quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Felicitações



A primeira mensagem chegou antes das sete da manhã. 
- Felicidades, minha amiga! Que dure para sempre!
Como a Almerinda sempre foi meio descompassada das ideias, não dei muita atenção. 
Fui cuidar dos afazeres que sempre cuidava antes de sair para o trabalho e não olhei mais nenhuma mensagem no celular. 
Quando estava trancando a porta, dei mais uma olhada. 
Sete mensagens recebidas, seis de felicitações. 
- Será que coloquei a data de nascimento errada nas redes sociais – pensei. 
Não dei importância para aquela loucura coletiva e fui cuidar da vida. 
Na hora do almoço, entre uma garfada e outra, dei uma olhadela no celular e lá estavam mais dezesseis mensagens de felicidades. 
- Parabéns! Quem é o sortudo? – dizia uma. 
- Olha, desencalhou – escrevia outra. 
Era muita piração para um dia só. 
O mais estranho era que, olhando com calma, não eram felicitações de aniversário e sim, de casamento. Ri comigo mesma afinal, nem namorado tenho a já um bom tempo. 
Mas, como já disse alguém, não sou responsável pela sandice alheia. 
Na hora do descanso, ouvi uma mensagem de quase dois minutos de minha mãe, reclamando sobre o absurdo de eu ter assumido um compromisso tão importante sem sequer ter comunicado a família. 
- Esqueceu que tem mãe? – perguntou minha chorosa progenitora. 
Uma mensagem menor porém, também desaforada do pai, perguntando se eu tinha vergonha de “quem tanto lutou para me tornar uma pessoa digna”. 
Meu irmão queria saber dos comes e bebes. 
A melhor amiga se dizia estarrecida. 
- É o Nicanor? Sempre achei que vocês tinham um lance...
Puxei da memória e percebi que não fazia ideia de quem seria esse tal de Nicanor. 
Estava me mordendo de curiosidade para entender toda aquela maluquice coletiva mas, se normalmente já não tinha tempo para investigações em redes sociais, naquele dia muito menos. Final de mês sabe como é...
A solução para aquele surto só surgiu a noite quando, após constatar que já haviam dezenas de mensagens de felicitações, resolvi perguntar a causa daquilo à Gertrudes cuja capacidade de saber mais da vida das pessoas que as próprias pessoas, era impressionante. 
- Será que você consegue me explicar porque está todo mundo me dando parabéns por um casamento que nunca aconteceu? – perguntei, genuinamente intrigada. 
- Por causa de sua postagem de hoje pela manhã, ué!
Corri para o tal do ZAP, a fim de compreender aquela situação e, confesso, ri muito quando finalmente entendi. 
Acontece que, ao acordar, resolvi postar uma daquelas frases motivacionais e, ao invés disso, escrevi o que realmente sentia naquele momento:
- Durmo cansada e acordo cansada. 
Até aí estaria tudo normal se o bendito corretor ortográfico não resolvesse se meter onde não foi, de forma alguma, chamado e mudou minha frase para:
- Durmo cansada e acordo CASADA. 
Agora estou aqui rindo sozinha e pensando em convidar o dono do whatsapp para ser meu padrinho de casamento. 

