim, mas me deixe terminar – falou o alegre Otelo – Liguei o rádio, kkkkkk, no programa, kkkkkkk, do Ricardo e aí o Zezito começou a contar,kkkkkkk, uma piada...
- Ambrósia, tem café? – quis saber Caetano.
- Tem, sim senhor – respondeu a prestativa doméstica.
- Como eu contava – continuou o impaciente Otelo – Liguei o rádio no programa do Ricardo e, kkkkkkkkkk, Zezito estava contando uma piada, kkkkkkkkkkk, que era assim...
- Você pode trazer um pouco do café para a gente, Ambrósia? – sugeriu, quase que ordenando, Candida, a ex-mulher.
- Um homem estava andando no deserto, kkkkkkkkk, quando encontrou um bar,kkkkkk...
- No meio do deserto? – estranhou Ambrósia – E porque alguém abriria um bar no meio do deserto?
- Porque quis, pombas! – gritou o mais impaciente ainda, Otelo – Porque você não vai pegar o maldito café?
- É porque quero ouvir o resto da história...
- Então deixa eu terminar! Aí, kkkkkkkkk, o homem entrou no bar, kkkkkkkk, e pediu comida...
- Não era mais normal ele pedir água já que estava no deserto? – ponderou Anastácia.
Todos concordaram e começaram a comentar entre si a falta de lógica daquela história.
- Se alguém me interromper mais uma vez, juro que boto todos para fora e tiro do meu testamento! – gritou o enfurecido Otelo.
Todos se calaram pois, a ameaça era pesada.
- Então ele pediu a p* da comida e o garçom respondeu: só tem o que está na prateleira, kkkkkkkkk...
- Fico imaginando quem fornecia comida no deserto – falou surpresa, Candida.
- Chega! – gritou o mal-humorado Otelo – Saiam todos de minha casa agora antes que eu faça alguma besteira!
- Mas, e a história? – perguntou um.
- E sua saúde? – questionou outro.
- E o testamento? – quis saber alguém.
Mas Otelo não queria mais saber e botou todos para correr de casa.
- Por isso que sou mal-humorado: só lido com idiotas!
Quando se virou, lá estava Ambrósia de pé, olhando para ele.
- E você? O que quer?
- Ouvir o final da história.
-Não quero mais contar!
- Conta, conta, conta, conta...
- Tá bom, sua insuportável – aceitou até recuperando um pouco do humor – O garçom então disse, kkkkkkkkk, só tem o que está na prateleira, kkkkk, e o homem respondeu, kkkkkkk: “só tem esses quibes? “
Ambrosia permanecia ouvindo calada.
- Aí, kkkkkkkk, aí o garçom falou: não são quibes, são ovos cozidos, xô mosquito, xô mosquito!
E se jogou no chão, chorando de rir.
- Que mais? – perguntou uma confusa Ambrósia.
- Só isso, kkkkkkkkk, a piada acabou,kkkkkkk.
Ambrósia deu uma risadinha amarela e pegou o telefone para ligar para o psiquiatra da família.
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