Olha, eu não gosto de política.
Esse negócio de um bando de gente me abraçando na rua, umas mulheres e uns meninos me entupindo de papel, não me agrada não.
E não adianta me dizer que o nome daqueles papeizinhos é santinho.
Porque eu me recuso a chamar de santinho um troço que vem com a cara de uns demônios que estão alí sorrindo, de forma bem cínica, com a clara intenção de melhorar de vida as minhas custas. Santinho é meu Senhor do Bomfim e o Padim Ciço dos cearenses.
Passei minha infância sendo atormentado por aqueles carros com o som nas alturas, tocando aquelas músicas medonhas, passando toda hora em minha rua. Pense no ódio que me dava quando eu me pegava cantando aquelas agressões ao bom gosto, porque já estavam grudadas no juízo de tanto repetirem o tempo todo.
Pelo menos isso tomaram vergonha na cara e pararam de fazer.
Agora o inferno é nas redes sociais.
Vou te contar uma coisa: o que tem me aparecido de fuça que nunca vi em minha vida, mandando convite de amizade, é uma coisa que não dá para entender. Nem aquele alemão lá, o tal do Frodo, saberia explicar.
Como? Frodo é personagem de filme? E como é o nome do sujeito lá que explica tudo? Froide? Então pronto.
Chama o Froide para explicar porque eu não consigo.
Bom, voltando ao desgosto da política, lembrei que ainda tem um troço pior que esse bando de desconhecidos me mandando convites de amizade em redes sociais: os conhecidos que nem um bom dia me dão e que, de repente, não só aparecem na internet como me param na rua para perguntar se já tenho candidato e se não quero apoiar o diabo do cidadão ou cidadã, para não me acusarem de machismo, que eles apoiam e eu nem sei de que buraco saiu.
E as passeatas? Ave Maria!
Uma vez, num dia de folga, eu estava dormindo de tarde e caí da cama de susto quando uma dessas passou com um locutor fanho com o microfone parecendo um trio elétrico e soltando foguetes pela rua.
Vou te dizer: não sou Lampião mas, saí na janela furioso para encarar aquela multidão que, provavelmente, estava passando por alí.
Quando saio, era um diacho com uma caixa de som em uma bicicleta, meia dúzia de malucos atrás e um carro de mão cheio de foguetes sendo empurrado por um rapaz que, todos sabem, faz qualquer negócio por uma garrafinha de cachaça. Eu juro que não sabia se chorava ou ria, se sentia raiva ou pena daquilo que estava vendo.
Dia de eleição é outro inferno. Cheio de gente bêbada, suada e fedorenta na rua, parecendo Carnaval, querendo me abraçar. Emporcalham a cidade toda com os malditos papéis, com latas de cerveja, copos descartáveis, fraldas de crianças e, até camisinhas já vi pelo chão. Uma imundice.
E o circo de horrores é tão grande que certa vez vi um gari, que é quem tem que limpar essa porcaria toda no outro dia, jogando um monte de “santinhos” para cima, igual Silvio Santos fazia com as cartas em seus programas de televisão para no dia seguinte, com a cara descarada de ressaca, estar reclamando que o povo é mal-educado e suja a rua toda para ele ter que limpar.
Olha, se existem três ocasiões em que o povo perde totalmente o senso de civilidade são no Carnaval, estádio de futebol em dia de final e, em época de eleições, principalmente para vereador. Porque aí é o teu vizinho se candidatando, a broaca da tua sogra te pedindo voto, o safado do teu cunhado perguntando se você não conhece nenhum candidato para comprar o voto dele, e por aí vai. Porque, para vereador só ganha quem já tem dinheiro mas, todo pobre quer ser candidato. Em minha rede social, por exemplo, tenho bem mais candidatos que amigos. Tem até um que fui no velório recentemente, que está lá como candidato a vereador.
Deve ser pelo Partido da Funerária Brasileira.
Mas, minha filha disse que, quem não gosta de política é ignorante e bom sujeito não é e, como não sou ruim da cabeça e nem doente do pé, estou aqui para pedir voto para o meu compadre, Alessandro Bulcão, rapaz direito, honesto, feinho que só ele, mas com um bom coração.
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