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

No Coletivo e na Rede



- Boa tarde, seu Antenor – falou o estranho, sentando ao meu lado no ônibus – é hoje que o senhor descobre o sexo de seu neto, não é?
Olhei fixamente para o homem, tentando lembrar se já tinha o visto alguma vez na vida. 
- Como você ficou sabendo disso? – perguntei. 
- O senhor não é pai da Sarinha Siricutico?
- Sou...
- Então! Eu vi no Instagram dela. 
- O senhor é o Antenor, pai da Siricutico? – gritou uma jovem sentada atrás de mim. 
- Sou – repeti, meio assustado. 
- Eu soube que o enxoval já está todo pago, só falta escolher a cor. É verdade?
- Bom, eu não estou sabendo disso...
- É sim, tenho certeza – afirmou uma senhora sentada na outra fileira – eu vi no Facebook!
- Inclusive, soube que gastaram uma fortuna com esse enxoval – gritou o cobrador. 
- Deixa eu adivinhar – falei em tom de ironia – viu em alguma rede social...
- Acho que ele viu no X – ponderou um pivete que tentava viajar sem pagar, na escada de entrada do ônibus. 
- X? – estranhei – Que X? X-burguer? X-salada? X-Men? Não vai me dizer que você viu naquele site de pornografia, o X-Vídeo? 
- Que pervertido! Nem parece pai da Siricutico – choramingou uma freira. 
Senti-me como o maior pecador da Terra. 
- Não, coroa. X é uma rede social. No seu tempo se chamava Twitter – explicou um menino, que aparentava ter uns cinco anos de idade. 
- Eles se conheceram no Tinder, não foi? – perguntou uma jovem com cara de sonhadora e lágrimas de emoção nos olhos. 
- Eu achei que tinha sido em um boteco chique lá no centro – estranhei. 
- Eles se conheceram no Tinder e marcaram de se encontrar neste boteco – respondeu o motorista, enquanto esperava o sinal abrir. 
- E onde fica esse lugar chamado Tinder? – perguntei, curioso. 
- Tinder é uma rede social, coroa – explicou o menino de cinco anos. 
- Siricutico, inclusive ,dança muito bem mesmo grávida – falou um velhinho, sentado próximo ao motorista – vi no Tiktok. 
- Tiktok é outra rede social, coroa – tornou a falar a criança. 
- É menino! – gritou, de repente, a freira. 
Todos gritaram, comemoraram e o motorista iniciou um buzinaço que se estendeu por toda a principal avenida da cidade. 
Fiquei meio confuso com aquilo tudo e perguntei inocentemente o que estava acontecendo. 
- Seu neto é menino, seu Antenor! – berrou o homem sentado ao meu lado. 
- Mas, como você sabe disso?
- Acabei de ver em um vídeo da ultrassom no YouTube...
Fui parabenizado, ganhei um charuto, uma garrafa de champanhe e uma moça que tinha acabado de entrar no ônibus, me pediu um autógrafo. 
- Nem vou para esse lado da cidade! Só subi neste ônibus porque reconheci o mais novo avô do ano e precisava de um autógrafo do pai da Sarinha Siricutico!
Me senti importante apesar de ainda não ter entendido como toda aquela gente sabia que eu era pai da Sarinha. 
Aliás, nunca tirei tantas fotos em minha vida! Todo mundo queria uma foto comigo para colocar em um troço chamado story. Deve ser o nome de alguma outra rede social...
Me despedi de todos e desci do ônibus. 
Enquanto caminhava, pensei que já era hora de entrar também nesse mundo das redes sociais: assim que chegar em casa vou reativar meu Orkut. 

