sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Um Presentinho



Segundo sábado do mês de agosto e lá estava Enedina, logo cedo, na porta do único shopping center da cidade para comprar um presente para seu querido papai.
E este ano, teria que ser um presente especial!
Nada de meia, cinto ou gravata...
Diferente do sufoco que havia passado no dia das mães, desta vez o shopping estava vazio e tranquilo portanto, Enedina se sentia à vontade para transitar de loja em loja até encontrar um presente ideal.
Inicialmente entrou numa loja de celulares.
O aparelho do seu coroa estava até funcionando mas, já era tão antigo o bichinho que nem o WhatsApp funcionava mais.
Deu uma boa olhada nas opções e ficou assustada com os preços.
Resolveu então que não iria levar nenhum e compraria alguma outra coisa porém, aproveitou que ali estava e comprou um fone mais potente, uma capa nova e trocou a película do seu próprio celular.
Saiu da loja de celulares e entrou em uma de sapatos.
Uma vendedora muito prestativa lhe mostrou vários modelos de tênis mas, os que Enedina gostou eram muito caros e os que tinham um preço mais em conta, definitivamente, não eram lá de muito bom gosto.
Por fim, Enedina desistiu de comprar sapatos para seu querido papai.
Mas, já que ali estava, aproveitou e comprou uma sandália rasteirinha e uma bolsa para ela mesma afinal, precisava repor as que tinha emprestado para uma amiga e esta nunca havia devolvido.
A rasteirinha lhe rendeu a idéia de, talvez, comprar uma sandália para o pai pois, como todos sabem, Havaianas agora são presentes chiques.
Entrou em uma loja da marca e, após uma profunda análise, decidiu que também dali não levaria nada. As sandálias da loja ou eram aquelas caretas e antigas toda de uma cor só ou eram repletas de desenhos de personagens infantis. Ora, seu pai era um cidadão respeitável e não andaria com uma Havaina toda “empiriquitada” daquelas.
E quanto as de uma cor só, sinceramente, seriam o presente mais sem graça possível.
Porém, para não perder a viagem, aproveitou e comprou para si própria um par lindo, adornadas com pequenas pedrinhas, e um outro maravilhoso com Penélope Charmosa impressa. Uma belezura.
Saiu frustrada da loja de sandálias e entrou em uma de departamentos.
Por quarenta minutos procurou, com o auxílio de um simpático vendedor, uma camisa que combinasse com seu querido papai.
Mas, tarefa difícil era escolher alguma que agradasse.
Aquela que seu coroa ia adorar, estava cara; aquela que tinha um preço bom, tinha certeza que ele odiaria...
Enfim, acabou por desistir da compra.
Porém, para recompensar o esforço do pobre vendedor, comprou uma sainha jeans e uma blusinha de manga longa para sua própria pessoa.
A saia inclusive, lhe rendeu uma boa sugestão: porque não comprar uma calça jeans para seu papai?
Voltou na loja mas, desistiu da ideia pois lembrou que seu pai, já aposentado, só vivia transitando de um lugar para outro de bermuda e odiava usar calças.
Então porque não levar uma bermuda? Que boa idéia!
Nova busca com o mesmo vendedor e nada de encontrar algo que fizesse “o estilo” de seu pai. Meio sem graça de ter incomodado novamente o vendedor, Enedina resolveu comprar uma bermuda para seu namorado afinal, nunca é época ruim para presentear quem a gente ama.
Entrou em seguida numa ótica. Seu pai havia de gostar de um par de óculos escuros afinal, existe alguém que não goste?
Passeou por dezenas de modelos diferentes mas não se agradou de nenhum: todos muito modernões para seu querido papai.
Já ia saindo da ótica quando viu um modelo cor de rosa lindo. Para seu pai? Claro que não! Isso seria até uma ofensa para ele!
Só que aqueles óculos, com certeza, foram feitos para combinar com sua sandália da Penélope Charmosa!
Saiu da ótica já usando aquela fofura.
E assim foram se passando as horas: Enedina andava, andava e não conseguia encontrar nada que lhe agradasse para presentear seu papai.
Deprimida, entrou em uma loja de lingeries e comprou um baby-doll para si mesma afinal, todos sabem que comprar é uma boa terapia.
Enedina já estava quase desistindo quando, ao olhar para dentro de uma pequena loja, viu o presente perfeito para seu pai!
Entrou, escolheu rapidamente e comprou.
Saiu de lá satisfeita, com suas sacolas e o presente de seu querido papai.
No dia seguinte, tornou a acordar cedo e, com um belo sorriso no rosto, entregou o tão suado presente ao seu estimado velhinho.
Este, já sem os pudores e delicadezas da juventude, abriu o pacote e exclamou:
- Meias de novo?!
E, com um suspiro, agradeceu e voltou para o quarto.
Enedina ficou ofendida e chateada com tanta ingratidão afinal, o tempo que perdeu escolhendo aquele presente para o pai, poderia ter gasto comprando coisas para si própria.
- A ingratidão é uma coisa horrível – pensou enquanto tirava das sacolas suas compras do dia anterior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Felicitações

A primeira mensagem chegou antes das sete da manhã.  - Felicidades, minha amiga! Que dure para sempre! Como a Almerinda sempre foi meio desc...