domingo, 24 de setembro de 2023

Profissões na TV



Sabe uma coisa que sempre me chamou a atenção nas entrevistas dos telejornais, com pessoas anônimas? As legendas identificando estas pessoas. 
Normalmente aparece na tela o nome do cidadão e sua profissão, já notaram?
Tipo, João de Souza, carpinteiro. 
É como se isso definisse a pessoa. 
Mas, sempre fiquei pensando em quantas vezes o cidadão falou a verdade e em quantas vezes ele inventou na hora o que seria sua profissão. 
Afinal, nunca fui entrevistado mas, creio que nenhum repórter pede ao cidadão na rua sua carteira de trabalho para confirmar tal informação. 
Diante disto, pensei em algumas situações onde, não seria possível e nem interessante para o entrevistado revelar sua real situação profissional. 
1 – Assaltante – imaginem que inusitado um telejornal exibir uma entrevista sobre qualquer assunto e a legenda indicar: 
Marcos Silva – Intermediário de Bens Alheios;
2 – Agiota – tem gente que, a partir de uma grana que ganhou, não importa como, se sustenta de empréstimos feitos com altas taxas de juros, para pessoas desesperadas a procura de um dinheiro rápido. Neste caso, poderíamos ler a seguinte legenda:
Joaquim Messias – Bancário de Situações Excepcionais e Eliminador de Inadimplentes;
4 – Gigolô – tem aquele cidadão que vive encostado nos ganhos da mulher ou dos pais e não bate um prego numa barra de sabão. A legenda?
Carlos Henrique – Jogador de Vídeo Game e Administrador de Bens Alheios;
5 – Maconheiro – o sujeito que passa sua vida consumindo e/ou negociando este tipo de erva, não é algo tão difícil de se encontrar hoje em dia. Então, teríamos a provável e seguinte legenda:
Enzo Palhares – Apreciador e Revendedor de Ervas Finas;
6 – Chefe de Tráfico – o cara dificilmente vai aparecer para ser entrevistado na rua, por motivos óbvios mas, como tudo aqui é hipotético, segue a legenda:
Cauê Marcondes – Negociante de Produtos Alucinógenos;
7 – Golpista de Internet – aquele povo que vive ligando, passando e-mails ou enviando SMS para tentar tirar dinheiro de pessoas mais desavisadas. A legenda?
Gabriel Lopes – Operador de Telemarketing de Produtos Milagrosos;
8 – Motorista de Sequestro Relâmpago – é aquele sujeito que dirige o veículo que os meliantes usam para transportar as pobres vítimas destas ações. Segue então a provável legenda:
Jonas Pedro – Transportador de Passageiros em Condições Extraordinárias;
Acho que, se pensarmos mais um pouquinho, daria para estender esta lista para muitos outros itens mas, prefiro encerrar com uma história real ocorrida aqui na Bahia, terra onde nasci e ainda hoje resido:
Estava uma repórter fazendo, ao vivo, um quadro com o objetivo de encontrar pessoas desaparecidas quando, uma mulher relatou o desaparecimento de seu querido marido. 
Como de praxe, foi perguntado a quantidade de dias desaparecido, nome, idade e profissão e a tudo a mulher respondia com exatidão. 
O inusitado foi na hora de dizer a profissão. 
- De que ele trabalha? – perguntou a repórter. 
- Ah, ele prática pequenos assaltos...
E corta para a cara surpresa e sem graça da repórter. 

quarta-feira, 12 de julho de 2023

A Lista de Presentes



Francine Frufru era a pessoa mais chique que você poderia conhecer. 
Classe média, bem apessoada e bem relacionada, Francine Frufru era a pessoa que você deveria seguir e imitar, se quisesse saber o que é ser chique. 
Um dia, como acontece com todo mundo, chegou o aniversário de cinquenta anos de Francine Frufru. Eu disse cinquenta? Frufru, como toda pessoa chique, jamais revelou sua idade. Eu, que a conheço a muito tempo, deduzi ser esta a sua idade. 
E não revelo esse meu achismo a ninguém para que, de repente, eu não acabe sendo desconvidado de tão chique festa de aniversário. 
Como toda pessoa chique que se preze, Francine Frufru, contratou um buffet, mandou fazer lindos convites dourados que, ao serem abertos, tocavam uma bela melodia e, chique que só mesmo ela, organizou aquela que seria a mais inesquecível das comemorações que aquela cidade jamais vira e jamais verá novamente. 
Para a recepção, mandou chamar uma pessoa da capital. Primeiro porque precisava de alguém profissional, segundo porque assim era mais chique e, principalmente, terceiro porque assim, garantiria que ninguém entraria na festa sem trazer presente. 
Afinal, tinha coisa menos chique que entrar numa festa de aniversário sem trazer um belo presente para o aniversariante?
Mas, infelizmente, tem gente cara de pau que não é chique. 
O dia da festa chegou e, como esperado, foi um sucesso de chiqueza! Tudo saiu de forma esplendorosa e chique. 
Francine Frufru estava linda em seu belo vestido vermelho, a decoração estava impecável, a comida maravilhosa e, as pessoas falaram daquele sensacional evento por muitos anos. 
No dia seguinte, a primeira coisa que Francine Frufru fez foi conferir os presentes. 
Com a lista em mãos, constatou que os números não batiam. 
Cento e trinta e sete convidados e apenas cento e trinta e quatro presentes. 
Frufru recontou mais duas vezes e, realmente faltavam três presentes. 
Mas este absurdo não ficaria assim! Não mesmo!
Era só conferir os nomes na lista e, facilmente descobriria quem foram os três caraduras que não cumpriram com sua obrigação...
Sentou-se no sofá de veludo, colocou os óculos de marfim e olhou atentamente para a lista de convidados. 
Tal qual não foi sua surpresa quando percebeu que, nenhum daqueles nomes ali escritos lhe eram familiares. 
Ligou para a empresa que forneceu o recepcionista e fez a devida reclamação. 
A empresa, por sua vez, informou, garantiu a afirmou que nenhum tipo de erro ou troca havia acontecido em relação à lista de convidados. 
Abriu devidamente um processo contra a empresa e contratou um detetive para desvendar que mistério havia ocorrido com sua lista de convidados. 
Após um mês inteiro de intensa investigação, finalmente o detetive trouxe uma solução para tal enigma. 
- Não existe erro na lista – afirmou o detetive. 
- Como não há erro, se não conheço nenhuma destas pessoas? Eu convidei o Tiquinho, a Mococa, o Pançudo... E aqui tem Marinês, Carlos, Heitor...
Foi então que o detetive explicou que, os nomes pelos quais as pessoas eram conhecidas na cidade, não eram seus verdadeiros nomes e sim, apelidos. 
- O Futrica por exemplo, se chama Moacir – falou o detetive – A única forma da senhora descobrir quem não trouxe os presentes é descobrindo o nome verdadeiro de todo mundo na cidade. 
Tal procedimento, além de ser difícil, ainda não era nada chique portanto, Francine Frufru achou que nem valia a pena tanto trabalho. 
Mas, só por garantia, no ano seguinte, Francine Frufru exigiu na lista a assinatura, RG e foto de todos os convidados 

terça-feira, 2 de maio de 2023

Pão Nosso de Cada Dia



- ... e para finalizar sua dieta, parar de comer pão. 
- Descurpa, doutora, mas isso não posso não. 
- Porque não pode?
- Porque é pecado. 
- Mas, seu Nicanor, não tem pecado nenhum em não comer pão. E é até bom para sua saúde. 
- Pra saúde eu não sei mas, Deus não gosta de gente que não come pão. 
- De onde você tirou isso?
- Arre, e de onde se tira que as coisas são pecado? Dá Bíblia...
- Nunca vi isso...
- Estuda tanto e não sabe das coisas... 
- Me mostre então. 
- Quando Moisés tava fugindo do Egito, lá no deserto, o que foi que caiu do céu, mandado por Deus, para eles se alimentarem?
- Maná?
- Pão! E o que Jesus fez quando o povo tava lá assistindo o sermão dele?
- Fez um milagre...
- Multiplicou o pão! Teve pão para mais gente que a torcida do Flamengo!
- Isso é, mas...
- E na Santa Ceia? O que Jesus repartiu entre os apóstolos?
- Pão...
- Isso! O pão representou o Corpo de Cristo! Sabe como isso é importante?
- Sei sim...
- Então como é que a senhora me vem com esse desplante de dizer que não é para comer o mais sagrado dos alimentos?
- Porque na Bíblia também diz que não é bom comer pão. 
- Perdoa ela, Senhor! Não sabe o que está falando!
- Sei sim...
- Então me mostre. 
- Jesus disse: “ nem só de pão viverá o homem...”
- Disse, mas...
- O senhor sabe o que é o Dia do Pão de Deus?
- Não. 
- Era um dia em que se oferecia pão aos mortos. O senhor quer ter um belo pão francês oferecido em sua homenagem?
- Deus me livre!
- Então, se no futuro, o senhor não quiser comer o pão que o diabo amassou, siga a dieta que te passei porque, o senhor pode até entender de Bíblia mas, de nutrição quem entende aqui sou eu!

sábado, 25 de fevereiro de 2023

A República da Realeza



Passei minha vida toda ouvindo que o Brasil é uma República. 
Em algumas épocas inclusive, uma República de Bananas. 
Mas, estou aqui para dizer que cheguei à conclusão de que, na verdade, nossa “Pátria amada, salve, salve” é uma monarquia. 
Antes que você venha rebater com duzentos anos de argumentos, permita-me dar uma explicação real:
Qual foi o título dado ao já saudoso Edson Arantes do Nascimento, também conhecido como Pelé?
Rei do futebol!
Aí você dirá que isso não é o bastante afinal, nem tudo é futebol...
Então falemos de uma antiga namorada do Rei do Futebol: qual o título atribuído a cidadã Maria das Graças “Xuxa” Meneghel?
Rainha dos Baixinhos!
É pouco?
Então vamos lá: quando a maior festa do país começa, a quem são dadas as chaves das cidades?
Ao Rei Momo!
E o Carnaval nada mais é que “O Reinado de Momo”. 
E o Roberto Carlos? Não o grande lateral esquerdo da Seleção e sim, o cantor e intérprete de várias e maravilhosas canções...
É o Rei da Música!
Até entre os passarinhos no Brasil existe a realeza pois, segundo o também saudoso Jair Rodrigues, temos a “Majestade Sabiá “.
Ainda falando de música, temos o Rei do Brega, Reginaldo Rossi. 
Bom esclarecer para quem não conhece que trata-se do estilo musical e não do estabelecimento. 
Esse aliás, toda “Coroa” conhece. 
Temos também Emilinha Borba, a Rainha do Rádio. 
Já Hebe Camargo foi a Rainha da Televisão. 
Lá pelos anos oitenta, Gretchen e seu bumbum avantajado, era a Rainha do Rebolado. 
Roberta e Sula, ambas Mirandas, eram as Rainhas dos Sertanejos e dos Caminhoneiros, respectivamente. 
Não podemos esquecer de Fernanda , Montenegro que é a Rainha da Dramaturgia e de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.  
Para não dizer que só falei de música, futebol e coisas antigas, devo informar que tem um sujeito chamado Carlinhos Maia que é considerado o Rei da Internet. 
Vez em quando assisto na TV algumas competições que elegem os Reis e Rainhas da Praia ou das Quadras mas, essas são as realezas mais provisórias que existem. 
E isso se estende até mesmo aos plebeus pois, por exemplo, conheço um cara chamado Reinaldo que é tão cheio de “não-me-toques” que, dizem os vizinhos, ele parece ter “um Rei na barriga”, seja lá o que isso queira dizer. 
Às vezes, a pessoa muito popular é chamada de Rei ( ou Rainha) do pedaço. 
Quando o sujeito está se dando bem na vida, dizem que ele virou “o Rei da Cocada Preta” que, por sinal é um doce delicioso. 
Tem uns políticos que são conhecidos como Reis das Fake News mas, desse assunto prefiro “realmente” não falar. 
Na Bahia, todo mundo pode ter título de realeza pois, segundo o baianês que só Ivete Sangalo usa, todo baiano chama o outro de “meu Rei”.
Tem uma musiquinha antiga que dizia que, a mamãe é a “Rainha do Lar”.  Mas, esse tipo de realeza está em extinção, graças a Deus. 
Cada um que faça suas obrigações e dívida as tarefas, ora pois!
Já na gastronomia podemos citar, e talvez só os mais velhos lembrem, das deliciosas Bananas Reais que comíamos na infância. 
O abacaxi tem coroa;
A bicicleta também;
Então, entre tantos Reis e Rainhas, eu que sou plebeu só me sinto majestade quando passo o dia no trono por causa daquela feijoada que não caiu bem mas, que estava realmente uma delícia e era um verdadeiro banquete digno de um Rei. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

A Chupeta Desaparecida



Essa aconteceu na sexta-feira de Carnaval, a noite. 
Estávamos eu, minha esposa e meu sogro, por volta das oito e meia da noite, já relaxados enquanto o bebê brincava pela casa com algumas panelas que, ele próprio tinha pego na cozinha, sem pedir autorização a ninguém. 
Ocorre que, o pequeno herdeiro de minhas dívidas só dorme se munido de um pequeno pano e sua inseparável chupeta apesar de que, durante os períodos em que está acordado, tem o hábito de atirar ambos para longe, independente de para qual lado esteja virado. 
Já sabendo deste costume, tomei como atividade preventiva sempre procurar onde a chupeta haveria de ter parado, algum tempo antes da hora do sono do bebê. 
Às vezes, encontro fácil, outras vezes nem tanto. 
Neste dia em especial, estava bem complicado de encontrar a bendita chupeta. 
Procurei na piscina de bolinhas,  cima da mesa, atrás da porta, na varanda, nos quartos, na cozinha e nada. 
Vendo minha dificuldade, logo minha esposa e meu sogro se juntaram a busca e, em certo momento, não havia mais onde procurar. 
Apelei até mesmo para a memória do bebê, perguntando ao próprio onde se encontrava a  desaparecida chupeta, o que trouxe até a situação hilária dele estar nos ajudando na busca  
Eu olhava embaixo do armário da cozinha, a esposa dentro do berço, o sogro no quintal e o bebê procurava embaixo da mesa. 
Já no auge da preocupação com o sono daquela noite, a esposa decretou:
- O jeito vai ser correr até a farmácia e comprar outra chupeta!
- E se ele não “pegar”? – respondi, sabendo que a marca que ele costuma usar exige uma certa dificuldade em encontrar no comércio local. 
Discutimos brevemente o assunto mas, acabamos por entrar em consenso que não havia outro jeito, senão arriscar. Era isso ou ninguém dormiria aquela noite. 
Corri até a esquina apenas para constatar que, em plena sexta-feira de Carnaval, as nove da noite, ambas as farmácias estavam fechadas. 
Corri até o centro do bairro, que dá mais ou menos uns vinte minutos de caminhada, pelas ruas que, naquele momento, se encontravam escuras e desertas atrás da tal chupeta, determinado a comprar qualquer marca que encontrasse. 
Lá chegando, encontrei duas farmácias abertas e, para minha felicidade, na primeira que entrei, encontrei exatamente a marca que meu bebê costuma chupar. 
Comprei uma na cor laranja pois, estava convencido de que a anterior estava tão difícil de encontrar por ser da cor branca. 
- Quero ver essa sumir – pensei. 
Voltei correndo para casa, a fim de chegar antes do bebê resolver dormir e evitar o dramático pranto por conta da falta de um dos dois itens imprescindíveis para seu sono. 
Mais vinte minutos de caminhada e cheguei em casa, tomando imediatamente a providência de colocar a bichinha para escaldar na água fervendo afinal, cuidado nunca é demais. 
Tomei um banho e pude finalmente relaxar, sentado no sofá. 
O bebê ainda brincava pela casa e, como não podia deixar de ser, passamos a cogitar onde poderia ter parado a bendita chupeta branca. 
- Creio que só a encontraremos amanhã, por causa da cor branca – ponderei  
De repente, sem o menor aviso, minha esposa gritou:
- Encontrei a chupeta!
- Onde? – gritamos ainda mais alto, eu e meu sogro. 
- Está na boca do nenê!
Olhamos para o bebê e, estarrecidos, vimos que ele chupava despreocupadamente a bendita chupeta branca, que tanta dor de cabeça havia nos causado. 
Foi aí que entendemos o que tinha acontecido: ele a havia guardado dentro de uma das panelas que estava usando como brinquedo e ninguém sequer pensou em procurar ali dentro. 
Percebendo que todos estávamos olhando surpresos em sua direção, o bebê sorriu, tirou a chupeta da boca, apontou em nossa direção e, finalmente, decretou:
- Bibi do nenê. 
E voltou aos seus afazeres que, certamente para ele, era mais importante que nossa surpresa. 

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Vamos Qatar Recordações



Eu acho um desatino essa Copa do Mundo em dezembro. 
Aqui no nordeste, a Copa nada mais é que um complemento das festas juninas. 
A gente já está comemorando o São João, aproveita e grita gol do Brasil. 
Aqui se assiste os jogos tomando licor, comendo amendoim cozido, milho e, comemoramos as vitórias dançando forró ao redor da fogueira. 
Aí essa tal de FIFA, só para encher ainda mais as turras de dinheiro, inventa essa aberração no final do ano! Nem tiveram a decência de fazer o troço durante as festas natalinas!
Não teria amendoim e licor mas, ao menos, seria em uma data festiva!
Mas, pensando nisso, me toquei em outras coisas que senti falta esses dias:
1 Os Bolões – com esse negócio de tecnologia pra lá e pra cá, inventaram uns bolões por aplicativos de bancos, por site de apostas e sei lá mais por onde. Antes, todo barzinho tinha o seu e com suas regras. Só podia “colar” resultado uma vez, se ninguém acertasse, o dinheiro era da organização e, quando alguém ganhava sozinho, gastava tudo em cerveja no bar do próprio organizador do bolão. 
2 As Figurinhas – eu sei que a moda de colecionar figurinhas com os jogadores das seleções ainda existe mas, cá entre nós, tá muito cheio de frescurites. 
É álbum caro, é figurinha de jogador valendo uma fortuna, é figurinha sendo trocada...
Antes funcionava assim:
Álbum tinha um monte de tipos diferentes e de tudo quanto era preço. Saía até um carro com alto falante vendendo as figurinhas e trocando as premiadas pelos brindes. 
Porque sim, cada página completada dava direito a um prêmio. O difícil era conseguir a figurinha que completava a página. Já tive álbum em que todas as páginas faltavam uma única figurinha para completar e, eu nunca as achei. 
E não pensem que eu chegava a esse patamar comprando envelopes e mais envelopes, até porque, só vinham três figurinhas em cada um deles. 
E nem tinha esse negócio de trocas. A gente conseguia as figurinhas que queria era no “bafo”. 
E, se você não sabe o que é “bafo”, vou te explicar: pegávamos nossas figurinhas repetidas e desafiávamos outro colecionador. As figurinhas eram colocadas com a face voltada para baixo e, após baforar a mão com nossa própria boca, para dar aderência, a batíamos sobre as figurinhas e, as que virassem eram nossas. Normalmente terminava em briga. 
3 As Tabelinhas – tem coisa mais saudosista que as tabelinhas das Copas?
A gente assistia o sorteio dos grupos ansiosos, anotando tudo, apenas para resenhar com os amigos porque, alguns dias depois, desde as lojinhas do comércio local até às grandes marcas de bebidas, inundavam as ruas com as famosas tabelinhas com os grupos, datas e jogos da Copa onde, preenchíamos com caneta Bic ou Kilométrica. 
Eu sempre tinha três ou quatro tabelas de diferentes tamanhos e empresas fornecedoras e, inclusive, conheci um cara que preenchia uma de lápis com seus palpites e uma de caneta com os resultados reais. Não acertava quase nada. 
E já que o assunto é saudades, lembrei de duas coisas que eu gostava muito, sinto saudades mas, não tem nada a ver com Copa do Mundo: gincanas e cartões de Natal. 
As gincanas, para quem não sabe, eram competições onde as pessoas montavam equipes e cumpriam tarefas, elaboradas pelos organizadores, que valiam pontos. 
A equipe que mais acumulasse pontos era campeã. 
No auge, cheguei a participar de uma equipe que contava com cento e vinte pessoas. 
Ao final do segundo dia de competições, os moradores do bairro se aglomeravam para celebrar o resultado da peleja e comemorar ao som de atrações musicais que se apresentavam em cima de trios elétricos.
E os Cartões de Natal... Raramente vistos hoje em dia, eram a maior de todas as tradições da época. Eram lindos cartões, simples ou duplos, com ou sem musiquinhas, lindamente decorados, normalmente com detalhes dourados, onde as pessoas escreviam felicitações e mensagens de esperança para o ano que se aproximava. 
Eles podiam ser trocados entre as pessoas ou incluídos nas embalagens de presentes. 
Eu, como era meio tímido e, em certa época andava arrastando asas para uma galega linda chamada Vânia, resolvi criar uma nova modalidade de mensagens em cartões natalinos: a paquera.
 E, após comprar um musical mais belo que encontrei no comércio, escrevi meus mais românticos pensamentos, caprichei na letra e, junto com um presente que não lembro mais qual foi, na véspera do Natal, logo pela manhã, o coloquei em um envelope rosa e, timidamente, entreguei para minha bela Vânia que, após ler, me presenteou com um sorriso. 
A noite, durante a confraternização, ela se aproximou e me entregou um outro cartão ao qual abri ansiosamente e, nele, li as seguintes palavras, escritas com suas letras delicadas:
- Obrigada por ser quem você é. Amei suas palavras e você até que é bonitinho mas, só quero sua amizade. 
Nem tudo eram flores mas, ao menos, posso dizer que fui pioneiro em uma nova tradição: tomar fora através de Cartão de Natal. 


sábado, 5 de novembro de 2022

O Supercandidato

O Supercandidato

Sei lá porque mas, um belo dia, o Superman resolveu se candidatar a Presidente do Brasil.
Durante a campanha, ele resolveu acompanhar de perto as opiniões dos eleitores, vestido de Clark Kent.
A primeira coisa que descobriu foi que, uma parte da população não achava de bom tom seu traje.
Puritanos ficaram horrorizados com aquela cueca por cima da calça: uma pouca vergonha!
Torcedores do Vitoria acharam sua roupa muito parecida com o uniforme do Bahia e, torcedores do Ceará, com a do Fortaleza.
Modernos modistas criticaram sua repetição de traje: parecia que não tinha mais nada para vestir!
A capa vermelha não foi bem aceita pela direita e os detalhes em amarelo fizeram a esquerda achar que ele era um direitista disfarçado.
Para piorar, o traje de seu concorrente, o Homem de Ferro, trazia o vermelho e o amarelo muito bem divididos, agradando assim, direitos e canhotos.
O Superman também teve que trocar de Vice: o povo não aprovou muito o Batman. Uns acharam ele muito sisudo e outros desconfiaram de um sujeito que só anda de mascara.
O concorrente, tinha como Vice um cadeirante, o Professor Xavier! Ora, uma pessoa com deficiência e, além de tudo, professor... Isso sim era inclusão!
O Superman tentou filiar a Tempestade dos X-Men como sua Vice afinal, uma mulher negra de origens africanas era ainda mais inclusivo porém, ela não aceitou.
Acabou por se contentar com o Aquaman que, ao menos era defensor da causa dos oceanos.
O fato dele ser um alienígena também não pegou bem: era como se fosse colocar um treinador estrangeiro para dirigir a Seleção Brasileira... Um verdadeiro absurdo!
O concorrente não era brasileiro mas, ao menos era deste planeta e se chamava Antônio Stark! Os únicos nomes mais brasileiros que Antônio são José e Joao!
Por falar em nome, feministas questionaram “esse negocio de Super-Homem”. Como assim? Que denominação mais machista!
O Superman teve também que se afastar da Liga da Justiça pois, a equipe estava sendo cancelada por, além de não ter nenhum negro na formação principal, a única mulher era uma princesa vinda da elite rica de uma ilha de milionárias.
o Homem de Ferro até tinha uma situação parecida com Os Vingadores mas, começou a fazer varias aparições públicas com os X-Men e andar com os excluídos, alavancou seus números em pesquisas recentes.
Apesar do Aquaman, ambientalistas se posicionaram contra a candidatura do Superman por causa da sua fraqueza com a kriptonita.
- Como confiar em um cara que tem alergia a uma coisa natural e verde? – questionavam.
Defensores da Cannabis engrossaram o coro.
Porem, depois que descobriram no Wikipédia que aquele troço era radiativo, esqueceram o assunto.
Defensores da cannabis esqueceram também.
O movimento LGBTQIA+ adorou suas botas, enquanto que os religiosos a acharam meio feminina.
Enfim, o Superman não conseguiu votos nem para ir ao segundo turno.
Nenhum dos dois candidatos metálicos venceu, na verdade. Nem o  Homem de Ferro e nem o Homem de Aço.
O vencedor foi o Homem Aranha, candidato que veio da pobreza, do desemprego e que venceu na vida através do esforço próprio. Além disso, era um excelente influenciador digital pois, vivia tirando fotos e fazendo filmagens de si mesmo para as redes sociais.
Não tinha cuecas sobre as calcas, não usava uma armadura dourada e chamativa e, até podia usar um traje vermelho e azul que os torcedores do Vitoria e do Ceara não gostavam mas, teve a sensatez de colocar um pouco de preto na roupa, o que agradou a gregos e baianos.
Mas, sua candidatura também está em xeque pois, descobriram que seu vice, um obscuro herói chamado Besouro Azul, era na verdade um empresário falido.
Como confiar o destino do pais a um pobretão associado a um empresário falido? – diziam os opositores – Se não acertaram a própria vida, como vão consertar o pais?
Um processo de impeachment já foi encaminhado ao congresso e será analisado pelo Doutor Destino, um parlamentar ambicioso e defensor ferrenho da ditadura.

Felicitações

A primeira mensagem chegou antes das sete da manhã.  - Felicidades, minha amiga! Que dure para sempre! Como a Almerinda sempre foi meio desc...